Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (16/11) pela Rede de Observatórios da Segurança, com base em dados das secretarias de Segurança Pública, revelou que em 2022 uma pessoa negra foi morta a cada quatro horas em intervenções policiais em oito estados brasileiros.
O estudo intitulado "Pele Alvo: a bala não erra o negro" analisou 3.171 registros de morte. Destes, 2.770 (87,35%) eram negros. A pesquisa reuniu os dados de 2022 dos estados onde a Rede de Observatórios possui representações – Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco e Piauí – que foram obtidos através da Lei de Acesso à Informação.
A Bahia lidera o número de mortes de negros, com 1.121 óbitos. A cada dez mortos pelas mãos da polícia no estado, onde 80,8% da população é negra, em 2022, nove eram afrodescendentes. Entre os mortos, 74,21% eram jovens com idades entre 18 e 29 anos.
De modo geral, as mortes resultantes da violência policial no estado aumentaram 300% entre 2015 e 2022. O governo baiano vem sendo fortemente criticado pela escalada de violência policial que deixou dezenas de mortos nos últimos meses.
O Rio de Janeiro, que liderava o ranking anterior, registrou 1.042 mortes de negros por ação da polícia. Com 54,39% de habitantes que se declaram negros, a proporção dessas vítimas no estado é de 87%.
"Racismo secular, profundo e determinado"
No caso do Rio de Janeiro, o estudo aponta a existência de uma "política de segurança determinada a lidar com grupos armados a partir de lógicas bélicas de confrontos e tiroteios", voltada para as favelas e bairros mais pobres. "No coração das políticas de confronto, está assentado um racismo secular, profundo e determinado."
Em São Paulo, onde 40,4% da população é negra, 63,90% dos mortos pela polícia em 2022 eram afrodescendentes. Os dados, porém, representam uma redução desses óbitos de 48,32% – de 876 em 2021 para 419 em 2022. Na cidade de São Paulo foram registradas 157 mortes, ou seja 37,47% do total do estado.
Os pesquisadores, porém, ressaltaram que em 4.219 ocorrências nos oito estados pesquisados – uma em cada quatro – não havia registro da cor, o que indica uma subnotificação dos dados sobre as mortes de afrodescendentes. A falta dessas informações foi registrada principalmente nos estados do Maranhão, Ceará e Pará.
A socióloga Silvia Ramos, coordenadora da Rede de Observatórios, afirmou que a letalidade de pessoas negras pelas mãos de policiais deve ser vista como uma questão política e social. "As mortes em ação da polícia também trazem prejuízos às próprias corporações que as produzem. Precisamos alocar recursos que garantam uma política pública que efetivamente traga segurança para toda a população", observou ao G1.
rc/cn (ots)