No primeiro discurso após o atentado que sofreu, o ex-presidente Donald Trump aceitou nesta quinta-feira (18/07) formalmente a indicação como candidato presidencial do Partido Republicano com uma fala de uma hora e 32 minutos, foi o mais longo discurso de aceitação de nomeação partidária da história moderna dos Estados Unidos.
A fala de Trump marcou o clímax e a conclusão dos quatro dias da Convenção Nacional Republicana (RNC) em Milwaukee.
Ele adotou um tom notavelmente conciliatório no início de seu discurso, mas logo partiu para o ataque contra seu adversário. Trump parecia ter saído do roteiro após os primeiros minutos. Fez várias promessas aos seus eleitores, incluindo "acabar" com as crises internacionais e realizar a maior operação de deportação da história dos EUA.
Confira os principais momentos e temas do discurso de Trump:
Relato sobre atentado
No início do discurso, ele relatou, ainda em um tom suave, quase sussurrando, como foi a experiência do atentado contra sua vida. Em um momento comovente, pediu um minuto de silêncio em homenagem a um bombeiro que o apoiava e que foi morto durante o ataque na Pensilvânia no sábado.
Os organizadores do evento colocaram o capacete e a jaqueta do uniforme do bombeiro no palco – e Trump beijou o capacete. "Havia sangue por toda parte, mas, de certa forma, eu me sentia muito seguro porque tinha Deus do meu lado", disse Trump. "Eu não deveria estar aqui esta noite."
Antes de se apresentar na convenção, ele tinha dito que o atentado o levou a mudar seu discurso na convenção, que seria composto em grande parte por ataques ao presidente Biden, para um discurso mais focado em unir o país. "Como americanos, estamos unidos por um único destino e um destino compartilhado. Nós nos elevamos juntos. Ou nos desintegramos", disse Trump.
Liderança "fracassada" de Biden
"A discórdia e a divisão em nossa sociedade devem ser curadas", afirmou o ex-presidente na parte inicial de sua fala. "Estou concorrendo para ser presidente de todos os Estados Unidos, não de metade dos Estados Unidos, porque não há vitória em ganhar para metade dos Estados Unidos", acrescentou.
Mas saindo do roteiro, Trump mencionou o presidente Joe Biden pelo nome, algo que não planejava fazer, de acordo com relatos que antecederam o discurso. "Se você pegar os dez piores presidentes... eles não teriam causado o dano que Biden causou", disse. "Sob o atual governo, somos uma nação em declínio."
Trump também repetiu suas falsas alegações de que deve sua vitória roubada na eleição de 2020, dizendo: "Nunca vamos deixar isso acontecer novamente".
"Acabar" guerras com um telefonema
O ex-presidente também falou sobre política externa, prometendo "acabar com cada uma das crises internacionais que o atual governo criou".
O republicano pintou um quadro terrível do mundo sob o comando de Joe Biden, afirmando que o planeta está "à beira da Terceira Guerra Mundial". "Vamos restaurar a paz, a estabilidade e a harmonia em todo o mundo", disse Trump, sem dizer como faria isso.
"Sob nossa liderança, os Estados Unidos serão respeitados novamente. Nenhuma nação questionará nosso poder, nenhum inimigo duvidará de nosso poder, nossas fronteiras serão totalmente seguras", acrescentou.
Ele afirmou que, se fosse presidente, a guerra na Ucrânia e a guerra entre Israel e Hamas não teriam acontecido. "Posso acabar com as guerras com uma ligação telefônica", afirmou, mas não explicou como.
"Invasão" de migrantes, fechamento de fronteira
O candidato do Partido Republicano prometeu fechar a fronteira aos imigrantes ilegais já no primeiro dia de seu novo mandato.
"Temos uma crise de imigração ilegal, e ela está ocorrendo agora mesmo, enquanto estamos sentados aqui nesta bela arena. É uma invasão maciça em nossa fronteira sul que espalhou miséria, crime, pobreza, doenças e destruição para comunidades em todo o nosso país", disse Trump.
"Vou acabar com a crise da imigração ilegal fechando nossa fronteira e terminando o muro", acrescentou.
"Salvador da democracia"
Durante os quatro dias, uma série de oradores tentou retratar Trump como um homem de família compassivo e servidor público dedicado, injustamente criticado pelos oponentes democratas. O evento televisionado teve como objetivo conquistar eleitores indecisos que não se opõem totalmente a ele, mas não gostam do drama que frequentemente o cerca.
"Estou diante de vocês nesta noite com uma mensagem de confiança, força e esperança. Daqui a quatro meses, teremos uma vitória incrível e começaremos os quatro maiores anos da história do nosso país", disse Trump.
Trump posou de vítima ao fazer referência a sua condenação por um tribunal em Nova York por 34 acusações criminais relacionadas à ocultação de pagamento feito às vésperas da campanha de 2016 a uma ex-atriz pornô para comprar silêncio dela sobre um suposto relacionamento amoroso. Ele ainda está enfrentando acusações em dois outros casos, um em um tribunal federal e outro em um tribunal estadual.
"O Partido Democrata deve parar imediatamente de usar o sistema judiciário como arma e rotular seu oponente político como inimigo da democracia", disse. "Especialmente porque isso não é verdade. De fato, sou eu quem está salvando a democracia para o povo do nosso país", acrescentou.
Presença da família Trump
A família de Trump estava presente, e seu filho Eric animou a multidão, puxando um coro de "fight, fight, fight!", as palavras que Trump pronunciou depois do atentado, com o rosto ensanguentado e o punho erguido.
A mulher de Trump, Melania, quase ausente durante toda a campanha, chegou sob aplausos, mas não discursou.
Nesta semana, Trump nomeou o senador de direita J.D. Vance, de Ohio, como seu companheiro de chapa. O político de 39 anos, autor de Era uma vez um sonho, best-seller que descreve a origem familiar caótica de Vance, é um ex-crítico de Trump que se tornou um de seus mais firmes apoiadores.
Vance também é um crítico da migração e um firme representante do movimento de extrema direita Maga (Make America Great Again).
Pressão sobre Biden
O discurso de Trump na quinta-feira ocorre em um momento em que Biden se agarra à indicação de seu partido diante da pressão implacável dos líderes de sua própria sigla, que temem que ele não consiga vencer a reeleição após sua desastrosa performance durante um debate televisivo contra Trump.
md/cn (DW)