O gabinete do secretário-geral das Nações Unidas nega que António Guterres tenha tentado silenciar um relatório sobre as acusações de violência sexual durante os ataques do grupo palestino Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023.
O trabalho da representante especial da ONU para a violência sexual em conflitos, Pramila Patten, cujo relatório foi publicado nesta segunda-feira (04/03), "foi realizado de forma meticulosa e diligente", afirmou Stéphane Dujarric, porta-voz de Guterres, à agência de notícias AFP.
Respondendo às acusações do ministro do Exterior de Israel, Israel Katz, que convocou para consultas o embaixador israelense junto das Nações Unidas, Dujarric assegurou que "em nenhuma circunstância o secretário-geral fez algo para ocultar este relatório".
Katz anunciou, em mensagem publicada na rede social X: "Ordenei ao nosso embaixador na ONU, Gilad Erdan, que regressasse a Israel para consultas imediatas, na sequência da tentativa de silenciar o grave relatório da ONU sobre as violações em massa cometidas pelo Hamas e seus aliados em 7 de outubro."
O chefe da diplomacia de Israel criticou o secretário-geral Guterres por não ter convocado o Conselho de Segurança "face a estas conclusões", com o objetivo de declarar o movimento fundamentalista islâmico palestino "uma organização terrorista" e "impor sanções aos seus apoiadores".
Motivos para crer que violência sexual prossegue
As autoridades israelenses têm pedido repetidamente a demissão de Guterres, depois de este ter afirmado que os ataques do Hamas "não aconteceram no vácuo", já que o povo palestino "é sujeito a uma ocupação sufocante há 56 anos".
O relatório da enviada especial da ONU Patten afirma haver "motivos razoáveis" para crer que o Hamas cometeu violações, "tortura sexualizada" e outros tratamentos cruéis e desumanos contra mulheres, nos ataques em solo israelense. Há também "motivos razoáveis para acreditar que essa violência ainda pode estar em curso".
Pramila Patten visitou Israel e a Cisjordânia juntamente com nove colaboradores, de 29 de janeiro a 14 de fevereiro. No relatório divulgado hoje, a equipe afirma haver encontrado "informações claras e convincentes" de que alguns reféns também foram sujeitos a violência sexual, incluindo violações e "tortura sexualizada".
Cerca de 250 vítimas foram raptadas e levadas para a Faixa de Gaza durante o ataque sem precedentes do Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, que teria causado 1.160 mortes, sobretudo de civis, segundo contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.
Durante uma trégua em novembro, 105 reféns foram libertados, em troca de 240 prisioneiros palestinos. As autoridades de Israel estimam que ainda se encontrem em Gaza cerca de 130 dos sequestrados, dos quais 31 teriam morrido. Nesta fase do conflito com o Hamas, calcula-se que mais de 30 mil palestinos já morreram.
av (AFP,Reuters,AP)