O escritor albanês Ismail Kadaré, autor de uma obra monumental sobre a tirania comunista de Enver Hoxha, morreu nesta segunda-feira (01/07) aos 88 anos de idade, informaram sua editora e o hospital.
Kadaré sucumbiu a um ataque cardíaco, informou o hospital de Tirana. Ele chegou "sem sinais de vida" e os médicos lhe fizeram uma massagem cardíaca, mas "ele morreu por volta das 6h40 GMT" (8h40 no horário local), informou o centro de saúde.
Nascido em 1936, em Arigirocastro, autor de numerosos romances, dramas e poemas traduzidos para 45 idiomas, foi acadêmico e um dos maiores escritores contemporâneos. Em diversas ocasiões foi candidato ao Prêmio Nobel por sua obra, centrada no totalitarismo que a Albânia viveu até ao início da década de 1990. A Albânia viveu durante décadas sob a ditadura de Enver Hoxha, um dos regimes mais fechados do mundo.
"O inferno comunista, como qualquer outro inferno, é sufocante", disse o escritor à agência de notícias AFP em uma de suas últimas entrevistas em outubro. "Mas, na literatura, ele se torna uma força vital, uma força que ajuda você a sobreviver, a superar a ditadura com a cabeça erguida", disse ele.
A literatura "me deu tudo o que tenho, foi o sentido da minha vida, me deu a coragem de resistir, a felicidade, a esperança de superar tudo", explicou ele de sua casa em Tirana, a capital albanesa.
Kandaré é autor de O jantar errado, O acidente, Uma questão de loucura, Vida, jogo e morte de Lul Mazrek. Seu livro Abril despedaçado, foi adaptado para o cinema em 2001, num filme dirigido por Walter Salles e estreado por Rodrigo Santoro.
Em 1990, após se manifestar a favor da democratização de seu país, seguiu para França, onde em 1996 foi admitido como membro da Academia Francesa de Ciências Morais e Política.
"A Albânia e os albaneses perderam hoje seu gênio literário, seu emancipador espiritual; os Balcãs, o poeta dos seus mitos; a Europa e o mundo, um dos mais destacados representantes da literatura moderna", declarou o presidente da Albânia, Bajram Begaj.
"Adeus, mestre", escreveu Pandeli Majko, ex-primeiro-ministro da Albânia, em uma reação na mídia social citada pelo jornal albanês Gazeta Shqiptare, acrescentando que "a tocha da arte de Kadaré iluminou o caminho da nação albanesa em direção ao Ocidente".
"Por muitas razões, a perda de Kadaré e sua ausência serão muito mais do que humanas", diz o político do Partido Socialista da Albânia (PSS).
md/cn (AFP, ots)