Rabinovici: Contra os tarifaços, perde Trump

PIB norte-americano pode cair 200 bilhões de dólares durante o mandato de Trump; discurso de "proteção econômica" não se sustenta

Por Moises Rabinovici

Rabinovici: Contra os tarifaços, perde Trump
Donald Trump
Reuters

Canadenses e mexicanos adiaram por um mês o “tarifaço” ameaçado por Donald Trump. Mas não é o caso de festejar uma vitória. Ambos fizeram o que queria o governo americano: o reforço das fronteiras com os EUA com milhares de soldados.

Com a China é outro caso. Dez por cento de sobretaxa sobre produtos chineses não alteram o seu consumo nos EUA porque, comparado a similares americanos, ainda são mais baratos. O presidente Trump, negociador esperto, sabe que a sobretaxa aos vizinhos mexicanos e canadenses é, na verdade, um tiro no pé.  

Automóveis, combustíveis e alimentos sofrerão alta imediata, se aplicada a tarifa de 25%. E, mais adiante, já se pode avistar inflação e enfraquecimento do dólar, os dois efeitos colaterais apontados por especialistas. O PIB norte-americano pode cair 200 bilhões de dólares durante o mandato de Trump. Daí a conclusão de que o discurso de “proteção econômica” não se sustenta.  

“Numa guerra comercial, todos perdem”, diz um mantra de analistas como Sung Won Sohn, da Universidade Loyola Marymount, de Los Angeles. O México pode sofrer uma severa recessão e desvalorização de sua moeda, o peso. Sem contar com a antipatia crescente, já constatada no Canadá, contra Trump. Manifestações de boicote a produtos americanos foram registradas em várias cidades. A ministra canadense Mélanie Joly antecipa que os EUA passarão a depender do petróleo da Venezuela, onde já esteve um enviado especial americano, que tratou da devolução dos imigrantes venezuelanos e refugiados do regime do presidente Maduro, e voltou com seis prisioneiros norte-americanos libertados. Deixou aberta a porta do petróleo.

Daqui a 30 dias, a trégua concedida por Trump ao México e Canadá, poderá ser estendida, porque os Estados Unidos mais perdem do que ganham na guerra comercial com seus vizinhos. Que o Golfo do México seja rebatizado como Golfo da América, para consumo norte-americano, não há prejuízos para nenhum dos lados, a não ser para cartógrafos que quiserem aderir. Tomar o Canal do Panamá e a Groenlândia não será fácil. A China já anunciou sua retaliação à sobretaxa de 10%. E a Europa está se preparando para responder aos EUA, se for também atingida.

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