Liga árabe aprova plano para Gaza

Plano de cúpula no Cairo rebate proposta de "Riviera do Oriente Médio" de Donald Trump

Liga árabe aprova plano para Gaza
Liga árabe no Egito
Egyptian Presidency/Handout via REUTERS

Uma cúpula árabe no Cairo, nesta terça-feira de Ramadã, aprovou um plano do Egito de reconstrução de Gaza para rebater a proposta de uma Riviera do Oriente Médio, com o êxodo de 2 milhões de palestinos para países árabes, feita pelo presidente Donald Trump.

O plano egípcio, com 112 páginas, requer um investimento total de 53 bilhões de dólares que serão pedidos aos países árabes, europeus e aos Estados Unidos em uma reunião de doadores que o Egito pretende promover em abril, ou “o mais rápido possível”..  

O início da reconstrução requer a instalação provisória da população de Gaza em contêineres, em sete locais dentro do território, enquanto serão removidos os escombros e munições não detonadas dos 15 meses de guerra. Depois de seis meses, 1,2 milhão de pessoas passarão a viver em casas pré-fabricadas e outras 200 mil em casas construídas em dois anos. Até 2027, os serviços públicos deverão estar restabelecidos. Todo o entulho recolhido será usado para uma expansão de Gaza para o mar, com portos de pesca e de navios, e um aeroporto. O final da obra está marcado para 2030.

O plano egípcio tem problemas. Israel não o aceita e está ameaçando recomeçar a guerra em Gaza em dez dias se o Hamas não trocar mais reféns por prisioneiros palestinos. Desde o domingo, por ordem do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, foi suspensa a entrada de caminhões com ajuda humanitária. As divisões internas persistem entre o Hamas e a Autoridade Palestina. Um ponto de discórdia é sobre quem vai administrar a segurança de Gaza. O Egito propõe uma força internacional, sem nomear os países que a formariam. Os Emirados Árabes Unidos querem o desarmamento imediato do Hamas, que consideram “uma ameaça existencial”.

O presidente egípcio Abdel-Fattah el-Sissi abriu a cúpula expressando a certeza de que o presidente Trump vai alcançar a paz para “a questão palestina”. O porta-voz do Hamas, ausente, mandou seu recado: “Nossa posição é clara — quaisquer planos para Gaza devem ser alcançados através de consenso nacional, e facilitaremos o processo”. Ele explicou que “o Hamas não precisa fazer parte dos arranjos, nem está interessado em se envolver neles”. O novo presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, pediu aos países árabes e à comunidade internacional uma “ação decisiva” contra os ataques israelenses em território sírio. Sobre o plano de uma Riviera do Oriente Médio, proposto por Trump, acrescentou: “É uma vergonhosa ameaça a todos os árabes”.

O presidente libanês, Joseph Aoun, também falou de Israel, ao comentar que “não pode haver paz sem a liberação de todo o território libanês”, numa referência a cinco locais no sul do Líbano de onde as forças israelenses não se retiraram, violando o acordo de cessar-fogo. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, reiterou sua rejeição a medidas israelenses que prejudiquem a soberania de um estado palestino. Ele pediu ao presidente Trump para apoiar a reconstrução de Gaza sem a retirada de seu povo. E anunciou dois novos cargos: o de vice-presidente da Palestina e a de vice-presidente da Organização de Libertação da Palestina.

A Europa, representada pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa, reafirmou a sua “rejeição categórica a quaisquer mudanças demográficas em Gaza”. O rei da Jordânia, Abdullah II, lembrou que a solução de dois estados “é o único caminho viável para a paz duradoura”. O secretário da ONU, António Guterres, disse que Gaza “não poderá se recuperar enquanto estiver sob ocupação israelense”. E para o Secretário-Geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, a cúpula do Cairo foi “um evento significativo na história da causa palestina”.

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