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Polícia Civil revisa número de mortos em operação no Rio

Ação já é a segunda operação policial mais letal já registrada no Rio de Janeiro

Narley Resende, com Band e BandNews FM Rio

Moradores aguardam por informações sobre parentes no Hospital Getúlio Vargas REUTERS/Pilar Olivares
Moradores aguardam por informações sobre parentes no Hospital Getúlio Vargas
REUTERS/Pilar Olivares

A Polícia Civil do Rio de Janeiro afirmou nesta quinta-feira (26) que o número oficial de mortos na operação policial na Vila Cruzeiro, na Zona Norte da capital fluminense, é de 23 pessoas e não 26, como apontava a contagem consolidada em hospitais da região. A ação já é a segunda operação policial mais letal já registrada no Rio de Janeiro. 

A PM (Polícia Militar) também chegou a informar que 25 suspeitos, além de uma moradora de Chatuba, na região, haviam morrido na ação. 

Com a identificação dos corpos, a Polícia Civil informou que três morreram, na verdade, em um confronto entre traficantes no Morro do Juramento, na mesma região, que também aconteceu na terça-feira (24).

Pelo menos nove mortos na ação da PM e da PRF (Polícia Rodoviária Federal) na Vila Cruzeiro tinham antecedentes criminais. 

A cabeleireira Gabrielle Ferreira da Cunha, de 41 anos, morreu após ser atingida dentro de casa, na Chatuba. Ainda sem apresentar perícia, a polícia afirma que o disparo foi feito por criminosos. Gabrielle deixa um filho de 17 anos.

Outras seis pessoas ficaram feridas. De acordo com a PM, cinco são suspeitos. A outra é um policial civil que foi atingido por estilhaços no rosto. 

Os confrontos se concentravam na parte alta da Vila Cruzeiro, perto de uma área de mata. Moradores relataram que um intenso tiroteio começou na região pouco antes das 4 horas. “O despertador do pobre começou 3h40 na Penha”, ironizou um morador. 

Mais tarde, outros tiroteios ocorreram ao longo do dia em momentos diferentes. O Bope (Batalhão de Operações Especiais) da PM reforçou a presença na região após os novos confrontos.  Sete fuzis foram apreendidos.

A operação paralisou as atividades em 11 escolas municipais. Duas unidades de saúde de atenção primária funcionaram apenas com atividades internas.

Não houve ocupação da comunidade e a operação terminou no fim da tarde de quarta.

Facada

O mototaxista Washington Patricio Ferreira, 29, disse em entrevista ao Portal UOL, em frente ao IML (Instituto Médico-Legal) que seu irmão, João Carlos Arruda Ferreira, de 16 anos foi morto a facada. 

O corpo foi encontrado em uma área de mata com um ferimento no peito compatível com uma facada.

João Carlos ainda tinha sinais vitais quando foi encontrado por volta das 18h, segundo relatou um mototaxista que o encontrou. De lá, foi levado à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Complexo do Alemão, mas não resistiu aos ferimentos.

O garoto, que cursava o 6º ano do ensino fundamental, foi enterrado no começo da tarde desta quinta-feira (26) no Cemitério do Caju, zona norte carioca. 

Segundo o irmão, logo depois dos primeiros confrontos durante a manhã de terça João Carlos o acompanhava justamente em uma manifestação para pedir pelo cessar-fogo.

Tiros contra moradores

Em uma área conhecida como Vacaria, no interior da Vila Cruzeiro, Thainã Medeiros, de 39 anos, co-fundador do Coletivo Papo Reto e assessor parlamentar da deputada estadual Renata Souza (PSOL), registrou um PM do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) disparando contra ele e um grupo de moradores. 

Ministério Público

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) informou em nota que determinou que a PM envie, em um prazo máximo de dez dias, o procedimento de averiguação sumária dos fatos ocorridos durante a operação, "ouvindo todos os policiais militares envolvidos e indicando os agentes responsáveis pelas mortes, além de esclarecer sobre a licitude de cada uma das ações letais“.

O órgão recomendou, ainda, que todas as armas dos policiais militares envolvidos na ação sejam apreendidas e enviadas para exame pericial para sejam comparados com os projéteis que venham a ser retirados das vítimas da operação desta terça-feira.

Operação mais letal

No ano passado, 28 pessoas morreram, entre elas um policial civil, durante operação policial na favela do Jacarezinho, também na zona norte da capital fluminense. Segundo a polícia, a maioria dos mortos tinha ligação com o tráfico de drogas. Foi a ação mais letal da história da polícia no Estado.

Depois de a operação completar um ano, a Polícia Civil do Rio de Janeiro destruiu, em 11 de maio, um memorial em homenagem aos 28 mortos na chacina. A estrutura havia sido inaugurada no dia 6 de maio. 

O memorial continha placas com o nome de todas as vítimas, inclusive o do policial André Leonardo Frias. 

Foragidos do Norte e Nordeste

A PM afirma que a ação aconteceu, porque as investigações apontaram que os criminosos iriam sair da Penha para a Rocinha, na Zona Sul. 

Segundo a PM, traficantes do Pará e do Amazonas estão entre os mortos. Eles comandariam do Rio os crimes no Norte e Nordeste. 

Entre eles, está Mauri Edson Vulcão Costa, conhecido como Déo. De acordo com a Polícia Civil do Pará, ele foi o mandante de mais de 20 ataques a agentes de segurança no estado nos últimos 30 dias. Dezesseis deles morreram.

O Portal dos Procurados pede informações para encontrar três foragidos apontados como chefes do Comando Vermelho do Pará, que estariam escondidos no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio. 

De acordo com o portal, Leonardo Costa Arajuno, conhecido como "Léo 41", Anderson Souza Santos, o "Anderson Latrol" e David Palheta Pinheiro, o "bolacha", estariam na Vila Cruzeiro.

Um militar licenciado da Marinha, Douglas Costa Donato, também está entre os suspeitos mortos na ação. 

“Derruba, derruba”

Na terça-feira (17) da semana passada, um helicóptero foi alvo de tiros ao passar pelo Complexo da Penha. Vídeos nas redes sociais mostram que a aeronave voava baixo e circulou algumas vezes pela região. Em um deles, um criminoso diz “derruba, derruba", enquanto outros bandidos, supostamente, atiravam.

No vídeo, é possível ouvir alguém dizendo: “Se passar na reta vai tomar hein (...). Derruba, derruba, derruba”.

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