O endividamento caiu, mas mais da metade dos bares e restaurantes da cidade de São Paulo ainda opera no negativo.
No centro da cidade, um dos nomes mais tradicionais do ramo luta para permanecer aberto.
Circular pelos 160 metros da rua Avanhandava, entre as ruas Martinho Prado e Martins Fontes, dá a impressão de que o centro da capital paulista continua vivo, mesmo com a degradação trazida pela pandemia do novo coronavírus.
As calçadas estão limpas. As plantas dos jardins, podadas e saudáveis. No fim de todas as tardes, as luzes são acessas e o famoso chafariz com mosaicos coloridos está sempre ligado.
Walter Mancini afirma que o esforço da família dele em revitalizar a área nos anos 70 o faz manter o cuidado com o quarteirão, mesmo com o dinheiro curto.
“Não vou fechar meus restaurantes. Eu continuo cuidando da rua, com todas as dívidas que eu tenho. Tenho um jardineiro aqui, e eu digo: ‘Cuide das plantas, regue as plantas, deixe a rua bonita’”, afirmou. “As pessoas têm que chegar e têm que encontrar vida,”
O empresário de 79 anos é dono de cinco restaurantes nesse trecho da rua Avanhandava - o mais famoso é o Famiglia Mancini, especializado em culinária italiana.
Walter contou que nem as décadas de tradição impediram que ele sentisse o baque causado pelo fechamento das atividades durante a pandemia. Para manter todos os estabelecimentos e não demitir funcionários, ele adquiriu empréstimos no banco que somam R$ 9 milhões.
“Eu fui buscando crédito, porque minha vida está na Avanhandava. A dívida estacionou, e por que ela estacionou? Porque ampliou o horário de trabalho. Fui contrair a dívida quanto eu estava fechado. Não trabalhava, não trabalhava. Tinha que manter funcionário”, descreveu.
O endividamento é a realidade de mais da metade dos donos de bares e restaurantes de São Paulo. A boa notícia é que esse número vem caindo desde o começo da flexibilização das atividades.
Segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), os que operam no prejuízo eram 79% em abril, índice que foi para 56% em junho. Mas 64% ainda têm contas em atraso.
Walter Mancini afirma que os clientes começaram a voltar com uma nova rotina. “Eu não tenho o público do almoço, ele é muito escasso devido ao home office. Não ter o cliente durante o dia, eu acho que puxa ele para a noite. As pessoas começam a chegar nos restaurantes um pouco mais cedo – ele termina o home office mais cedo e vem mais cedo”, analisou.
Nesta semana, o governo de São Paulo pode anunciar novas permissões para o setor. A última mudança ampliou o horário de atendimento para até 23h e a capacidade para 60% do público.