O equilíbrio entre ruptura e inovação em companhias gigantes para criar novos modelos de negócio que crescem exponencialmente. Foi isso que a 3ª edição do Spin-Off Summit, que aconteceu na manhã desta quinta-feira (28), discutiu por meio das histórias trazidas pelos executivos da Eve Air Mobility e da Stix, empresas spin-off que surgiram da Embraer e do grupo GPA e RaiaDrogasil, respectivamente.
Hoje, não basta que os negócios aprimorem o que já produzem. A constante criação de novos modelos de empresa é necessária para que grandes corporações se mantenham relevantes e continuem com seu espaço no mercado. Organizada pela Vibra Digital, spin-off de tecnologia e estrategista digital do Grupo Bandeirantes de Comunicação, em parceria com a B2B Match, a mais recente edição do Summit deixou claro esse aprendizado.
Todo produto ou serviço oferecido por uma empresa tem uma trajetória natural: nasce, cresce com a adesão de mais clientes, decai e morre. Com a tecnologia, essa curva de existência tem se tornado cada vez mais curta.
“Num momento de extrema tecnologia, produtos morrem cada vez mais rápido”, aponta a dra. Glaucia Guarcello, uma das palestrantes do Summit e professora da SingularityU. “Isso reflete a grande mudança de comportamento da sociedade. Como vivemos, nos locomovemos, compramos, tudo mudou nos últimos anos”, completa.
Nesse cenário de incerteza, é necessário que empresas tragam inovações sempre e explorem novos modelos de negócios. Mas se engana quem acha que o rostinho da inovação é, na maioria, o jovem recém-formado que começou uma startup no porão de casa, como Mark Zuckerberg fez com o Facebook.
Estudos trazidos por Guarcello apontam que, enquanto o índice de sucesso de startups é de 10%, o de empresas de venture associadas a grandes corporações é de 40%. Isso porque os talentos no centro dessas novas empresas que surgem de um negócio já consolidado - como as spin-offs - são mais maduros. A construção da resolução de problemas, então, é melhor desenhada.
Os mais bem-sucedidos são os executivos com 10, 15 anos de empresa, que resolveram partir para o risco com essa experiência acumulada, explica a professora.
Segmento novo lidando com problema que já existe
Nascida da Embraer, a maior desenvolvedora de aeronaves do mundo, a Eve Air Mobility surgiu com uma proposta ousada: criar um sistema de mobilidade aérea dentro das grandes cidades com um novo tipo de veículo voador, os eVTOLs.
“Não estamos fazendo helicóptero elétrico, nem carro voador. Estamos criando um segmento novo para endereçar um problema de mobilidade que já existe. Porque todo mundo sabe como pode ser doloroso ficar horas parado no trânsito de uma marginal”, explica André Stein, cofundador e CSO da Eve.
O eVTOL nada mais é que um tipo de híbrido entre um drone e um pequeno avião comercial. Com decolagem e aterrissagem vertical, ele é pensado para o pouco espaço disponível nas grandes cidades. Para São Paulo, a empresa prevê que existam 450 veículos em circulação, disponíveis para uso do público.
“Não vai substituir o carro, mas traz uma opção. É aniversário do seu filho e você está no escritório do outro lado da cidade? Você pode substituir o deslocamento de 2h por 15 minutos”, diz Stein. “Pensa em tudo que a mobilidade aérea fez no passado. Os aviões encurtaram distâncias. A proposta da Eve é multiplicar essas possibilidades para dentro da cidade”.
O primeiro protótipo do eVTOL será lançado ainda neste ano. Em maio de 2022, a Eve foi listada na NYSE, uma das bolsas de Nova York, com avaliação de 2,8 bi de dólares. O valor é quase o dobro do que a empresa mãe, Embraer, tinha à época. E não para por aí: Stein aponta que a possibilidade de crescimento da companhia spin-off é exponencial, com previsão de gerar 750 bi de dólares até 2040.
Apesar de trazer inovação em relação à grande companhia da qual veio, só foi possível construir essa lista de números animadores da Eve com o know-how de meio século em desenvolvimento de aeronaves da Embraer. É nisso que reside o sucesso das spin-offs: aplicar experiência num modelo de negócios inovador.
Sistema gigante de microrrecompensas
Com uma proposta mais simples, mas possibilidade também grande de crescimento, a Stix foi lançada em 2020, no meio da pandemia de covid-19, a partir da RaiaDrogasil e do Grupo Pão de Açúcar. A ideia que guia a nova empresa é tão presente no dia a dia que faz pensar: “como não havia surgido antes?”.
Stix é um sistema de pontos de fidelidade no varejo que inclui os mercados Extra e Pão de Açúcar e as farmácias Raia e Drogasil. O participante gasta num dos estabelecimentos, acumula crédito e pode trocar por produtos ou descontos em qualquer uma das lojas. A operação já está presente em 4 mil pontos de venda e reúne 5 milhões de assinantes extremamente engajados.
“É a primeira coalizão brasileira de abrangência nacional”, conta Eduardo Leônidas, CEO da Stix. Hoje, são realizadas mais de 1 milhão de trocas por mês através do sistema.
“São microrrecompensas - chocolates, vinhos, descontos - mas justamente por isso que o número é cavalar, constituindo a maior operação de fidelidade do país”, aponta. Ainda neste ano, as lojas Polishop, Sodimaq e C&A devem fazer parte da rede.
Apesar dos números já ostensivos da operação, o embrião da Stix nasceu há apenas cinco anos, na criação do aplicativo de ofertas do Grupo Pão de Açúcar. “O sucesso foi grande em digitalizar a base de clientes. Por que, então, não ir além dos muros da marca e fazer disso um negócio?”, conta o CEO.
Leônidas aponta que o modelo de pontuação por meio de compras já era amadurecido no Brasil, através da fidelização por gastos no cartão, mas estava restrito às classes A e B+. A Stix surgiu com a proposta de criar um sistema mais abrangente e ligado ao dia a dia de consumo no varejo.
Para o CEO, a nova empresa inovou ao criar um modelo de negócios bem diferente das companhias mãe. Mas, ao mesmo tempo, agrega valor para os grandes varejistas da onde surgiu, porque viabiliza que mais clientes retornem. “É uma parceria. Somos um filho, mas não o filho rebelde”, diz.