Líder de Ruanda deve ser reeleito com 99% dos votos

No poder desde 1994, Paul Kagame, deve oficializar mais um mandato após pleito no qual adversários autorizados a concorrer não somaram nem 1% dos votos. ONGs acusam regime de reprimir mídia e oposição

Por Deutsche Welle

O líder Paul Kagame, que controla o governo de Ruanda desde 1994, lidera a apuração das eleições com 99,15% dos votos, de acordo com os resultados provisórios divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional (CNE), com quase 80% dos votos apurados.

De acordo com a contagem preliminar divulgada pela NEC no final da segunda-feira (15/07), os dois únicos candidatos que foram autorizados a concorrer com Kagame nas eleições presidenciais de 15 de julho não conseguiram, juntos, atingir 1% do total de votos. Outros candidatos críticos ao regime foram barrados.

Frank Habineza, 47 anos, candidato do Partido Verde Democrático de Ruanda (DGPR), obteve 0,53% dos votos, enquanto o jornalista e candidato independente Philippe Mpayimana, 54 anos, conseguiu apenas 0,32%.

Ambos os candidatos já foram autorizados a enfrentar Kagame nas eleições presidenciais de 2017, quando juntos obtiveram apenas 1,2% do apoio popular.

"Caros ruandeses, acabamos de receber os resultados preliminares publicados pelo NEC. Gostaríamos de anunciar que os aceitamos e parabenizamos o vencedor, sua excelência Paul Kagame”, disse Habineza à mídia local, admitindo a derrota.

O NEC tem até 20 de julho para publicar os resultados provisórios completos e até 27 de julho para divulgar os resultados finais que, ao que tudo indica, devem permitir que o presidente seja reeleito para um quarto mandato de cinco anos.

Não há surpresa

A liderança de Kagame na corrida presidencial não é nenhuma surpresa, já que o líder de 66 anos da Frente Patriótica de Ruanda (RPF) venceu com mais de 90% as três eleições que disputou até agora (2003, 2010 e 2017).

Seu partido lidera o país desde que assumiu o poder em 1994, como um grupo rebelde após derrubar o governo extremista hutu que desencadeou o genocídio daquele ano, no qual cerca de 800 mil tutsis e hutus moderados foram mortos. Kagame é nominalmente presidente desde 2000, mas na prática já era o homem forte do governo desde 1994, quando passou a ocupar os postos de ministro da Defesa e vice-presidente.

Kagame também ganhou popularidade ao reconstruir a economia destruída pelo genocídio. Além disso, foram construídas estradas e hospitais, e o país também fez progressos constantes nas áreas de educação e saúde. Muitos políticos africanos e ocidentais citam Ruanda como um exemplo de desenvolvimento bem-sucedido.

Acusações de repressão à oposicionistas

De uma população total de pouco mais de 13,2 milhões de habitantes, cerca de 9,5 milhões de eleitores registrados foram convocados para as urnas na segunda-feira, em um dia de eleição marcado por calma, longas filas e entusiasmo para exercer seu direito democrático entre os ruandeses, cerca de dois milhões dos quais deveriam fazê-lo pela primeira vez.

No entanto, dois oponentes, Victoire Ingabire e Diane Rwigara, que criticam fortemente o governo de Kagame, foram proibidos pelas autoridades eleitorais de participar das eleições.

Organizações de direitos humanos há anos acusam o governo de Kagame de reprimir a mídia e a oposição política. A Anistia Internacional (AI) denunciou "ameaças, detenções arbitrárias, acusações forjadas e assassinatos", além de desaparecimento de dissidentes, entre outras coisas.

O país também enfrenta acusações no exterior de alimentar a instabilidade na vizinha República Democrática do Congo. Uma polêmica emenda constitucional de 2015 permite que Kagame possa, teoricamente, permanecer no cargo até 2034.

md (EFE, AFP)

Tópicos relacionados

Mais notícias

Carregar mais