Carlos Machado, pesquisador e coordenador do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) defende que a adoção do chamado “passaporte da vacina” ganhe mais adesão pelo Brasil, que vive uma fase “intermediária” na imunização completa de sua população contra o coronavírus - 45% das pessoas (ou 97 milhões de brasileiros) estão atualmente com o esquema de imunidade completo.
Em entrevista ao Ponto a Ponto, programa da jornalista Mônica Bergamo e o cientista político Antônio Lavareda no BandNews TV desta quarta (6), Machado explicou que a medida é importante para garantir a segurança na reabertura de serviços e eventos, evitando uma maior circulação do coronavírus, o que poderia ocasionar a mutação de novas variantes, por exemplo. Além disso, seria incentivo para que o maior número de pessoas possa se proteger com o esquema imunológico completo, tomando as duas doses.
“No sentido de estimular não só a vacinação, mas mais do que isso. A gente tem que pensar um passaporte de vacinas como uma das estratégias também de poder equilibrar a possibilidade de realização de alguns eventos, como foi o caso dos jogos de futebol. Ou seja, como o Brasil avance uma situação que é intermediária, a possibilidade de nós termos alguma abertura. Principalmente para eventos de grande porte, condicionada a eventos-teste e à obrigatoriedade do passaporte de vacinas”, justificou.
No Brasil e países como França e Estados Unidos, o passaporte da vacina é alvo de críticas e visto com resistência por algumas pessoas, que argumentam que criticam a ausência de individualidade para frequentar espaços comuns, sendo chamada até de “ditatura sanitária” por um desembargador. Recentemente, a questão foi parar no Supremo Tribunal Federal, que reestabeleceu a medida no Rio, alegando que a determinação cabe a estados e municípios.
“A minha liberdade individual, se alguém quer argumentar nesse sentido de não tomar a vacina nesse momento, não pode ferir a possibilidade de uma proteção coletiva de milhares e milhões de pessoas. Nós ainda estamos num cenário em que novas variantes podem surgir e todas as medidas de cuidado, precaução, monitoramento são ainda necessárias”, afirmou.
Aproximadamente 250 municípios já adotam o passaporte vacinal em algum nível para permitir a circulação e realização de eventos. Machado crê que a tendência é que a medida se estenda dentro e fora do Brasil, conforme a oferta de vacinas for aumentando.
O grande desafio para a adoção de um passaporte mundial, na visão do pesquisador, é a atual distribuição e acesso das vacinas pelo mundo. Existe desigualdade entre os países ricos em relação aos africanos ou o Afeganistão, por exemplo.
Uso de máscara ainda é necessário, avalia Machado
Algumas cidades caminham para desobrigar o uso de máscaras em lugares públicos ou mesmo em eventos e locais de concentração de pessoas, como já fez Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. O pesquisador da Fiocruz, porém, ainda defende a necessidade do uso da proteção facial até que pelo menos 80% da população elegível esteja completamente imunizada contra Covid-19.
“No cenário atual, a máscara ainda constitui uma barreira, uma medida de proteção, porque nós sabemos que mesmo vacinada, a pessoa não só pode transmitir, como pode se infectar, ainda que o risco, as chances sejam muito menores”, defendeu.