Preso desde 2021 na Rússia, Alexei Navalny, mais famoso nome da oposição ao regime de Vladimir Putin, foi sentenciado nesta sexta-feira (04/08), em um julgamento a portas fechadas, a mais 19 anos de prisão, desta vez por supostamente fundar e financiar uma organização terrorista e banalizar o nazismo.
Navalny, de 47 anos, já cumpre pena de 12 anos de reclusão por fraude e obstrução de justiça, dentre outras acusações.
O julgamento foi realizado na colônia penal de Melekhovo, presídio de segurança máxima a 260 quilômetros de Moscou, onde o ex-advogado está detido. A imprensa só pôde acompanhar a sessão pelo circuito interno de câmeras em uma sala separada.
O processo foi motivado pelo papel que Navalny desempenhou à frente do hoje extinto movimento político criado por ele na Rússia. Autoridades alegam que ele tentou desestabilizar organizações sociais e políticas a fim de provocar uma revolução. A procuradoria havia pedido sentença de 20 anos de reclusão.
Além de Navalny, um de seus ex-funcionários, Daniel Kholodny, de 25 anos, que atuava como técnico do canal de YouTube do ativista, também foi condenado a oito anos de prisão sob a acusação de atuar em uma organização extremista.
Apoiadores de Navalny veem na condenação uma farsa do Kremlin para mantê-lo longe da política – o governo russo nega e insiste que o assunto diz respeito apenas ao Judiciário.
UE e ONU criticam julgamento e falam em assédio a opositores
A União Europeia (UE) apontou motivação política na condenação e exigiu a libertação imediata de Navalny. Na Alemanha, a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, referiu-se à decisão como "pura injustiça". O ministério francês das Relações Exteriores também criticou o veredito "nos termos mais duros".
"As condições desiguais, fundamentos arbitrários e resultado indefensável desse julgamento são prova da perseguição judicial que o senhor Navalny sofreu, e da falta de respeito das autoridades russas pelo devido processo e pela legalidade", declarou uma porta-voz da pasta.
As críticas foram endossadas pelo Alto Comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos, Volker Türk, que se disse preocupado com o "assédio jurídico e instrumentalização da Justiça para fins políticos na Rússia".
Navalny disse que esperava sentença "stalinista"
No dia anterior ao julgamento, Navalny alertou apoiadores nas redes sociais de que enfrentaria uma sentença "stalinista".
Antes de tornar-se alvo das autoridades, o ativista ganhou fama nas redes sociais surfando na irritação de cidadãos russos com o Kremlin. Ele publicou investigações de corrupção que constrangeram Putin e outros altos funcionários do governo, fez campanha como candidato à Presidência e arrastou multidões às ruas do país.
Ativista quase morreu envenenado na Sibéria
Em agosto de 2020, na Sibéria, Navalny quase morreu envenenado por Novichok, uma substância neurotóxica desenvolvida pela antiga União Soviética, num atentado que o Ocidente atribuiu ao FSB, o serviço secreto russo.
Levado à Alemanha para tratamento, Navalny optou por voltar à Rússia em meados de 2021, apenas para ser imediatamente preso ao pôr os pés em Moscou, desencadeando alguns dos maiores protestos que a Rússia já testemunhou em décadas.
Taxado de extremista, o movimento anticorrupção liderado por Navalny foi encerrado. Seus principais aliados foram presos ou se exilaram no exterior.
Navalny denunciou Rússia por guerra na Ucrânia
O ex-advogado agora só é visto em vídeos de baixa resolução durante audiências judiciais realizadas na prisão de segurança máxima, mas continua criticando o Kremlin, agora pela invasão da Ucrânia.
A Rússia apertou o cerco sobre dissidentes desde a invasão em larga escala do território ucraniano, em fevereiro de 2022.
Apoiadores de Navalny relatam que ele tem sofrido perseguição na prisão e foi posto diversas vezes em solitária. Guardas teriam ainda sujeitado ele e outros presos a "tortura" ao forçá-los a ouvir discursos do presidente Putin.
ra/le (DW, Reuters)