Quão protegidas estão as usinas nucleares na Ucrânia?

Abate de drones kamikazes russos próximo à usina nuclear no oeste do país acende alerta sobre segurança desses locais

Por Deutsche Welle

Autoridades ucranianas relataram na noite de 25 de outubro o abate de drones kamikazes russos Shahed nas proximidades da usina nuclear de Khmelnytsky, no oeste da Ucrânia. A queda de destroços e a onda de detonações causaram danos significativos na cidade de Netishyn, onde moram funcionários da instalação. O munícipio vizinho Slavuta também foi atingido.

Danos foram registrados ainda nas instalações da usina nuclear de Khmelnytsky. Segundo o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, o local seria o provável alvo do ataque russo.

Especialistas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que estavam na usina confirmaram duas fortes explosões nas proximidades. Depois, foram informados que dois drones teriam sido abatidos a cinco a 20 quilômetros de distância.

O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, informou que fortes explosões estremeceram a região próxima à usina e que o fornecimento de energia em algumas estações de medição da radiação chegou a ser temporariamente interrompido. As explosões teriam destruído janelas das instalações, mas não impactaram o funcionamento da usina. A ligação à rede elétrica também não foi afetada.

"Esse incidente reforça mais uma vez a situação extremamente instável da segurança nuclear na Ucrânia, que permanecerá assim enquanto durar essa guerra trágica. A destruição de várias janelas mostra quão perto foi. Da próxima vez, podemos não ter tanta sorte", frisou Grossi.

O que usinas nucleares podem suportar

As usinas nucleares são as principais fontes de energia da Ucrânia. Sua proteção é muito importante, pois o sistema energético ucraniano depende quase inteiramente delas no outono e inverno, afirmam analistas. No verão, unidades de várias usinas nucleares foram desligadas para manutenção, a fim de poder operar em capacidade máxima no inverno, conta a especialista em energia atômica Olha Kosharna.

"Não conseguiremos passar o inverno sem as usinas nucleares, pois no inverno passado muitas usinas térmicas foram destruídas e não foi possível restaurá-las rapidamente", acrescenta.

Os reatores de usinas nucleares são bem protegidos e podem resistir até mesmo à queda de um pequeno avião, reforça Dmytro Humenyuk, diretor do departamento de análise de segurança do Centro Estatal Técnico-Científico para Segurança Nuclear e Radiológica da Ucrânia. Desse modo, os destroços de drones ou mísseis abatidos são menos perigosos para as usinas do que para outras infraestruturas energéticas que asseguram o funcionamento das centrais nucleares.

Por outro lado, qualquer atividade militar próxima a essas usinas representa uma ameaça: "O reator fica em uma capa de proteção concebida para resistir a influências externas extremas, como tornados, furacões, terremotos e até mesmo a queda de um avião de pequeno porte, e teoricamente também à queda de destroços. Mas que tipo de destroço? Um pedaço de um míssil Kalibr que não explodiu é considerado um fragmento que pode colocar em risco à segurança da instalação", alerta Humenyuk.

Proteção extra para as subestações

O especialista lembra que uma usina nuclear não consiste apenas de um reator, mas é uma instalação complexa de sistemas de segurança com uma rede que, por um lado, fornece eletricidade à usina e, por outro, transporta a energia produzida. Danos causados pela queda de destroços ou pelo bombardeio de linhas de transmissão e de subestações podem causar uma queda de energia na usina e desencadear uma situação perigosa.

Segundo Kosharna, as subestações de alta tensão, por onde a eletricidade produzida nas usinas alimenta a rede interligada e sem as quais uma central nuclear não pode funcionar com segurança, precisam ser especialmente protegidas tanto de ataques aéreos e de drones, quanto da queda de destroços. "Quando essas subestações são atacadas, é ativada uma proteção de emergência da usina nuclear. Esse desligamento de emergência é muito perigoso para a usina."

A empresa estatal de energia Ukrenergo tenta construir uma infraestrutura de proteção de vários níveis, especialmente nas subestações de alta tensão que asseguram o funcionamento das usinas nucleares. Segundo o presidente da Ukrenergo, Volodimir Kudrytskyi, o mais importante é uma proteção ativa das instalações energéticas por meio de sistemas de defesa aérea.

Ele explica que, além disso, está em operação uma proteção técnica passiva em diversos níveis. O primeiro protege a unidade de destroços de mísseis ou drones; o segundo, diretamente contra drones e o terceiro, o mais complexo, do impacto de mísseis. "Essa proteção passiva ajuda a evitar danos nas nossas instalações ou a minimizar a extensão desses danos, impedindo, por exemplo, a falha total de uma subestação de alta tensão, que pode ter consequências graves."

Por esse motivo, a Ucrânia espera receber mais sistemas de defesa aérea, afirma o porta-voz da Força Aérea Ucraniana Jury Ihnat. Indagado como a proteção da infraestrutura energética do país pode ser reforçada, e se a defesa se concentraria nisso, ele afirmou não ser possível concentrar os sistemas de defesa aérea ao redor de usinas nucleares.

"É claro que é possível trabalhar localmente com armas antiaéreas, mas elas são de curto alcance. Elas podem localizar o alvo por radar e destruir um drone automaticamente. Se um drone for perdido já na aproximação e estiver chegando mais perto, essas armas são a última esperança para destruir o objeto", explica Ihnat.

Autor: Lilia Rzheutska

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