Quem nunca foi professor pode ser diretor de um colégio?

Profissionais que nunca trabalharam em uma escola podem assumir a direção de um colégio? A experiência prévia na vida escolar não é trivial e não pode ser subestimada.

Por Deutsche Welle

Há alguns meses, uma colega do mestrado compartilhou uma situação profissional que traz luz para uma questão que merece atenção. Ela é professora de formação e assumiu a direção da escola onde trabalha, mas, segundo ela, não foi oferecida uma preparação adequada para o cargo. Dessa maneira, sem buscar ela própria uma capacitação por fora, provavelmente não faria um bom trabalho na gestão do colégio.

Pouco tempo depois, entrei num debate com outro colega de turma. Segundo ele, os cargos de gestão não precisam ser assumidos por ex-professores ou por profissionais com qualquer tipo de atuação prévia em escolas. Eu, por outro lado, acredito que é necessário que o cargo de gestão dos colégios seja assumido por ex-professores.

Abordo essa discussão nesta coluna e encorajo que o debate se estenda de forma saudável. Tentarei, ao máximo, não trazer tanto viés, mas quero lembrá-los que estamos aqui em uma coluna, ou seja, um texto de opinião, que, naturalmente, sempre será enviesado.

Meu colega defende a tese de que deveria haver uma escola nacional para a formação de gestores escolares ou, caso isso não seja possível, que graduados em administração possam assumir os cargos de direção escolar. Em ambos os cenários, o cargo poderia ser assumido por qualquer um com a formação necessária, mesmo que nunca tenha pisado em um colégio numa posição diferente da de um estudante.

Formação nacional para diretores?

Bom, a ideia de uma escola de formação para diretores não é ruim, mas, enquanto política pública, precisamos pensar aqui no federalismo brasileiro e em sua relação com a estrutura educacional do país a nível institucional.

O país tem 27 unidades federativas e 5.568 municípios. Portanto, são 27 secretarias estaduais, centenas de regionais e, além disso, milhares de secretarias municipais. Garantir uma formação uniforme e com qualidade é um desafio. É impossível de ser executado? Não, mas requer muito investimento e em todos os níveis, não somente o financeiro.

Paralelo a isso, e o que mais me incomoda na ideia, é permitir com que pessoas sem qualquer tipo de experiência prévia na educação possam estudar nessas escolas de formação. Isso é um grande problema.

Formados em administração?

É fato que temos excelentes cursos de administração no país. Não tenho qualquer tipo de receio sobre a qualidade da formação dos discentes. Alinhado a isso, acredito sim que é necessário que os gestores escolares tenham não apenas um know-how sólido em administração como também uma robusta capacitação para a função.

No entanto, não podemos subestimar a diferença entre administrar uma empresa e administrar uma escola. As diferenças não são sutis e muito menos irrelevantes.

Afinal, quem deve ser diretor escolar?

Como dito acima, há particularidades na gestão de um colégio que não podem ser subestimadas. Justamente por isso, defendo, com unhas e dentes, a tese de que a direção de escolas deve ser assumida por ex-professores ou, pelo menos, por profissionais com anos de atuação dentro de algum colégio.

Quem aqui trabalha ou trabalhou em escola sabe que é uma organização muito ímpar. Apesar dos pontos em comum entre colégios, há uma expressiva heterogeneidade. Na gestão, há demandas de professores, da coordenação, dos alunos, dos pais e da própria comunidade onde a escola está inserida. Entender essas idiossincráticas é fundamental para a realização de um bom trabalho, e essa bagagem não vem de livro ou de uma formação regular em gestão de empresas.

Se alguém contra-argumentar minha tese dizendo que não há a quantidade necessária de professores qualificados, eu pedirei gentilmente que visite algumas escolas e conheça o corpo docente. Na rede pública brasileira, há professores que são não somente grandes guerreiros, resistem a um sistema que não os valoriza e fazem um excelente trabalho, como também seguem se capacitando. Eu já tive a oportunidade de conhecer centenas desses e fico sempre muito admirado. Encantado com o nível de qualificação e resistência, com o grau de compromisso e com o amor, tão latente quanto no início, pela educação.

Tentando entender a tese do meu colega, eu acredito que é necessário que a gestão das escolas seja assumida por profissionais qualificados. Infelizmente, há sim muitos que assumem o cargo sem a qualificação necessária e que recebem pouco ou nenhum suporte concreto para tal responsabilidade. Além disso, sendo honesto, ainda há professores não transparentes e justos.

Portanto, primeiramente, é necessário que os professores que assumem gestões escolares sejam justos, transparentes e imparciais. O que não falta são bons profissionais em nossa rede de ensino. No entanto, tornar o processo mais eficiente não é o bastante.

Aqui retorno a ideia da escola de formação para gestores. É primordial que todo professor que assuma o cargo de gestão tenha acesso a uma formação continuada, bem estruturada, séria e com a qualidade que merece. Esse, a nível nacional, é para mim o melhor cenário: contar com profissionais que já conhecem a vida de um colégio e oferecer para eles toda a capacitação necessária para o cargo administrativo de gestão.

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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1

Este texto foi escrito por Vinícius De Andrade e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

Autor: Vinícius De Andrade

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