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Premiê da Polônia denuncia aumento da espionagem em seu país

Donald Tusk diz que serviços "hostis" de inteligência estão em plena atividade, após escutas serem encontradas em sala de reuniões do governo. País tem papel fundamental no apoio à Ucrânia na guerra contra a Rússia.

Por Deutsche Welle

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O primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, alertou nesta terça-feira (07/05) que serviços "hostis" de inteligência estão em plena atividade em seu país, sugerindo que Belarus e Rússia estariam por trás de diversas ações de espionagem.

"Não devemos subestimar essa questão", afirmou Tusk, antes de uma reunião de gabinete convocada por ele para tratar de questões de segurança nacional. Segundo o premiê, o serviço secreto de Belarus teria colaborado com um juiz que teria acesso ao Ministério da Justiça.

O juiz Tomasz Szmydt da Corte Distrital Administrativa de Varsóvia também teria participado da tentativa de desmantelamento do Judiciário polonês ocorrida durante o governo ultraconservador do partido Lei e Justiça (PiS), derrotado nas urnas no ano passado.

Em postagem na rede social X, Tusk disse que que convocou a reunião para discutir uma "suposta influência russa e belorussa no aparato de poder da Polônia nos anos anteriores".

Na segunda-feira, relatos na impressa polonesa afirmavam que Szmydt pediu asilo em Belarus. Segundo a agência polonesa de notícias BeITA, ele requisitou pessoalmente "cuidados e proteção" ao presidente belarusso, Alexander Lukashenko.

O juiz justificou suas ações afirmando que temia ser alvo de uma "acusação fabricada de espionagem" em seu país, por não concordar com as políticas do atual governo. Segundo relatos, Szmydt considerava Lukashenko um "líder muito sábio" e alertou que os Estados Unidos tentavam arrastar a Polônia para um conflito armado.

Szmydt ficou conhecido em 2019 em meio às manobras do governo do PiS para avançar uma controversa reforma judicial no país. À época, ele e sua esposa tomaram parte em campanhas difamatórias contra juízes que eram críticos aos planos governistas.

Investigado por espionagem

O Ministério Público polonês informou ter aberto um inquérito para averiguar se o juiz teria colaborado com algum serviço secreto estrangeiro. O ministro da Justiça da Polônia, Adam Bodnar, afirmou que Szmydt tinha acesso a documentos confidenciais em suas atribuições como juiz.

"Temos que estar cientes que esses serviços, nesse caso, os de Belarus, colaboraram com uma pessoa que tinha acesso direto ao Ministério da Justiça e a vários documentos confidenciais aos quais nenhuma agência de inteligência tinha acesso", disse Tusk.

"O fato de o relacionamento do juiz Szmydt com os belarussos possuir uma longa história, não sendo uma questão apenas dos meses recentes, deve ser causa de grande preocupação."

A coalizão de centro direita liderada por Tusk pôs fim ao governo do PiS ao vencer as eleições de 15 de outubro do ano passado.

A Polônia – Estado-membro da União Europeia (UE) e da Otan – faz fronteira com o Belarus e com a Ucrânia. O país é um dos maiores apoiadores de Kiev na guerra contra a Rússia. O Belarus, por sua vez, é um aliado próximo de Moscou.

Durante os mais de dois anos desde o início da guerra da Ucrânia, a Polônia se tornou um centro de distribuição dos armamentos fornecidos pelo Ocidente ao Exército ucraniano e se mantem em alerta máximo para casos de espionagem.

Escutas em sala de reuniões do governo

Serviços de inteligência da Polônia relataram nesta terça-feira terem encontrado e removido aparelhos de escuta em uma sala de reuniões que seria utilizada nesta terça-feira pelo Conselho de Ministros de Estado. Não está claro por quanto tempo esses aparelhos estavam no local ou quem os teria colocado.

A reunião ocorreria na cidade de Katowice, no sudoeste polonês, onde Tusk participa de uma conferência econômica.

Um porta-voz dos serviços de inteligência afirmou que o equipamento encontrado seria capaz de registrar áudio e vídeo. Ele disse que é difícil dizer se esses aparelhos foram instalados há anos no local e não foram descobertos, ou se teriam sido colocados ali recentemente.

Fim do ultraconservadorismo

A retomada do poder por Tusk no ano passado encerrou um ciclo de domínio do PiS, que estava no poder desde 2015.

O partido combinou uma fórmula de gastos sociais mais altos com políticas socialmente ultraconservadoras e apoio à Igreja nesta nação majoritariamente católica. No entanto, os críticos também apontaram que o PiS agiu para reverter muitas das conquistas democráticas desde que a Polônia se viu livre do regime comunista em 1989.

Até mesmo o governo dos Estados Unidos, aliado de longa data da Polônia, manifestou preocupação com a erosão da liberdade de imprensa e da liberdade acadêmica na área de pesquisa do Holocausto na Polônia.

Os críticos apontam principalmente para a ofensiva do PiS contra o Judiciário e a mídia independente no país. O PiS também instrumentalizou o preconceito contra minorias, principalmente LGBTQ+, e instituiu medidas para reprimir o direito ao aborto.

A retomada do poder por Tusk também pode pôr fim a uma disputa de longa data entre a União Europeia e a Polônia sobre a controversa reforma judicial promovida pelo PiS e, consequentemente, a atribuição de bilhões em fundos congelados da UE.

rc (Reuters, AFP, DPA)

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