A futura ajuda militar dos EUA a Israel passa a depender agora da proteção aos civis de Gaza, que não devem mais ser vítimas da guerra contra o Hamas.
Em seis meses de retaliação pela morte de 1.200 israelenses durante uma invasão do Hamas em 7 de outubro, Israel matou, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 34 mil palestinos, a maioria mulheres e crianças. Desse total, entre 11 e 12 mil mortos seriam combatentes do Hamas, enquanto, do lado de Israel, 600 militares foram mortos.
Este foi o recado claro do presidente Joe Biden ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, durante um telefonema tenso de meia-hora, nesta quinta-feira, o primeiro desde a metade de março, provocado pela morte de sete voluntários que serviam refeições quentes à população faminta de Gaza, em um ataque de mísseis, nesta semana. Eles viajavam em três veículos blindados com o logotipo visível da World Central Kitchen, e em coordenação com militares israelenses, que assumiram a responsabilidade pelo “erro trágico” e pediram desculpas.
O presidente Biden, no entanto, reafirmou o apoio dos Estados Unidos à guerra contra o Hamas e a Israel, se atacado pelo Irã, depois do bombardeio israelense a um prédio em Damasco, na Síria, que matou três generais iranianos e quatro outros militares de milícias apoiadas pelo Irã. Ele está sob forte pressão do próprio partido Democrata e da comunidade árabe americana, que rejeitou convites para encerrar o Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos, na Casa Branca.
“O presidente Biden enfatizou que os ataques aos trabalhadores humanitários e a situação humanitária geral são inaceitáveis”, resumiu o telefonema com Netanyahu o governo americano. “Ele deixou clara a necessidade de Israel anunciar e implementar uma série de medidas específicas, concretas e mensuráveis para lidar com os danos civis, o sofrimento humanitário e segurança dos trabalhadores humanitários. Ele deixou claro que a política dos EUA sobre Gaza será determinada por nossa avaliação da ação imediata de Israel com relação a essas medidas”.
O jornal New York Times qualificou de “a mais incisiva declaração” emitida pela Casa Branca em seis meses de guerra contra o Hamas. O porta-voz da Casa Branca, John F. Kirby, explicou que o presidente Biden quer ver “medidas concretas e tangíveis” para reduzir a violência contra civis e ampliar a entrada de ajuda humanitária.
O primeiro-ministro Netanyahu não comentou sobre o telefonema, mas, sim, sobre o projeto dos EUA “de enfiar em nossa goela abaixo um Estado palestino, que será um outro paraíso do terror, outro campo de lançamento para um atentado, como foi o Estado do Hamas em Gaza”. E acrescentou: “Os israelenses se opõem a isso, de forma esmagadora”. Em outros comentários, falou sobre o Irã: “Saberemos nos defender, de acordo com o princípio simples pelo qual aqueles que nos atacarem ou planejarem nos atacar – nós os atacaremos.”
Israel entrou em prontidão máxima em suas fronteiras e em suas embaixadas no exterior, convocou mais reservistas, cortou as folgas de soldados em combate e embaralhou o GPS para confundir os drones inimigos. Quem seguia o Waze ou o Google Maps em Tel-Aviv recebia informações do trânsito em Beirute. A projetada ofensiva a Rafah, onde estão 1,5 milhão de palestinos que fugiram do início da guerra, ao norte, está suspensa, provisoriamente, depois que os EUA rejeitaram os planos apesentados por Israel para proteção dos civis.