Um ataque a um comboio de ambulâncias na Faixa de Gaza sexta-feira (04/11) gerou uma onda de condenações e aumentou a preocupação com as condições das equipes médicas que trabalham no enclave palestino.
A entidade médica Sociedade Crescente Vermelho da Palestina (PRCS) afirmou em nota que uma de suas ambulâncias foi atingida, atribuindo o incidente a "um míssil disparado por forças israelenses" que teria caído a dois metros da entrada do hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza.
Segundo o PRCS, um comboio de cinco ambulâncias havia deixado o hospital rumo ao sul do enclave, sendo que quatro desses veículos pertenciam ao Ministério da Saúde local. Após se depararem com um trecho de estrada "bloqueado por grande quantidade de destroços e rochas" resultantes dos bombardeios em Gaza, os veículos tiveram de dar meia volta.
No caminho de volta ao hospital, um míssil atingiu uma ambulância do Ministério, danificando o veículo e atingindo as pessoas que estavam na parte interna. O segundo ataque teve como alvo a ambulância do Crescente Vermelho que se aproximava dos portões do hospital, transportando uma mulher ferida.
O PRCS relatou que o ataque deixou 15 mortos e 60 feridos, números que equivalem aos divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza. Jornalistas relataram que vários corpos podiam ser vistos próximo ao hospital.
A versão de Israel
Militares israelenses, por sua vez, disseram que o alvo do ataque era uma ambulância usada por uma célula terrorista do Hamas para transportar combatentes. Eles afirmam que o veículo teria sido utilizado em um local bastante próximo da posição dessa mesma célula nas frentes de batalha.
O Hamas negou que seus combatentes estivessem dentro das ambulâncias e disse que os veículos foram atingidos por mísseis israelenses enquanto transportavam feridos da Cidade de Gaza até Rafah, na fronteira com o Egito.
O PRCS sublinhou que "o ataque deliberado a equipes médicas constitui uma grave violação da Convenção de Genebra, ou seja, é crime de guerra".
Desde os ataques terroristas do Hamas a Israel em 7 de outubro, que mataram mais de 1,4 mil pessoas, as Forças de Defesa israelenses vêm impondo um cerco à Faixa de Gaza e realizando bombardeios constantes. A crise gerou uma grave escassez de água, medicamentos e alimentos no enclave, onde a situação humanitária piora a cada dia.
O Ministério da Saúde de Gaza afirma que mais de 9,4 mil palestinos, incluindo 3,9 mil crianças, foram mortos desde o início dos bombardeios.
Guterres "horrorizado" com o ataque
O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou o incidente. "Estou horrorizado com o relato do ataque ao comboio de ambulâncias em Gaza em frente ao hospital Al-Shifa. As imagens dos corpos nas ruas do lado de fora do hospital são assustadoras", afirmou em nota.
Ao mesmo tempo, Guterres disse que não se esqueceu dos ataques terroristas do Hamas em Israel, e voltou a pedir a libertação dos reféns em Gaza.
Ele, porém, lembrou que há um mês a população civil de Gaza, incluindo mulheres e crianças, está isolada, sem acesso à ajuda humanitária e sofrendo constantes bombardeios.
"Isso tem que parar", disse o secretário-geral, reforçando o pedido por um cessar-fogo humanitário na região.
Estima-se que 16 hospitais em Gaza deixaram de funcionar em razão dos danos causados pelos ataques israelenses e pela falta de combustível, segundo informaram autoridades do Hamas em Gaza.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, se disse "absolutamente chocado" com os relatos dos ataques às ambulâncias.
Segundo a OMS, o hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza, possui capacidade para 164 leitos. A falta de combustíveis para geradores de energia representa uma "ameaça direta às vidas dos pacientes", alertou a entidade.
NYT: Hamas tentou evacuar combatentes de Gaza
O jornal americano The New York Times, citando fontes anônimas do governo dos Estados Unidos, relatou que o Hamas tentou infiltrar alguns de seus membros entre os refugiados de Gaza que deixariam o enclave através da passagem de fronteira de Rafah.
Um terço dos nomes de palestinos feridos relacionados em uma lista fornecida pela organização era de militantes, o que foi notado por autoridades israelenses, americanas e egípcias.
Segundo a fonte do NYT, o Hamas acabou desistindo e, após negociações intermediadas pelo governo do Catar, removeu os nomes da relação. "Isso é inaceitável para o Egito, para Israel e para nós", disse a autoridade do governo americano.
rc (Reuters, AP, DPA, AFP)