As forças de segurança do Peru efetuaram uma operação de busca neste sábado (30/03) na residência da presidente Dina Boluarte e na sede do governo, no âmbito de uma investigação sobre relógios Rolex que a chefe de Estado não teria declarado como parte de seus bens.
Durante madrugada, policiais e representantes do Ministério Público entraram na casa de Boluarte, na zona leste de Lima, e depois revistaram o palácio do governo, em busca dos relógios de luxo que não tiveram a procedência explicada pela presidente.
Os policiais entraram na residência depois de forçarem porta com uma barra de ferro, segundo imagens exibidas na televisão. Depois, seguiram para a sede da Presidência.
"Vamos fazer a operação no palácio, fazer a busca segundo a ordem judicial", declarou o coronel Harvey Colchado que não confirmou se os policiais encontraram joias ou outras evidências.
Boluarte, que assumiu a Presidência peruana em dezembro de 2022, começou a ser investigada em 18 de março por suposto crime de enriquecimento ilícito e omissão de declarações em documentos públicos.
Em uma curta mensagem publicada na rede social X, a Presidência afirmou que a operação no palácio de governo aconteceu "com normalidade e sem qualquer incidente".
As operações foram autorizadas pelo Tribunal Superior de Investigações Preparatórias, presidido pelo juiz Juan Carlos Checkley, a pedido do procurador-geral.
O governo criticou a ação. "O que aconteceu constitui um ataque intolerável à dignidade da Presidência da República e à Nação que representa. Estas ações são desproporcionais e inconstitucionais", declarou à imprensa o primeiro-ministro do gabinete de Boluarte, Gustabo Adrianzén.
O ministro da Justiça e Direitos Humanos do Peru, Eduardo Arana, por sua vez, comentou neste sábado que as buscas mostram o colapso do sistema democrático e da constitucionalidade.
"O que estão fazendo é politizar e demonstrar que a justiça foi politizada em um ato sem precedentes que está atacando as instituições democráticas, as instituições da Presidência e, acima de tudo, demonstrando o colapso do sistema democrático e da constitucionalidade", disse Arana.
Investigação
As operações de busca aconteceram depois que o MP não aceitou que a presidente reagendasse uma audiência na qual deveria mostrar os relógios e seus comprovantes de compra.
Se for indiciada por enriquecimento ilícito, a presidente só responderá a um eventual julgamento depois de julho de 2026, quando termina o seu mandato, segundo estabelece a Constituição. A investigação, no entanto, pode prosseguir neste período.
O escândalo, porém, arrisca resultar em um pedido de destituição de Boluarte no Congresso, sob a alegação de "incapacidade moral".
Para que isto aconteça, as bancadas de partidos de direita, que têm maioria no Parlamento unicameral e representam a principal base de apoio da presidente, teriam que apoiar as bancadas minoritárias de esquerda em uma aliança difícil de ser concretizada.
O escândalo dos relógios da marca Rolex eclodiu com uma reportagem do programa jornalístico La Encerrona exibida há algumas semanas.
A reportagem revelou que Boluarte utilizou vários relógios da marca de luxo em eventos oficiais desde que tomou posse como vice-presidente do governo do ex-presidente Pedro Castillo e o cargo de ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social em 2021.
O período analisado pelo programa vai até dezembro de 2022, mês em que ela assumiu a Presidência.
Após a exibição da reportagem, Boluarte afirmou que se tratava de um relógio "antigo", produto do seu "esforço", já que trabalha desde os 18 anos.
"Entrei no Palácio de Governo com as mãos limpas e sairei com as mãos limpas, como prometi ao povo peruano", declarou Boluarte, 61 anos, na semana passada.
O Ministério Público já investiga Boluarte por supostos crimes de "genocídio, homicídio qualificado e lesões graves", em um processo aberto no ano passado pela morte de mais de 50 cidadãos durante os protestos sociais entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023.
jps (AFP, EFE)