Palestinos aguardam envio de ajuda; Israel sinaliza invasão

Acesso de 20 caminhões com assistência humanitária à Faixa de Gaza é "gota no oceano", diz OMS. Secretário-geral ONU pede "cessar-fogo imediato", enquanto israelenses se dizem prontos para enviar tropas ao enclave.

Por Deutsche Welle

Palestinos retidos na Faixa de Gaza aguardam envio dos caminhões com ajuda humanitária previsto para esta sexta-feira (19/10) após o fechamento de um acordo entre os Estados Unidos, Egito e Israel, enquanto as Forças de Defesa israelenses enviam sinais de estarem prontas para uma invasão por terra do enclave.

O Egito mantém a fronteira fechada, alertando para bombardeios israelenses próximos ao posto de controle. Cairo teme que Israel esteja planejando deslocar intencionalmente os palestinos para o deserto do Sinai.

Do lado de Gaza, um número cada vez maior de pessoas se acumula próximo à fronteira, enquanto situação humanitária se deteriora em meio à uma alarmante escassez de recursos essenciais.

Em sua visita a Tel Aviv, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou o fechamento de um pacto com os governos de Israel e do Egito para permitir o acesso de 20 caminhões com ajuda humanitária à Faixa de Gaza através da fronteira egípcia.

Segundo Biden, a entrega de água, alimentos, medicamentos e combustíveis deve ocorrer no máximo até esta sexta-feira. "Queremos conseguir o maior número possível de caminhões", disse Biden a jornalistas no avião presidencial Air Force 1, no trajeto de volta a Washington. "Se o Hamas confiscar ou não deixar passar [a ajuda humanitária], isso vai acabar."

Mais tarde, relatos na imprensa egípcia, citando fontes do governo, confirmavam que a fronteira deve ser de fato aberta nesta sexta-feira.

Segundo a emissora CNN, autoridades de segurança do país árabe disseram que uma bandeira da ONU será colocada na travessia de fronteira em Rafah, numa tentativa de evitar bombardeios israelenses.

A distribuição da ajuda será supervisionada pela ONU, juntamente com as ramificações da ONG Crescente Vermelho no Egito e na Palestina, para evitar que os recursos caiam nas mais de membros de organizações terroristas.

Guterres pede "cessar-fogo humanitário imediato"

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou em visita ao Egito nesta quinta-feira que Gaza precisa do envio constante e em grande escala de ajuda humanitária.

"Precisamos de comida, água, medicamentos e combustíveis já. Precisamos em grande escala, e de modo contínuo. Não necessitamos de somente uma operação pequena", criticou, se referindo ao envio de 20 caminhões anunciado para esta sexta-feira.

Guterres pediu um "cessar-fogo humanitário imediato". "Em termos claros, isso significa que as organizações humanitárias precisam estar aptas a enviar ajuda, que deve ser distribuída de modo seguro", observou.

Ele também pediu a libertação dos reféns que estão sob poder do Hamas desde os ataques terroristas de 7 de outubro em Israel.

O secretário-geral viajou ao Egito para se reunir com o presidente Abdel Fattah al-Sissi e com o rei Abdullah da Jordânia. As duas nações árabes, as primeiras a normalizarem relações com Israel na região – em 1979 e 1994, respectivamente – condenaram a "punição coletiva" imposta ao povo palestino pelas ações do Hamas e expressaram preocupação com um possível alastramento do conflito.

"Se essa guerra não cessar", a crise ameaça "mergulhar toda a região em uma catástrofe", afirma uma declaração da Corte Real jordaniana. Al-Sissi e Abdullah são considerados mediadores fundamentais do conflito Israel-Hamas.

"O pior ainda estaria por vir"

A situação é cada vez mais preocupante, enquanto se esgotam os recursos essenciais no enclave onde vivem mais de dois milhões de pessoas. "O ritmo da morte, do sofrimento, da destruição é algo que não tem como ser exagerado" afirmou o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths.

Muitos temem que o pior ainda estaria por vir, com a iminente invasão da Faixa de Gaza por tropas israelenses.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou a soldados israelenses reunidos na fronteira com o enclave que em breve eles verão o território palestino "de dentro", segundo informou um comunicado de seu gabinete nesta quinta-feira.

"Vocês veem Gaza agora à distância, mas logo a verão de dentro. A ordem virá", disse Gallant, citado na nota. O ministro teria pedido aos soldados que "se organizem e estejam prontos".

OMS alerta para "consequências devastadoras"

A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu um fluxo diário do envio de ajuda a Gaza e alertou que a falta de combustíveis no enclave vem gerando consequências devastadoras. A pequena quantidade que resta tem de ser dividida entre usinas de dessalinização para o fornecimento de água, padarias e hospitais que têm de cuidar de um número cada vez maior de pacientes.

"A não ser que o abastecimento seja permitido muito em breve, haverá uma tragédia em Gaza. Esse é o nosso temor", afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Michael Ryan, diretor do programa de Emergências da OMS, também criticou a quantidade de 20 caminhões que deverão ter permissão para entrar em Gaza nesta sexta-feira, dizendo que ser uma "gota no oceano". "Nosso caminhões estão carregados e prontos para partir", disse Tedros.

rc (AFP, DPA, AP, DW, ots)

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