
"Milagre!", espantaram-se os religiosos da extrema-direita israelense ao ouvir o plano do presidente Donald Trump de esvaziar a Faixa de Gaza para construir a Riviera do Oriente Médio. E será mesmo milagroso se o plano sair do papel. Como a posse da Groenlândia. A tomada do Canal do Panamá. Os tarifaços.
Trump vai a extremos para obter o que quer. Com as sobretaxas ao México e Canadá, conseguiu 10 mil soldados em cada uma de suas fronteiras. E ameaçando pegar o Canal do Panamá, encerrou o flerte panamenho com a China.
Mas e agora com Gaza? Trump surpreendeu até seus assessores. Mas não falou de improviso. Leu no teleprompter o que revelou ter sido uma ideia que teve pela manhã, antes da visita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no final da tarde. Ele já vinha propondo retirar os palestinos de Gaza para reconstruí-la, limpá-la das bombas que não explodiram e acabar de derrubar casas e prédios que já estão caindo. Calculou a obra em dez a quinze anos, com seu olho imobiliário. Assumir Gaza, porém, foi muito além.
Netanyahu o elogiou por “pensar fora da caixinha”. O jornal New York Times desta quarta-feira acrescentou: “Tão longe da caixa que não ficou claro se ele sabia que havia uma caixa:”.
Trump sabe que a remoção forçada de toda uma população vai contra leis internacionais. E que os palestinos querem a Palestina, não uma Riviera do Oriente Médio.
O que Trump conseguiu foi colocar-se na crista da onda mundial, surfando as manchetes da imprensa internacional, e provocando líderes de países aliados e até mesmo de dentro de seu partido. Nenhum jornalista perguntou, na entrevista coletiva, o que será da segunda-fase do acordo de cessar-fogo e troca de reféns. Isso ficou a cargo de auxiliares dele e de Netanyahu, lá em Doha, no Catar.
Veja algumas reações ao plano anunciado por Trump
Jornal Haaretz, de Israel: Trump, em anúncio chocante, diz que os EUA vão assumir Gaza, deslocando permanentemente os palestinos.
Mais tarde, a manchete foi trocada: Impraticável, incompreensível, ilegal: Trump captura Netanyahu e semeia o caos com seu plano de tomar Gaza.
Jerusalem Post: Trump diz que os EUA vão tomar Gaza na cúpula com Netanyahu.
Times of Israel: Trump: Os EUA vão 'assumir' Gaza, zerá-la e criar a Riviera do Oriente Médio.
Ministros elogiam primeiro-ministro, Trump: “Graças a Deus por este milagre”.
Hamas diz que o plano de Gaza é “absurdo”.
Yediot Ahronoth: Visionário ou sonhador? A grande questão após a jogada de Trump em Gaza.
O líder da extrema-direita Itamar Bem Gvir, ex-ministro da Segurança Nacional que se demitiu por causa do acordo de Gaza, diz que voltará a aliar-se a Netanyahu se ele implementar o plano de transferência de palestinos preconizado por Trump.
A Arábia Saudita, às quatro da madrugada local, desmentiu que aceita relações com Israel sem uma solução para a questão palestina. E “rejeita qualquer tentativa de que tirar os palestinos de sua terra”.
O rei Abdullah, da Jordânia, que vai se encontrar com Trump na semana que vem, já antecipou que rejeita qualquer plano de anexar terra e deslocar palestinos.
No Catar, o anfitrião das negociações do acordo de cessar-fogo em Gaza, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores informou que é muito cedo para opinar sobre o plano de Trump.
Para a Turquia, a pretensão de Trump é “inaceitável” e vai produzir mais conflito na região.
Pelo Hamas, falou Sami Abu Zuhri: “Nosso povo na Faixa de Gaza não permitirá que esses planos passem, e o que é necessário é acabar com a ocupação e a agressão (israelenses) contra nosso povo, e não os expulsar de suas terras.”
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, disse que os palestinos não renunciarão a suas terras, direitos e locais sagrados, e que a Faixa de Gaza é parte integrante do Estado da Palestina, juntamente com a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.
Uma fonte oficial do governo iraniano “repete o que já afirmou várias vezes: não concorda com nenhum deslocamento de palestinos”.
Organização de Libertação da Palestina (OLP): “A liderança palestina afirma sua firme posição de que a solução de dois estados, de acordo com a legitimidade internacional e o direito internacional, é a garantia de segurança, estabilidade e paz.”
Jihad Islâmica Palestina: “As posições e planos de Trump são uma escalada perigosa que ameaça a segurança nacional árabe e regional, especialmente no Egito e na Jordânia, que o governo dos EUA quer colocar em confronto com o povo palestino e seus direitos.”