Preso preventivamente nesta quarta-feira (09/08) sob suspeita de interferir ilegalmente na votação do segundo turno das eleições de 2022, o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques foi um dos subordinados mais fiéis ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tendo comandado operações de fiscalização do transporte público de eleitores no dia da votação decisiva para a eleição à Presidência da República.
Naquela ocasião, a ação da PRF se concentrou principalmente no Nordeste, região onde o rival do ex-presidente, o petista Luiz Inácio Lula da Silva, venceu por quase 70% dos votos. Por causa das blitze, Vasques chegou a ser enquadrado pelo então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que havia, ainda no dia anterior, vetado ações de fiscalização do transporte público de passageiros a fim de assegurar o direito ao voto dos eleitores mais pobres.
A PF alega que a ação da PRF teria sido planejada ao longo de um mês inteiro.
Números obtidos via Lei de Acesso à Informação pelo jornal O Globo dão conta de que foram mais de 2.887 veículos parados no Nordeste pela PRF – um de cada três inspecionados pela corporação no dia do segundo turno, apesar de a região concentrar apenas 17,6% da frota do país.
A ação da PRF, porém, não teria afetado o comparecimento do eleitorado às urnas, conforme informaria Moraes mais tarde.
O episódio também está sob análise da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os atos golpistas.
Além de Vasques, a PF também cumpriu mandados de busca e apreensão contra diretores da PRF que foram subordinados a ele.
Que crimes Silvinei Vasques é suspeito de ter cometido?
O ex-diretor-geral da PRF é investigado pelo crime de prevaricação, quando agentes públicos faltam com o seu dever de servir ao interesse público para, movidos por interesses próprios, deixar de cumprir ou atrasar o cumprimento de seus deveres, ou o fazendo em desacordo com a lei.
Vasques pode responder ainda pelos crimes de violência política – caracterizado pelo impedimento, por meio de violência, do exercício de direitos políticos –, bem como por impedir ou atrapalhar o exercício do voto e dificultar o deslocamento de eleitores.
Quem é Silvinei Vasques
Natural do Paraná, Vasques está na PRF desde 1995 e chegou ao comando da corporação em abril de 2021, após Bolsonaro nomear Anderson Torres para o Ministério da Justiça.
Antes de assumir a PRF, Vasques foi processado e condenado em primeira instância em 2017 por agredir um frentista que se recusou a lavar uma viatura. Ele recorre da decisão, mas em 2022 a União foi obrigada a indenizar a vítima em mais de R$ 50 mil.
Como diretor-geral, sua gestão foi marcada por escândalos, como a participação da PRF em uma operação que deixou mais de 20 mortos na Vila Cruzeiro, Rio de Janeiro, em maio de 2022; e o assassinato em Umbaúba, Sergipe, de um homem com problemas mentais que foi trancado por agentes da corporação dentro de um porta-malas e asfixiado por bombas de gás lançadas dentro do veículo.
Silvinei Vasques pediu votos para Bolsonaro
Vasques não escondia o apoio a Bolsonaro, tendo inclusive usado suas redes sociais para pedir votos para o político de extrema-direita. Passadas as eleições, ainda no final do ano passado, ele se tornou réu por improbidade administrativa sob a acusação de uso indevido do cargo e de símbolos e imagem da corporação para favorecer Bolsonaro. Também foi acusado de fazer vista grossa aos bloqueios de rodovias feitos por apoiadores do ex-presidente que, sem provas, questionavam a lisura das eleições.
Vasques foi exonerado do cargo pouco tempo depois, antes de iniciado o novo governo. Ele se aposentou aos 47 anos, livrando-se de eventuais punições administrativas futuras por sua atuação à frente da PRF.
ra (ots)