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Ônibus do PCC: Entenda o esquema da facção com o transporte público de SP

Segundo as investigações, o crime organizado "lava" dinheiro há 20 anos dentro de empresas de ônibus da capital paulista

Por Cleber Souza

Polícia investiga esquema do PCC dentro do transporte público de SP
Polícia investiga esquema do PCC dentro do transporte público de SP
Reprodução/Facebook Transunião

A Polícia Civil investiga a ligação do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que domina o tráfico de drogas em São Paulo, com o transporte público da capital paulista.

Nos últimos meses, uma investigação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) encontrou indícios e provas do envolvimento da facção com empresas de ônibus urbanos, que deflagraram operações realizadas em um intervalo de duas semanas.  

De acordo com a polícia e o Ministério Público de São Paulo (MPSP), ao menos duas empresas de ônibus que atuam na capital paulista, com contratos milionários com a Prefeitura de São Paulo, são suspeitas de terem ligação com a quadrilha.  

Juntas, as empresas investigadas transportam cerca de 840 mil passageiros por dia. Esse número representa cerca de 12% de todos os usuários do sistema público da capital diariamente.

Em média, cerca de 7,2 milhões de passageiros são transportados diariamente, em uma frota de 11.925 ônibus rodando em São Paulo. Os dados são da Secretaria de Mobilidade e Trânsito (SMT).  

A suspeita da polícia é que as empresas de ônibus de São Paulo sejam usadas por membros do PCC para lavar dinheiro.

Até o momento, duas prisões foram feitas. São dois homens acusados de serem os executores de ex-diretores de empresas que coordenam linhas de ônibus da capital. A polícia espera seguir com as investigações e analisar documentos colhidos para pedir a prisão de mais pessoas envolvidas no esquema.

Em nota, a prefeitura afirma que está acompanhando as investigações. (Veja abaixo)

Vídeo: Transporte do PCC: autoridades investigam empresas de ônibus

A primeira empresa alvo de operação do Denarc na semana passada foi a UPBus, que atua na zona leste e transporta diariamente cerca de 67 mil passageiros na zona leste com uma frota operacional de 138 ônibus.  

Segundo o delegado Fernando Santiago, responsável pela investigação, seis criminosos líderes da facção estão entre os acionistas.

Dois acionistas da empresa foram assassinados entre o final do ano passado e começo deste ano, o que provocou uma guerra interna no PCC. A polícia acredita que os homicídios não tenham ligação com o setor de transporte, mas com dívidas de dinheiro entre os envolvidos.

Para especialistas em crime organizado ouvidos pela Band, uma das formas para se perceber a presença da facção criminosa nas empresas de ônibus são os assassinatos envolvendo acionistas ou diretores.

A viação é vencedora de dois contratos de concessão do transporte público de São Paulo, segundo a prefeitura.  

Vídeo: Vereador é investigado por envolvimento com facção criminosa

Outra empresa investigada é a Transunião, que atua zona leste, suspeita de lavar de dinheiro para criminosos do PCC. A ex-cooperativa transporta cerca de 315 mil passageiros, em média, nos dias úteis e possui uma frota de 564 veículos, segundo dados da SMT.

Durante as investigações, a polícia também encontrou indícios do envolvimento do vereador Senival Moura (PT) com o crime organizado na administração da Transunião.

Segundo a polícia, o vereador petista entregou 13 ônibus da empresa para a facção para que ele não fosse morto. Ao Brasil Urgente, da Band, o diretor do Deic Fábio Pinheiro explica a ligação do vereador com o grupo.  

Vídeo: Vereador não aparece para trabalhar após operação da polícia

Segundo ele, o parlamentar, líder da bancada do PT na Câmara Municipal de São Paulo, é apontado como integrante de esquema de lavagem de dinheiro do PCC e, ainda, ligado ao assassinato do ex-presidente da Transunião, Adauto Soares Jorge.

Com as investigações em andamento, o vereador não apareceu para trabalhar na sexta-feira (10). À Band, o vereador nega as acusações. O parlamente teve o pedido de prisão decretado pela polícia, mas a Justiça negou a medida.

Vídeo: Delegado explica como PCC comandava linhas de ônibus

Em 2014, o então deputado estadual Luiz Moura (PT), irmão de Senival, foi flagrado em uma reunião com ao menos integrantes do PCC. Segundo informações da Polícia Civil, que monitorava o encontro em uma investigação para apurar ataques a ônibus na cidade. O parlamentar afirma que participou do encontro para tratar de assuntos da categoria.

Essa reunião foi realizada na sede da Transcooper, outra empresa da zona leste, atualmente chamada Pêssego. Segundo a SMT, ela transporta 224 mil passageiros ao dia, em média, com uma frota de 454 coletivos.

Desde o final do ano passado, a Polícia Civil investiga um duplo homicídio de possíveis integrantes da Pêssego. Segundo as investigações, a dupla assassinada estaria desviando recursos da empresa.  

Segundo a investigação, ambos foram sequestrados na zona leste e levado à favela de Paraisópolis, na zona sul, onde foram mortos pelo tribunal do crime do PCC.  Os corpos foram encontrados em um veículo abandonado em Embu das Artes, na Grande São Paulo.

Lavagem de dinheiro  

A Polícia Civil também aponta que a relação do PCC com o transporte público não é de agora Segundo investigações, o interesse da facção pelo serviço essencial da capital surgiu no começo dos anos 2000, com as pequenas cooperativas, o transporte clandestino.  

Vídeo: PCC já lava dinheiro com transporte coletivo há 20 anos

Segundo a polícia,  a virada do milênio marcou o início da expansão e formação da facção em presídios, inclusive fora da capital. Por isso, necessitava do transporte para a visita de familiares. Com isso, segundo as investigações, os chefões do crime viram uma oportunidade para lavar dinheiro e também lucrar com o sistema.

Na semana passada, uma operação do  Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) revelou que pelo menos 4 membros do PCC: Cebola, Décio Português, Cara Preta e Django eram sócios ocultos da UPBus. Cara Preta e Django foram assassinados. O esquema movimentava cerca de R$ 1 bilhão. 

Na última sexta-feira, a Polícia Civil afirmou que irá pedir ao Ministério Público (MP) a intervenção de empresas de ônibus por ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC).  

O vereador Delegado Palumbo (MDB) protocolou na sexta-feira (10) um requerimento para criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), na Câmara, visando investigar empresas que atuam no transporte coletivo da capital. Para isso, são necessárias 19 assinaturas de um total de 55 vereadores.

Vídeo: Vereadores querem CPI de ônibus do PCC

Procurada, a prefeitura afirma que uma reunião liderada pela Controladoria Geral do Município (CGM) de representantes da gestão municipal com a Polícia Civil foi realizada nesta terça-feira (13). Segundo nota enviada à Band, o intuito desse encontro foi o compartilhamento de informações sobre investigações.  

"A CGM abriu uma sindicância para apurações internas com objetivo de assegurar a continuidade da prestação de serviços e evitar qualquer tipo de prejuízo para os usuários do sistema", diz a nota.

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