O projeto de cessar-fogo e libertação de reféns proposto por Israel, apresentado na sexta-feira pelo presidente Joe Biden na Casa Branca, já considerado “positivo” pelo Hamas e elogiado por vários governos mundo afora, foi rechaçado neste sábado por... Israel.
Sim, Israel o propôs, Israel o recusou.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em comunicado raro no sábado judaico, reiterou que Israel não concorda com um cessar-fogo permanente em Gaza antes da destruição do Hamas. Já é muito estranho negociar, mesmo indiretamente, com quem é avisado que, no final, será destruído. O que dizer do recuo ao próprio projeto entregue aos EUA, com certeza aprovado pelo gabinete de guerra israelense, e que levou o presidente Biden a declarar, com confiança e solenemente, diante da multidão de repórteres reunidos para ouvir seus primeiros comentários sobre a condenação do ex-presidente Donald Trump:
“É hora desta guerra acabar”.
A hipótese mais plausível é que os ministros de extrema-direita Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich, não sendo membros do gabinete de guerra, não sabiam do projeto aprovado e passado aos EUA. Quando souberem, depois do sábado judaico, o shabat, com certeza vão protestar e ameaçar retirar do governo os votos que lhe garantem a maioria no Parlamento, derrubando o primeiro-ministro Netanyahu.
Para incentivar Netanyahu a manter o projeto, líderes na oposição lhe oferecem os votos que cobririam os retirados pelos partidos religiosos, mantendo-o no poder. O líder da oposição Yair Lapid declarou: “O governo de Israel não pode ignorar o discurso do presidente Biden. Há um acordo à mesa e ele deve ser levado adiante”.
A primeira das três fases do projeto detalhado na Casa Branca, com duração de seis semanas, prevê um cessar-fogo total, a retirada das tropas israelenses de todas as áreas povoadas de Gaza, e a libertação de reféns mulheres, idosos, crianças e feridos, em troca de centenas de prisioneiros palestinos. A segunda fase incluiria a libertação do restante dos reféns e a retirada total das forças israelenses de Gaza. (Aqui, um problema: Israel quer que o cessar-fogo, se mantido, evolua para uma “permanente cessação de hostilidades”, enquanto o Hamas quer uma frase que deixe claro o fim da guerra.) A terceira fase trata da reconstrução de Gaza e da repatriação de mortos.
As famílias dos reféns estão em campanha para que o projeto de Israel seja aceito por Israel, encerrando oito meses de guerra e sofrimento para israelenses e palestinos. “Esta pode ser a última oportunidade para salvar vidas”, declarou o irmão de um dos 123 reféns cativos nos túneis do Hamas. “Não há outro caminho para uma solução melhor para todos”. Neste sábado, o Hamas confirmou sua disposição de negociar qualquer proposta que tenha por base um cessar-fogo permanente e a retirada total de Israel de Gaza.