Psicanalista diz que, para fugir, transformamos a Angústia em outros sentimentos

O programa abordou diversos ângulos, questões e sentimentos ligados à Angústia, que foi tema de uma série especial no Jornal da Band

Da Redação

O Canal Livre desta semana recebeu o psicanalista Christian Dunker, que falou sobre angústia. No programa foi debatido o que é esse sentimento, além de como ele se manifesta. O programa também discutiu outros problemas relacionados à saúde mental. 

Christian começou comentando sobre a questão da pandemia. Quase todos os estados do Brasil já deixaram de exigir o uso de máscaras em ambientes fechados e abertos, o que não deixa de gerar uma apreensão nas pessoas. 

“De fato esse percurso da pandemia exigiu um sacrifício muito grande das pessoas, exigiu uma consciência que o outro lá fora era perigoso. E que foi preciso interpor algo, uma máscara, para me proteger do outro. Isso é um sacrifício muito grande, não natural. E agora deixa sequelas. Mesmo sabendo que agora está mais seguro, a mente não tem um botão de voltar. Estamos sim tendo uma conversa de angústia com as máscaras” disse.  

É possível domar a angústia?

Questionado pelo jornalista Fernando Mitre, Christian respondeu se seria possível domar a angústia, que é um sentimento inerente do ser humano. “Talvez seja possível administrá-la, mas não sei se é desejável. A gente vê algumas existências que se passam numa contínua fuga do confronto com a angústia. E isso pode transformar a angústia em outro sentimento aparentado, como medo, ódio e insegurança. O que a gente mais gosta é transformar a angústia para fugir dela” afirmou. 

O professor também explicou como o processo de decisão, que todos nós temos todos os dias, gera esse sentimento. “A liberdade, especialmente quando a gente supera essa ideia mais simples de que é entre isso ou aquilo. Quando a gente olha pra liberdade com escolhas, sobre escolhas sobre escolhas, a gente vai se deparar com o abismo. Vamos nos deparar com aquilo que de certa forma nos ultrapassa! Por isso, desde os antigos a angústia é esse afeto temido porque eu não consigo nomear. Eu não consigo dizer do que isso é feito”. 

Questionado por Gilberto Smaniotto, que produziu uma série sobre o tema para o Jornal da Band, Christian Dunker respondeu como sentimos a angústia. 

“Você pode dizer que sente a angústia na base do pescoço, depois desce. É como se fosse uma pata de elefante que acompanha a sua vida, e você vai respirando cada vez menos. E às vezes ela se manifesta como uma picada de abelha, que te faz transpirar, e que você acha que vai morrer naquela hora! Você acha que vai ficar louco. E isso é uma angústia aguda, que podemos chamar de pânico” esclareceu. 

Diferenças entre angústia e ansiedade

O professor explicou as diferenças entre a angústia e a ansiedade. “Que é bem diferente da ansiedade. A gente pode usar uma imagem que é a ansiedade tem a ver com o anseio, o que vai acontecer. Por exemplo: eu pego você e começo a arrastar você para um lugar. Você começa a ficar ansioso, de para onde eu estou indo. Te levo, coloco você num quarto escuro e jogo a chave fora. E aí você tem a angústia”.  

O professor também deu seu relato de quais são as situações que mais provocam a angústia nas pessoas o que o procuram para o auxílio em lidar com esse sentimento. 

“A variedade é grande Mas podemos dizer que a maior fonte de sofrimento que a gente experimenta tem relação com o sofrimento dos outros. Tem que ver com o fato de que quando a gente ama, e quando a gente vive em coletivos, eu estou preocupado com a minha esposa, com meus filhos, com o futuro da nação... E isso cria um “entranhamento” que gera uma pergunta que é mais ou menos assim: qual o meu lugar no mundo? Esses grandes eventos externos se aproveitam de coisas que já estavam dentro de nós, que já estavam aí. As maiores demandas que temos em consultório são as relacionais e sintomas que estão sendo hiper nomeados como depressão, ansiedade, ideias fixas, dores pelo corpo, que são destinos para a angústia” finalizou.

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