O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quarta-feira (02/08) o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) por não ter conseguido impedir a invasão da Ucrânia pela Rússia e não assumir "toda a sua responsabilidade" no conflito.
O mandatário alegou que o órgão não adota essa postura porque seus "membros permanentes" – China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia – "são os que fomentam as guerras" e "acreditam que a guerra só vai acabar quando uma das partes se impuser" à outra por meios militares.
"Essa guerra, se tivesse sido discutida no Conselho de Segurança da ONU, tivesse sido levada a sério e, se o Conselho de Segurança da ONU se comportasse como uma governança global, que respeitasse o coletivo dos países mundiais, possivelmente chegássemos à conclusão de que não tem que ter guerra. A Rússia não tem que invadir a Ucrânia", afirmou a jornalistas estrangeiros reunidos no Palácio do Planalto.
Citando ainda a crescente tensão em Israele no Oriente Médio, o petista declarou que o mundo "precisa de uma nova governança global" – o Brasil aspira, há muito, um assento no Conselho de Segurança, e o novo governo tem buscado fortalecer fóruns multilaterais alternativos à hegemonia do Ocidente, como o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e o G20.
"Hoje quase todos [os países] estão investindo em armas", criticou. "Não sabemos quanto estão investindo para acabar com a fome e a miséria no mundo."
Não-envolvimento na guerra é maior contribuição à paz na Ucrânia, diz Lula
Lula voltou a defender a neutralidade brasileira como solução para a paz na Ucrânia, destacando como contribuição maior nesse sentido o não-envolvimento na guerra – o Brasil condenou a invasão russa em resoluções na ONU, mas tem se negado a ir além disso fornecendo, por exemplo, armas a Kiev ou endossando medidas mais duras contra Moscou. No passado, gestos de Lula também suscitaram dúvidas sobre um eventual viés pró-Kremlin na política externa brasileira.
O petista, porém, diz ver indisposição tanto do lado dos russos quanto dos ucranianos para negociar a paz.
A invasão em larga escala da Ucrânia, deflagrada pela Rússia em fevereiro do ano passado em violação ao direito internacional, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A pedido da Ucrânia, países do Ocidente têm apoiado militarmente o país e imposto sanções políticas e econômicas ao regime do presidente russo Vladimir Putin para pressionar pela saída de tropas do território ucraniano.
Lula defende mais países no Brics
Lula também se manifestou favorável à entrada de novos membros no Brics – citando nominalmente Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Argentina –, disse que o grupo deve ser mais generoso que o Fundo Monetário Internacional ao apoiar o desenvolvimento de países mais pobres, e voltou a defender uma moeda própria para o comércio no bloco.
"Por que o Brasil precisa de dólar para fazer comércio com a China? A gente pode fazer na nossa moeda. Por que o Brasil precisa de dólar para fazer comércio com a Argentina? A gente pode fazer nas nossas moedas."
O Brics fará sua reunião de cúpula de 22 a 24 de agosto em Johannesburgo, África do Sul. O encontro deve acontecer em um contexto onde China e Rússia, desprestigiadas pelo Ocidente, tentam expandir sua zona de influência política e econômica sobre países em desenvolvimento. Putin, que é alvo de um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional, deve participar do evento apenas digitalmente.
Cerca de 20 países fizeram pedidos formais de adesão ao Brics, segundo o Itamaraty. Conforme Lula, é possível que já em Johannesburgo seja tomada uma decisão sobre quais novos países poderão se juntar ao bloco – cenário, porém, que alguns diplomatas brasileiros enxergam como preocupante diante do risco de perda de influência do Brasil no fórum, informou a agência de notícias Reuters.
Ação política conjunta entre países da Amazônia
Lula também comunicou planos para a assinatura, durante a Cúpula da Amazônia, a ser realizada em 8 e 9 de agosto em Belém do Pará, de um documento conjunto pelos oito presidentes dos países da região: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
Será a primeira vez desde 2009 que o grupo se reúne para discutir políticas em prol da região amazônica.
O documento conjunto deve ser levado à COP28, nos Emirados Árabes Unidos, em novembro, para pressionar pelo financiamento internacional da proteção do bioma.
"Temos de produzir pela primeira vez uma ideia de que o mundo precisa não apenas admirar, mas ajudar", declarou. "O mundo deve nos ajudar a preservar a Amazônia e desenvolvê-la."
Lula também prometeu apoiar os países africanos em áreas como educação, agricultura e tecnologia – citando, concretamente, vagas em universidades, compartilhamento de conhecimento agropecuário e apoio na produção de medicamentos.
Na segunda quinzena de agosto, o presidente também deve visitar, além da África do Sul, São Tomé e Príncipe e Angola.
ra (Lusa, EFE, AP, AFP)