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Manifestantes e políticos de ultradireita invadem bases israelenses

Detenção de 9 militares suspeitos de torturar prisioneiro palestino provocou fúria entre a extrema direita israelense, levando grupo, que incluía ministro e deputados, a invadir bases para forçar soltura dos soldados.

Por Deutsche Welle

Uma investigação lançada pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) para apurar suspeitas de tortura contra um prisioneiro palestino provocou uma reação furiosa entre a extrema direita israelense. Nesta segunda-feira (29/07), uma multidão formada por ativistas e políticos ultranacionalistas invadiu duas bases do Exército para exigir a soltura de nove soldados que foram detidos pela polícia militar no âmbito do caso.

O primeiro alvo dos manifestantes foi a base de Sde Teiman, no sul do país, que vem sendo usada como prisão para palestinos capturados na guerra que o país trava na Faixa de Gaza. Nos últimos meses, o local vem sendo alvo de denúncias de abusos a prisioneiros por parte de ativistas e ONGs.

A multidão começou a se concentrar nas cercanias da base após a imprensa do país divulgar que soldados que serviam no local haviam sido detidos pela polícia militar. Os militares suspeitos, todos reservistas do Exército, tentaram resistir à prisão. Um soldado do local, inconformado com as detenções, chegou a divulgar um vídeo nas redes sociais batendo boca com os policiais militares.

Foi o estopim para a invasão. Vídeos registraram vários membros de uma multidão pulando as cercas da base ou forçando os portões. Entre os invasores, segundo o jornal Haaretz, estavam dois deputados e o ministro do Patrimônio Judaico, Amichai Eliyahu, que em novembro do ano passado ficou conhecido internacionalmente ao sugerir que Gaza deveria ser alvo de um ataque nuclear.

A multidão em Sde Teiman acabou sendo dispersada por guardas da base.

Horas depois, no entanto, foi a vez de um segundo grupo de centenas de manifestantes, alguns usando máscaras, invadir a base de Beit Lid, na região central do país, onde estão sediados os tribunais militares e a sede da polícia militar de Israel - e para onde os suspeitos foram levados para interrogatório.

Vários manifestantes conseguiram entrar na sede do tribunal. O grupo, segundo o jornal Harretz, incluía pelo menos três deputados, entre eles um membro do Likud, o partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Vídeos registraram vários membros da multidão batendo boca com a advogada-geral militar, a general Yifat Tomer Yerushalm, responsável por fiscalizar a aplicação da lei nas Forças Armadas. "A advogada-geral militar é uma criminosa. O povo de Israel lutará contra inimigos de fora e inimigos de dentro", disse a deputada Limor Son Har-Melech, do partido Otzma Yehudit (Poder Judeu).

Netanyahu pede calma, mas membros do governo expressam apoio a soldados detidos

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse "condenar veementemente" as invasões das bases e pediu que a paz fosse restaurada imediatamente".

O ministro da Defesa, Yoav Gallant, por sua vez, disse que, embora tenha "total apreço pelos soldados que realizam a complexa e importante tarefa de prender os terroristas do Hamas", que as FDI "continuarão a agir de acordo com a lei", acrescentando que "a lei se aplica a todos, mesmo que estejam com raiva". Ele também disse que as invasões das bases prejudicam seriamente a democracia israelense e que "serve ao nosso inimigo em tempos de guerra".

No entanto, outros membros do governo prefeririam se solidarizar com os soldados detidos.

O ministro da Justiça, Yariv Levin, que é membro do Otzma Yehudit, disse que havia ficado chocado ao ver imagens de "soldados sendo presos" e que era "impossível aceitar isso". O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, também condenou a detenção dos soldados, classificando a investigação como "nada menos que vergonhosa".

"Recomendo ao ministro da defesa, ao chefe das FDI e às autoridades militares que apoiem os combatentes e aprendam com o serviço penitenciário - o tratamento leve aos terroristas acabou. Os soldados precisam ter todo o nosso apoio", acrescentou Ben-Gvir.

A ministra dos Transportes, Miri Regev, do Likud, escreveu no X que "prender nossos soldados que estão defendendo o país é uma medida perigosa em tempos de guerra". Yair Netanyahu, filho do primeiro-ministro Netanyahu, escreveu após a prisão dos soldados que a investigação é "criminosa e antissionista".

O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, por sua vez, disse que protestos contra as detenções eram "justificaveis", mas alertou contra a invasão de bases.

Líder da oposição denuncia "fascistas"

O líder da oposição, Yair Lapid, condenou a invasão das bases e cobrou que o governo demita os ministros envolvidos: "Não estamos à beira do abismo, estamos no abismo”, declarou Lapid.

"Todas as linhas vermelhas foram ultrapassadas hoje. Os parlamentares e ministros que participaram da invasão de milícias violentas em bases militares constituem uma mensagem para o Estado de Israel: eles acabaram com a democracia, acabaram com o estado de direito. Um grupo fascista perigoso ameaça a existência do Estado de Israel. (...) Se não os enfrentarmos, o país desmoronará. Se Netanyahu não demitir os ministros que participaram desses ataques violentos hoje, ele não está apto a representar o Estado de Israel", finalizou Lapid.

Denúncias de tortura

Não foram fornecidos detalhes sobre as alegações de tortura que envolvem os noves soldados detidos, mas um advogado que representa três dos militares disse que eles estavam sendo interrogados por suspeita de abuso sexual grave de um prisioneiro palestino, que seria um combatente do grupo terrorista Hamas.

Vários meios de comunicação israelenses informaram que o prisioneiro havia sido hospitalizado e passado por uma cirurgia após sofrer uma lesão grave no ânus três semanas atrás.

O advogado dos militares, Nati Rom, que faz parte do Honenu, um grupo de assistência jurídica de direita, disse que seus clientes negam todas as acusações. Os outros reservistas detidos na segunda-feira estão sendo representados por um defensor público do Exército. Um décimo soldado com ordem de detenção ainda estaria sendo procurado pela polícia militar.

Nos últimos meses, uma investigação da agência Associated Press e relatórios de grupos de direitos expuseram condições abismais e abusos nas instalações de Sde Teiman. Um relatório da Agência das Nações Unidas de Assistência e Obras para Refugiados da Palestina (UNRW, no início deste ano, também apontou que vários detentos alegaram ter sido submetidos a maus-tratos e abusos enquanto estavam sob custódia israelense, sem especificar a instalação.

A base de Sde Teiman também tem sido apelidada por ativistas e advogados de presos de "Abu Ghraib isralense", em referência à prisão dirigida por tropas americanas após a invasão do Iraque em 2003, e que se tornou infame após a divulgação de fotografias que atestavam a tortura sistemática de prisioneiros no local. Em março, o jornal Haaretz relatou que 27 palestinos capturados em Gaza desde o início do conflito já haviam morrido em Sde Teiman e outros campos ou "durante interrogatório em território israelense".

jps (ots)

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