O que dizem programas de governo dos partidos alemães para as eleições

O que pretendem as maiores siglas que concorrem ao parlamento alemão? E quem são os candidatos à chefia de governo? Uma coisa parece certa: o partido vencedor não vai governar sozinho.

Por Deutsche Welle

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Raramente os partidos tiveram tão pouco tempo para uma campanha eleitoral como nas eleições parlamentares antecipadas de 23 de fevereiro na Alemanha. E raramente eles tiveram tão pouco tempo para escrever seus programas de governo, que são algo como a lista de desejos dos partidos.

Mas, se eles forem mesmo governar, isso só será possível numa coalizão. E coalizão significa compromisso, ou seja, fazer concessões às situações ideais descritas nos programas de governo.

Um detalhe logo chama a atenção: é surpreendente que os programas de governo não expliquem como os partidos pretendem financiar suas promessas, algumas das quais requerem bilhões de euros.

A Universidade de Hohenheim analisou os programas dos dez partidos que têm representração em todos os 16 estados da Alemanha. Os pesquisadores descobriram que esses programas são mais curtos do que o usual e difíceis de entender.

Termos técnicos, frases repetidas e palavras mirabolantes são encontrados com muita frequência. Segundo os pesquisadores, o programa de governo mais compreensível é o da aliança conservadora formada pelos partidos União Democrata Cristã e União Social Cristã (CDU/CSU), e o mais incompreensível, o da ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD).

A DW apresenta a seguir um resumo dos programas de governo dos sete partidos representados no Bundestag, o parlamento alemão. A ordem é baseada na força atual dos partidos, medida pelas pesquisas eleitorais.

Conservadores da CDU e CSU

O programa eleitoral conjunto da CDU e do partido conservador da Baviera, a CSU, é intitulado Mudança política para a Alemanha. O bloco CDU/CSU, do líder e candidato à chefia de governo Friedrich Merz, quer voltar ao poder. Ele é hoje a maior força da oposição. Seu programa é caracterizado por posições conservadoras, liberais e sociais-cristãs.

A imigração se tornou o tópico mais importante da campanha eleitoral. A aliança CDU/CSU quer limitar a imigração irregular. "Aceleraremos os procedimentos de refúgio e as repatriações", afirma o texto. O fortalecimento da economia é igualmente fundamental. A CDU/CSU promete aos empresários: "Reduziremos a carga tributária das empresas para um máximo de 25%". Os benefícios sociais devem ser revisados e possivelmente cortados. Mais dinheiro deverá ser disponibilizado para a defesa.

Ultradireitista AfD

Tempo para a Alemanha é o título do programa eleitoral da AfD, partido radical de direita. O tema da imigração é proeminente no programa.

O "paraíso dos refúgios na Alemanha" deve ser fechado, diz o texto. O termo "remigração" desempenha um papel importante no partido da líder e candidata a chanceler Alice Weidel. Fala-se em "devolução dos estrangeiros obrigados a deixarem o país para suas nações de origem". O fenômeno da "imigração em massa" deve ser revertido, e a naturalização deve ser dificultada. A AfD não quer mais participar da política europeia de refúgio. A sigla rejeita a UE em sua forma atual e quer uma "comunidade europeia econômica e de interesses". O marco alemão deve ser reintroduzido, e as sanções econômicas contra a Rússia devem ser canceladas.

Social-democratas, de Scholz

O Partido Social-Democrata (SPD) é otimista, apresentando logo um programa de governo, sob o lema Mais para você. Melhor para a Alemanha. Para os social-democratas, as questões sociais são o tema central. Sob o comando do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, o SPD quer que "a vida permaneça acessível – com um salário mínimo mais alto" e redução de impostos para aqueles que ganham pouco. Os cidadãos com renda muito alta devem pagar mais impostos e a economia deve ser fortalecida. O SPD também promete aposentadorias estáveis. Em termos de política de migração, o partido é a favor de procedimentos mais rápidos para concessão de refúgio. A sigla rejeita procedimentos de refúgio realizados fora da UE. O SPD quer continuar a apoiar a Ucrânia, mas não quer enviar mísseis de cruzeiro Taurus, de fabricação alemã, para o país.

Partido Verde

Crescer unidos é o nome do programa do Partido Verde. Os ambientalistas também o chamam a peça de "nosso programa de governo". O texto afirma: "Dizemos como podemos tornar a vida mais acessível, como podemos proteger a natureza e o clima. Como podemos fortalecer a economia e renovar nossa prosperidade de forma climaticamente neutra".

O ministro da Economia, Robert Habeck, está se concentrando em investir no futuro por meio de um "Fundo da Alemanha". O objetivo é reformar completamente a infraestrutura alemã, que se encontra em parte defasada. As moradias devem se tornar acessíveis e a mobilidade por transporte público mais barata. Assim como o SPD, os verdes também são a favor de cortes de impostos para pessoas de baixa e média renda e de um salário mínimo mais alto. O foco também está no clima e na energia. O partido quer expandir as energias renováveis e desativar as usinas elétricas movidas a carvão o mais rápido possível.

Socialistas do A Esquerda

Todos querem governar. Nós queremos mudar é o título do programa do partido A Esquerda. No subtítulo: Compartilhar riqueza. Reduzir preços. Uns para os outros. A legenda se estabeleceu no sistema partidário desde 2005, mas tem repetidamente tido dificuldade para atingir o limite de 5% para entrar no Bundestag. A Esquerda se vê como uma alternativa socialista crítica ao capitalismo. Em termos de política de imigração, é provavelmente o partido com o programa mais liberal: "Todas as pessoas devem ter os mesmos direitos e oportunidades, independentemente de seu passaporte e origem". Eles querem se engajar pelos mais pobres, custos mais baixos de eletricidade e calefação, um teto para os aluguéis e salários mais altos. As pessoas mais ricas devem ser mais tributadas. A Esquerda se vê como um "partido pacifista" e condena a guerra contra a Ucrânia como ilegal pelo direito internacional.

Liberais do FDP

"Tudo pode ser mudado" é o slogan dos pôsteres do Partido Liberal Democrático (FDP) em todo o país. E esse também é o título do programa eleitoral da sigla. Ao longo da história da República Federal da Alemanha, o FDP sempre foi o fiel da balança em coalizões, fazendo pender para um lado ou para o outro. Embora seu programa tenha mudado, o âmago liberal continua o mesmo, sob o comando do líder do partido, Christian Lindner: aliviar a carga sobre os cidadãos e as empresas, menos governo, menos burocracia, mais responsabilidade pessoal, mais oportunidades educacionais, uma economia forte e direitos civis. O FDP "não quer e não pode aceitar que a migração irregular ainda não esteja suficientemente sob controle" e "que os empregos e a prosperidade estejam em risco". Não está claro se o partido conseguirá voltar ao Bundestag, por ser incerto se a legenda alcançará a cota mínima de 5%.

Populistas de esquerda do BSW

Nosso país merece mais é o slogan do programa da Aliança Sahra Wagenknecht (BSW). O partido da co-líder Sahra Wagenknecht ainda é jovem e tem apenas alguns membros. O programa eleitoral da BSW deixa claro que a sigla é difícil de ser categorizada ideologicamente: tem política econômica e de saúde de esquerda com regras rígidas na política de asilo. "A imigração não é a solução para o problema da pobreza em nosso mundo", diz o programa, que afirma ser necessário que ela seja "limitada". Fala-se em "fluxos de refugiados" e que a BSW quer "acabar com a imigração descontrolada".

O primeiro ponto do programa é intitulado Paz. O programa tende a ser pró-Rússia e antiamericano. Os EUA são uma "superpotência em declínio", segundo o texto. Com relação à guerra da Rússia contra a Ucrânia, o programa afirma: "Não queremos que mais dinheiro dos contribuintes alemães seja usado para prolongar essa guerra sem sentido".

Autor: Volker Witting

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