Uma equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) capturou quatro peixes-leões, da espécie Pterois volitans, invasora e venenosa, que estão congelados e serão encaminhados para análise genética na Universidade Federal Fluminense (UFF).
O analista ambiental do ICMBio, Ricardo Araújo, coordenador de Pesquisa, Monitoramento e Manejo, disse à Agência Brasil que este já é o quarto peixe dessa espécie capturado no Arquipélago de Fernando de Noronha. O primeiro caso ocorreu em dezembro do ano passado, e os outros três somente neste mês de agosto.
“Como é um bicho exótico, ele não é reconhecido pelos predadores como uma presa. Ou seja, ele não é comido por quase ninguém. É um bicho voraz e ao mesmo tempo, é uma potencial ameaça; come os outros bichos mais facilmente”, explicou o especialista. “Ele come muito, se reproduz rápido e não é reconhecido como um predador. Esse é o problema dele”.
Araújo comentou que os animais nativos do arquipélago vão sofrer com um problema ambiental, porque essa espécie marinha vai comer os filhotes dos outros bichos, acarretando falta de outros peixes. “É um problema ambiental e pode ser também socioambiental”.
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Monitoramento
O ICMBio vem monitorando o animal, junto com empresas de mergulho e mergulhadores da ilha, bem antes de o peixe-leão aparecer na região. A espécie Pterois volitans é nativa da Indonésia. Foi levada para a Flórida e dali se espalhou para o Caribe, de onde está descendo e chegando ao Brasil. Para descobrir corretamente de onde o peixe veio, os pesquisadores terão de investigar a genética do animal, o que deverá ser feito na UFF. Nos últimos sete anos, eles já foram vistos em Arraial do Cabo (RJ), na foz do Rio Amazonas, chegando recentemente ao arquipélago de Fernando de Noronha.
No momento, o instituto está fazendo a capacitação de mergulhadores para que eles reconheçam a espécie e saibam o que fazer se o encontrarem. “A gente agora vai começar a fazer uma caça mais ativa dele. Procurar o bicho para retirá-lo do ambiente”, explicou Ricardo Araújo. Ele disse ainda que esse é o primeiro peixe exótico capturado pelo ICMBio no Arquipélago de Fernando de Noronha.
Análises
Os pesquisadores do Departamento de Biologia Marinha da UFF, sob a coordenação do professor Claudio Eduardo Leite Ferreira, junto com pesquisadores de outras instituições do Brasil, dos Estados Unidos e do ICMBio, estão aguardando o envio dos peixes-leões capturados em Fernando de Noronha e também na Foz do Amazonas, para iniciar as análises.
O professor Leite Ferreira informou à Agência Brasil que será retirado tecido dos animais para fazer teste de DNA. Com isso, os pesquisadores vão saber se ele faz parte da população do Caribe. “Com certeza faz, mas o DNA vai ajudar a comprovar isso”. Serão feitos também estudos da dinâmica populacional dessa espécie que está invadindo o Brasil. “São os peixes-leões brazucas!”, brincou.
Serão retirados ainda a gônada, para ver como está o estado reprodutivo do animal, e o otólito, osso situado dentro da cabeça, no ouvido interno, relacionado ao equilíbrio. “Com esse otólito, a gente vai saber qual é a idade dele”. O estômago será aberto para ver o que o peixe-leão está comendo, quais são as presas preferenciais dele. “Faz-se um estudo de genética e de dinâmica populacional”, acrescentou o professor.
Contenção
Neste início de invasão, Ferreira afirmou que o que pode ser feito, como ocorreu no Caribe, é conter a população no processo de captura, para manter baixa a presença do animal. “Assim, a gente diminui a abundância dele”.
Carlos Eduardo Leite Ferreira informou que assim como o mangangá, também conhecido como peixe-escorpião ou peixe-pedra, o peixe-leão tem espinhos nas nadadeiras que são altamente venenosos. A espécie, no entanto, pode ser comida. O problema, segundo o professor, é saber manuseá-la. Ao contrário do mangangá, cujo veneno pode causar a morte, os espinhos do peixe-leão provocam apenas inflamação, assegurou o professor da UFF. “Como outros peixes venenosos, tem que saber limpar. E a carne dele é muito boa. No Caribe, há muitas receitas com ele”.
Dependendo da quantidade de peixes que o Departamento de Biologia Marinha da UFF receber, as análises podem se estender por três a quatro meses. “Depende do tempo em que o peixe vai chegar às nossas mãos”. Em termos de dinâmica populacional, para se entender idade e reprodução, são demandados entre 30 até 100 peixes. Para o estudo de DNA, serão necessários em torno de 20 peixes. “A gente vai juntar esses peixes com os que estão sendo capturados na costa norte do país, na foz do Amazonas, pescados pelo ICMBio e pescadores locais”, disse o professor.