Primeiro ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta credita ao ex-chefe a marca dos 300 mil mortos no Brasil por conta da pandemia de covid-19, que segue em seu momento mais grave. Segundo o ex-ministro, a postura do presidente os “afastam diametralmente” desde sua saída da pasta, em abril de 2020.
“Hoje, 300 mil cadáveres me separam de Bolsonaro. Agora, as ofensas à democracia, às instituições, ao estado de direito e democrático se somam a isso”, analisou Mandetta ao Ponto a Ponto, da BandNews TV, em entrevista para a jornalista Mônica Bergamo e o cientista político Antônio Lavareda que foi ao ar na noite desta quarta-feira (24). Veja a entrevista na íntegra acima.
Mandetta acredita que os sinais que apontam pequenas mudanças de postura de Bolsonaro na condução da crise causada pelo coronavírus, desde o uso de máscaras em alguns eventos públicos até a troca no comando da Saúde e a busca por mais vacinas são frutos das próprias decisões erradas do passado, e que ele só estaria tentando melhorar sua imagem perante parte da população.
“A esperança de todos nós de ele tomar uma medida e liberar esse processo de maneira correta não nascerá de ato de respeito a vida, de coração. Ele está correndo atrás de danos à sua imagem pela condução desastrosa. Ela não nasce do chamamento de quem tem amor à vida, e aí você organiza a economia, o impacto na sociedade, a crise na educação”, opinou.
O ex-ministro credita parte do relaxamento dos brasileiros após a primeira onda da doença com o descaso no planejamento para o combate ao vírus, exaltando a preparação da pasta durante sua gestão.
“Eles abandonaram tudo [diretrizes sob sua gestão], fruto de uma decisão do governo. Esse despreparo com medicamentos, com oxigênio, com equipes, com tudo foram oito meses de descaso com o planejamento e monitoramento. Nós estamos colhendo frutos daquela passagem da primeira onda, que se não foi satisfatória, pelo menos ela foi de menor impacto. E se continuar desorganizado, vão colocar a culpa em uma cepa ou em outra coisa, mas é a mesma doença, com a sociedade completamente fragmentada”, disse.
Para ele, o SUS deve se aproveitar da crise para se informatizar e investir em tecnologia, como as vacinas feitas com modificação de RNA, que podem ajudar no combate a doenças sazonais do País, como dengue e leishmaniose, por exemplo.
Mandetta desconversa sobre candidatura em 2022
Crítico do quadro de polarização política que se apresenta após Lula ter, neste momento, reavido seus direitos políticos após decisão do STF e se colocar como oposição a Bolsonaro, Mandetta desconversou sobre sua vontade de uma candidatura presidencial em 2022 ou mesmo sobre possíveis nomes que ele pudesse se alinhar para compor uma chapa.
“Não existe ainda a candidatura, e falar no campo das utopias pode tornar esse sonho a ser realizado praticamente impossível. Se a gente chega e fala assim: ‘O meu desenho é esse’. Porque não vai ter a minha preferência. Nem sei se eu serei parte da preferência de alguém”, desconversou.
Porém, falou em “juntar pedaços de ossos quebrados”, fazendo analogia à ortopedia, especialidade na qual o ex-ministro é especialista. Por isso, prefere esperar para falar em nomes alinhados mais ao centro.
Ele vê naturalidade em apoio de setores de seu partido, o DEM, ao governo Bolsonaro, e vê “todos os partidos fragmentados”, mesmo os que compõem sua base. E vê espaços para compor uma “terceira via”, alternativa à polarização.
“O caminho dos extremos é um caminho falido, e essas roupas não nos servem mais”, ponderou, dizendo que não quer pensar no “pesadelo” de escolher entre Lula e Bolsonaro, pregando união do restante da sociedade.
Elogios à Lava Jato e Moro
Mandetta foi crítico às decisões recentes do STF, que anularam as condenações da operação ao ex-presidente Lula e que decidiram pela suspeição do ex-juiz Sergio Moro no julgamento do petista. Para ele, o trabalho da operação sob “ataque” e sendo abafado. Por isso, ele acha importante que o Judiciário faça reflexões e dialogue com a sociedade para explicar suas decisões.
“Ela [a Justiça] terá que se pronunciar, senão isso vai pairar nas eleições sempre falando: ‘Mas afinal de contas, aquilo [crimes de corrução] existiu ou não existiu? Então, a prisão foi injusta?’ Então ela vai ser pauta na [eleição] de 22, na de 26, vai ser pauta sempre”, indagou, temendo que a volta à estaca zero dos casos possa prescrever supostos crimes cometidos.
Nesse cenário, ele fez diversos elogios ao ex-magistrado, mas não falou de uma agenda com ele de olho em 2022.
“Acho que o Moro também tem, na sua biografia, vontade de acertar. Posso não concordar com os caminhos que ele fez, sair da magistratura, entrar na vida pública. Pode ser até uma coisa que ele poderia repensar se faria duas vezes ou não”, analisou.