Punks ocupam ilha frequentada pela elite alemã

Movimento se propõe a combater gentrificação em Sylt, no Mar do Norte, e "perturbar férias das elites". Escândalo recente envolvendo jovens de classe média alta cantando música xenófoba na ilha fortaleceu protesto punk

Por Deutsche Welle

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Punks de diversas partes da Alemanha começaram a se reunir na ilha de Sylt, no Mar do Norte, para protestar contra o capitalismo. Jovens esquerdistas chegaram ao resort no último fim de semana (20-21/07), sobretudo de trem, de penteado moicano, camisetas rasgadas e piercings faciais, a fim de "perturbar as férias das elites".

Cerca de 30 pequenas tendas estão armadas num prado próximo ao aeroporto local. Esse acampamento de verão, que se realiza pela terceira vez consecutiva, está programado para durar seis semanas, incluindo leituras, oficinas e eventos artísticos, segundo o grupo organizador, Aktion Sylt.

"A questão central é a gentrificação de Sylt: os ricos estão se mudando para cá, a ilha está ficando aristocrática e os outros não podem mais arcar com os custos aqui", explica o coorganizador Jonas Hötger, de Frankfurt. Em consequência, muitos dos funcionários das lojas de moda, restaurantes, bares e clubes privados locais não tem mais como morar na exclusiva ilha, sendo forçados a viajar diariamente para o trabalho.

O grupo recorreu a crowdfunding para financiar comida, sanitários químicos, coleta de lixo e um palco. O acampamento de protesto foi registrado junto às autoridades e deverá estar desmontado até o meio-dia de 6 de setembro, informou o porta-voz municipal da Frísia do Norte, Hans-Martin Slopianka.

O evento de 2024 também aborda a proteção climática, e está prevista uma manifestação por semana. "Certamente várias centenas vão se reunir aqui durante a ação", afirma o porta-voz do Aktion Sylt Marvin Bederke.

Escândalo em Sylt: L'amour toujours com letra nazista

Em seu website, o Aktion Sylt promete "transformar em coisa do passado os retiros seguros para coletores de subvenções fascistas, herdeiros nazistas sonegadores de impostos e destruidores do mundo retrógrados".

Conhecida como resort de férias de ricos no litoral alemão do Mar do Norte, Sylt fez manchetes em maio de 2024, com a divulgação de um vídeo numa casa noturna de alto padrão, em que jovens superpunham palavras de ordem xenófobas à canção L'amour toujours, do DJ italiano Gigi D'Agostino. Pelo menos um dos participantes parecia fazer a saudação nazista enquanto imitava com os dedos o bigode de Adolf Hitler.

Diversos comentaristas interpretaram as imagens como uma alarmante revelação de até que ponto a ideologia ultradireitista penetrara os meios burgueses alemães. Em reação, pouco depois um pequeno grupo de punks se reuniu em Sylt com uma faixa "Fazer barulho contra a extrema direita", prometendo uma mobilização forte no acampamento deste verão.

O primeiro protesto do Aktion Sylt coincidiu com a instituição temporária, em 2022, do 9-Euro-Ticket, que permitia o uso dos transportes públicos e regionais de toda a Alemanha por 9 euros mensais.

Veranistas da ilha reclamaram do barulho, lixo e mal cheiro provocados pelo acampamento, resultando em 2023 numa ordem judicial para que fosse desmontado antes da data marcada. O podcaster Frank Deppe, de Sylt, relatou sobre conflitos entre os manifestantes e os comerciantes locais, envolvendo insultos e até troca de socos.

av (DPA,ots)

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