O governador reeleito do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB) defendeu nesta sexta-feira (4) que seu partido faça uma oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "com muita responsabilidade e abertura ao diálogo". Na avaliação dele, "não é o caso de uma adesão".
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, o tucano salientou que a postura do partido, acima de tudo, deve ajudar na sustentação da democracia. "Há que se dar tempo para que se cicatrizem as feridas. Então, as manifestações que estamos vendo agora são descabidas. Aquelas que bloqueiam estradas, intoleráveis", disse.
"Mesmo a manifestação pacífica, que democraticamente deve ser aceita, mas até ela é questionável. Afinal, o que pedem essas manifestações? Estão pedindo golpe", pontua.
ICMS
Leite quer negociar uma compensação para a redução do ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias) dos combustíveis e outros produtos. Ele entende que sem uma alternativa os Estados terão dificuldades para custear os serviços públicos. "Todos nós desejamos impostos reduzidos, mas também desejamos segurança, saúde, entre outros investimentos que o governo precisa fazer", afirma.
Leite deixa claro que o congelamento do ICMS deve ser rediscutido. "Se há uma redução forçada, como houve pela decisão do Congresso Nacional, neste ano, no imposto sobre combustíveis, energia e telecomunicações, quem paga o preço sempre vai ser a população. Não paga o imposto, mas vai pagar um preço da precarização de serviços por parte do governo", justifica.
O governador reeleito criticou a medida do governo Jair Bolsonaro (PL). "Foi conveniente do ponto de vista eleitoral para o governo federal em redução de preços, mas depois o imposto de estabiliza ali e os preços continuam aumentando. Vai fazer o quê, reduzir de novo?", questiona. "Essa é uma das discussões que vai precisar ser feita com o novo governo, com o novo Congresso"
Leite afirma que o governo federal terá que propor uma alternativa. "Abatimento no pagamento da dívida dos Estados ou outras formas que o governo apresente possíveis de financiar serviços. A tabela do SUS não é reajustada há 20 anos. Isso significa necessidade de mais despesas do Estado e do município para pagar a Saúde. O governo não reajusta a tabela da merenda escolar há cinco anos e a defasagem é coberta pelos governos estaduais e municipais", explica.
PSDB na Oposição
Eduardo Leite deve assumir protagonismo em um PSDB reduzido, que perdeu espaço na política nacional. O partido viu nas urnas a sua maior derrota quatro anos depois. Somente na Câmara, nesta eleição, o número de parlamentares despencou de 22 para 13 — uma queda de 41%. No Senado, a bancada terá dois representantes a menos — caiu de 6 para quatro.
"O PSDB diminuiu seu tamanho no Congresso. Então, sua relevância, do ponto de vista dos votos, é menor. Ainda é um partido importante, considerando essa dispersão de forças no Congresso e a necessidade de o governo constituir maioria”, lembra.
Na semana que vem, Leite deve ir a Brasília conversar com lideranças, deputados, senadores, lideranças históricas do partido.
“Sei que tenho uma responsabilidade do ponto de vista partidário como governador, nas discussões de temas nacionais. Mas não é papel de governador fazer oposição ao governo federal. É trabalhar em defesa do interesse do Estado", diz.
"Entendo, olhando politicamente, que não é o caso de uma adesão ao governo. O PSDB tem uma visão programática, do ponto de vista de como a máquina deve se organizar, o Poder Público, de como a máquina administrativa deve funcionar, bem distinta da do Partido dos Trabalhadores. Mas, diante da atual situação de tensionamento da nossa democracia, dessa guerra política que tem significado ataque a instituições, há que se fazer uma oposição com muita responsabilidade", diz.
Liderança
Eduardo Leite deve assumir importante liderança no partido. Sem citar nomes, ele lembra do embate que teve com o ex-governador de São Paulo, João Dória (ex-PSDB), em que perdeu as prévias para disputar a Presidência da República.
Com o enfraquecimento do partido, Leite comemora a queda do protagonismo do PSDB paulista que perdeu a eleição no Estado. "Por contraditório que pareça - claro que o PSDB ter o governo de São Paulo é uma força para o partido, porque é extremamente importante do ponto de vista econômico e da população que tem -, mas também acabava sendo fraqueza. Nas últimas eleições, a própria discussão das prévias do partido, muitas das decisões acabaram passando muito mais por conta das aspirações de São Paulo e para São Paulo do que para uma discussão nacional efetivamente. Agora há uma descentralização", diz.
Leite é cotado para disputar a presidência da República em 2026. “Tecnicamente é fui reeleito, porque fui eleito na eleição passada e a Justiça Eleitoral considera dessa forma. Eu não posso cumprir um novo mandato ali na frente”, destaca.