O desafio de Bukele de atrair investimentos para El Salvador

Melhora em índices de segurança não se refletiu em capital estrangeiro investido no país. Criminalidade não é único fator levado em consideração por empresas internacionais na hora de fechar novos negócios.

Por Deutsche Welle

O governo do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, tem insistido que nos últimos anos o investimento estrangeiro aumentou no país. O próprio Bukele defende essa premissa em suas redes sociais. Os dados, entretanto, mostram outra realidade.

Bukele chegou ao poder em El Salvador em junho de 2019, sendo eleito no primeiro turno em fevereiro daquele ano, com um discurso anticorrupção, após uma ascensão fulminante, que fez dele o presidente mais jovem da história do país, com apenas 37 anos.

Agora, é favorito para vencer as próximas eleições, marcadas para o começo de fevereiro, após implementar com sucesso uma polêmica campanha de combate à violência, que incluiu a imposição de um estado de exceçãocom suspensão de direitos constitucionais dos cidadãos.

Em um ano, mais de 65 mil pessoas foram detidas, acusadas de pertencer a gangues ou de colaborar com elas – a polícia não precisa provar nada para prender, basta suspeitar. Organizações de defesa dos direitos humanos afirmam que entre os detidos estão milhares de inocentes e denunciam violações dos direitos humanos e enfraquecimento da democracia e do Estado de Direito.

A estratégia, que passou por cima de padrões democráticos, ajudou a diminuir a criminalidade. Em 2015, a taxa de homicídios no país era de 107 por 100 mil habitantes. Esse número caiu para 2,3 homicídios por 100 mil habitantes em 2023.

Entretanto, a redução da violência que assolava o país parece não se refletir nos números sobre investimentos estrangeiros. De acordo com o Banco Central de Reserva (BCR) – o banco central salvadorenho –, no terceiro trimestre de 2023, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) no país foi de 1,66% do PIB, um valor que está longe dos 7,56% de 2017, para não falar dos 17,96% registrados em 2007.

Estes números condizem com os do Banco Mundial sobre o IED em El Salvador, que mostram uma transição descendente, passando de 800 milhões de dólares em 2021 para um fluxo negativo, registrando menos 388 mil dólares em 2022.

Embora a tendência tenha sido invertida em 2023, com 262 milhões de dólares em IDE no primeiro semestre daquele ano, especialistas como o economista Otto Rodríguez sustentam que estes são números demasiado baixos para as expectativas do país. "Deveríamos ter cerca de 1 bilhão de dólares para aumentar o ritmo de crescimento", declarou o especialista ao jornal La Prensa Gráfica. É verdade que a segurança melhorou em El Salvador, mas também é um fato que as empresas não investem o suficiente.

O problema da segurança

A segurança tem sido precisamente um dos fatores que afetam os fracos números macroeconômicos salvadorenhos. Um país atolado na violência de gangues criminosas não é muito atraente para os investidores. A mudança radical que El Salvador viveu neste sentido faz com que alguns acreditem que é uma questão de tempo para que as grandes empresas internacionais se concentrem nas possibilidades oferecidas por um país com uma economia dolarizada.

Mas existem outros fatores. O economista Carlos Acevedo, ex-presidente do BCR, acredita que falta uma política estatal para atrair investimentos. "O compromisso do governo deve ser o de reativar a economia, e é preciso atrair investimentos sérios", disse ao jornal El Mundo, alertando que de outra forma será impossível levantar a economia do país.

Na avaliação dele, esse será o desafio de um eventual – e muito provável – novo mandato para Bukele após as eleições de fevereiro. Ele também destaca uma desvantagem de El Salvador: é um país caro em comparação com Guatemala e Honduras.

"Foi demonstrado nos últimos dois anos que a queda na criminalidade não implica em um aumento no investimento. Os homicídios diminuíram, mas o investimento estrangeiro não aumentou e, na verdade, diminuiu em relação aos dados históricos", disse à DW a economista salvadorenha e especialista em finanças públicas Tatiana Marroquín. "Foram feitas pesquisas sobre o que atrai o investimento estrangeiro, e há fatores como os custos de energia e transporte, além do perfil dos trabalhadores, que não é buscado por investidores", acrescenta.

Perspectiva pode mudar

O problema para os planos da Bukele é, portanto, o fato de que investidores não analisam apenas o número de homicídios em um país antes de investir. O Estado de direito, o sistema judiciário e a previsibilidade das normas e regulamentos são elementos analisados nesses cenários, assim como o risco do país, que, no caso de El Salvador, continua muito alto.

"Os últimos números do Conselho Monetário Centro-Americano mostram que El Salvador é o país da região com menos investimento estrangeiro no segundo trimestre de 2023, muito atrás de Guatemala, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá. Também devemos analisar que tipo de investimento estrangeiro estamos buscando", diz Marroquín, frisando não ser útil promover, por exemplo, "um tipo de turismo que desloca populações e não gera crescimento ou desenvolvimento".

A perspectiva, entretanto, pode mudar no futuro. O governo de El Salvador apresentou 200 projetos na Costa Rica que exigem investimento estrangeiro, e estão previstas iniciativas de desenvolvimento com empréstimos do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e contribuições de doadores estrangeiros.

Além disso, o turismo está em alta, a taxa de desemprego está em torno de 5% e a inflação, que em 2023 era de apenas 1,2%, está entre as mais baixas das Américas.

Autor: Diego Zúñiga

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