O jornalista alemão Hubert Seipel, considerado um dos maiores especialistas alemães em temas relacionados à Rússia, teria recebido ao menos 600 mil euros (R$ 3,1 milhões) em pagamentos de empresas ligadas ao Kremlin, segundo reportagens divulgadas nesta terça-feira (14/11) pela emissora pública alemã ZDF, a revista Der Spiegel e o jornal britânico The Guardian.
As acusações contra Seipel estão entre as revelações feitas nesta terça-feira pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) juntamente com o portal alemão Paper Trail Media, que tiveram acesso a 3,6 milhões de documentos confidenciais de empresas de serviços financeiros offshore sediadas no Chipre.
Segundo as reportagens, Seipel, que escreveu livros e produziu documentários para a emissora alemã NDR sobre a Rússia e entrevistou o presidente russo, Vladimir Putin, teria tido parte de seu trabalho financiado por uma empresa cipriota ligada ao oligarca russo Alexei Mordashov.
O alemão teria sido pago em dinheiro para escrever dois livros sobre a ascensão de Putin ao poder.
O caso é um dos primeiros a associar um jornalista ocidental de grande influência com pagamentos que podem ser vistos como iniciativas de atores pró-Putin para assegurar uma cobertura favorável ao líder russo na imprensa internacional.
Seipel é um dos poucos jornalistas fora da Rússia a manter contatos diretos e regulares com Putin. Ele próprio afirma ter se encontrado com o presidente russo quase 100 vezes.
O oligarca Mordashov, próximo a Putin, é proprietário da siderúrgica Severstal. Ele se tornou alvo de sanções impostas pelos Estados Unidos, União Europeia (UE) e Reino Unido após a invasão russa da Ucrânia.
O jornalista reconheceu ter recebido pagamentos de contas associadas a Mordashov, mas não confirmou o valor recebido. No entanto, os documentos revelados pelo ICIJ contém detalhes de pagamentos que somam 600 mil euros.
Seipel afirmou que o apoio financeiro recebido por meio de Mordashov estava "relacionado exclusivamente aos projetos dos livros". Ele assegura que mantinha uma postura imparcial. "Eu sempre estabeleço limites legais claros que garantam a minha independência", afirmou, citado pelo The Guardian.
Os documentos e o próprio relato de Seipel sugerem que os pagamentos estariam associados à biografia escrita por ele em 2015 intitulada Putin: Visões internas do poder, e sua obra de 2021 O poder de Putin: Porque a Europa precisa da Rússia. Os dois livros foram escritos originalmente em alemão.
A emissora pública alemã NDR afirmou nesta terça-feira que avalia tomar ações legais contra Seipel. "Suspeitamos que nós – e, portanto, o nosso público – fomos propositalmente enganados", afirmou o presidente da NDR, Joachim Knuth.
Ele disse que a emissora enxerga "um relevante conflito de interesses" que coloca em dúvida a independência jornalística de Seipel. O jornalista produziu para a emissora um documentário sobre Putin em 2012, além de gravar uma entrevista exclusiva com o líder russo dois anos mais tarde.
rc (AFP, ots)