O tricampeão Ayrton Senna disputou 161 grandes prêmios em sua carreira na Fórmula 1. Ele subiu ao pódio 80 vezes, conquistando 41 vitórias e 65 pole positions. Na época da sua morte, Senna era o recordista de poles e estava só a dez vitórias do recorde que pertencia a Alain Prost, o ex-rival que acabou virando um amigo. Em número de voltas e de quilômetros na liderança, Senna também era o então recordista.
São inúmeros os momentos marcantes do ídolo brasileiro na F-1. De suas voltas voadoras para cravar poles, ou até mesmo em corridas que não ganhou, Senna protagonizou manobras para ultrapassar os adversários, e também para manter sua posição, que marcaram uma época de ouro na principal categoria do automobilismo.
Abaixo, em ordem cronológica, vamos relembrar dez das grandes corridas de Ayrton Senna na F-1.
GP de Mônaco, 1984: uma estrela começa a brilhar
No sexto GP de sua carreira na F-1, em sua temporada de estreia, Senna mostrou a que veio. Debaixo de muita chuva, ele largou em 13º a bordo de sua Toleman e deu um verdadeiro show nas ruas do Principado de Mônaco, numa espécie de prévia de tudo o que faria nos anos seguintes.
Escalando o pelotão com ultrapassagens e também com abandonos dos pilotos que sucumbiam à chuva, Senna aproximou-se da McLaren de Niki Lauda, que seria campeão naquela temporada. Com uma arrojada ultrapassagem sobre o austríaco, assumiu a segunda posição.
Na transmissão da Globo, Reginaldo Leme disse que a reação da imprensa internacional, maravilhada com Senna, era unânime. "Incrível", diziam todos. Senna aproximava-se rapidamente do líder Alain Prost, mas o mau tempo fez a corrida ser encerrada na volta 32 das 76 previstas. Ele chegou a passar Prost na bandeirada final, mas o resultado oficial foi o da última volta completada por todos os pilotos.
Mais importante do que o segundo lugar foi o seu cartão de visitas. Impressionado, o comentarista da BBC, o ex-piloto James Hunt — campeão em 1976 —, entendeu que o brilho do brasileiro não era fugaz. "Ele vai ser campeão do mundo no futuro, sem dúvida", disse Hunt. Dito e feito.
GP de Portugal, 1985: muita chuva na primeira vitória
Dessa vez o dilúvio era ainda maior do que o que caiu em Mônaco no ano anterior. Agora na Lotus, Senna largou na pole, a primeira de sua carreira. No início da prova, Hunt já elogiava o brasileiro: "ele é um talento prodígio".
Mostrando grande perícia debaixo da chuva torrencial que oferecia péssima visibilidade aos pilotos e fazia os carros aquaplanarem no circuito do Estoril, Senna liderou a prova de ponta a ponta e venceu com mais de um minuto de vantagem para o segundo colocado.
No mesmo dia em que o Brasil chorava a morte de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil depois da ditadura militar, Senna trazia um pouco de alegria naquele momento triste. "É maravilhosa, é uma sensação extraordinária", disse Senna sobre a emoção da primeira vitória.
GP da Espanha, 1986: vitória no photo finish
Senna largava na pole na segunda prova do ano, no circuito em Jerez de la Frontera, que estreava na F-1. Ainda no início, Nigel Mansell tentou ultrapassar o brasileiro, que levou a melhor. Mas no final da prova, o Leão inglês viria ainda com mais apetite. Numa caça alucinante a Senna, o piloto da Williams tentou a ultrapassagem até o último instante, com os dois cruzando a linha de chegada juntos, sem que fosse possível saber visualmente quem havia vencido.
Mas quem ganhou foi Senna, por míseros 0.014 segundos, assumindo pela primeira vez a liderança do campeonato.
GP de Detroit, 1986: com a bandeirinha do Brasil
Senna fez a pole do GP de Detroit e saiu do carro para ver o resto da dramática partida entre Brasil e França, pela Copa do Mundo, em que a Seleção foi eliminada nos pênaltis. No dia seguinte, mostrando toda a sua categoria em circuitos de rua, uma de suas principais características, ele venceu a corrida, que teve os franceses Laffite e Prost completando o pódio.
Após cruzar a linha de chegada, Senna viu um torcedor com uma bandeirinha brasileira e pediu para ele entrar na pista. Senna pegou a bandeirinha e acelerou, inaugurando uma imagem que passou a ser sua marca registrada. Novamente, uma vitória de Senna vinha para amenizar uma tristeza.
GP do Japão, 1988: divino campeão
Bastava uma vitória para Senna conquistar por antecipação o seu primeiro título mundial. Ele fez a pole, mas o motor de sua McLaren parou na hora da largada. Quando o carro pegou, Senna tinha caído para a 14ªposição, enquanto Alain Prost, seu companheiro de equipe, e com quem disputava o título, era o líder.
No final da 19ª volta, Senna já era o segundo. A garoa que caiu em Suzuka foi o ingrediente ideal para Senna tirar a diferença para Prost e encostar no francês, conseguindo a ultrapassagem na reta, na 27ª das 51 voltas. A partir daí, seguiu inabalável rumo ao título, abrindo treze segundos de vantagem sobre o francês no final da corrida.
Senna cruzou a linha de chegada visivelmente emocionado. Depois, contou que, quando se aproximava da bandeirada, pôde ver e sentir a presença de Deus.
GP do Japão, 1989: ganhou, mas não levou
Dessa vez, Senna precisava vencer em Suzuka para ainda ter chance de ser campeão na última prova, na Austrália. Caso contrário, seu agora inimigo Alain Prost seria campeão.
Senna cravou uma pole espetacular, mas teria a desvantagem de largar no lado sujo da pista, o que beneficiou Prost, que assumiu a ponta. Imprimindo um ritmo fortíssimo, o francês abriu boa vantagem.
Na volta 41, Senna enfim chegou em Prost, mas não conseguia ultrapassá-lo na reta, como fez no ano anterior. Na volta 47, Senna então deu o bote numa chicane, mas o francês jogou sua McLaren em cima da de Senna, que retornou à pista com a ajuda dos fiscais.
Ele precisou parar nos boxes para trocar o bico do carro e voltou atrás de Nannini, da Benetton. Na volta 51, a duas do fim, Senna ultrapassou Nannini no mesmo lugar em que deu o bote em Prost, conseguindo uma emocionante vitória depois de uma dramática reviravolta no fim.
Mas a demora para o início da cerimônia do pódio tinha uma razão. Comandada pelo francês Jean-Marie Balestre, a FISA desclassificou Senna alegando que ele retornou ilegalmente à pista após ser tocado por Prost.
GP do Brasil, 1991: chuva, suor e vitória
Já bicampeão, Senna buscava vencer pela primeira vez no Brasil. Ele fez a pole e manteve confortável liderança, principalmente depois que Mansell rodou e abandonou a prova. Com larga vantagem sobre Patrese, Senna começou a ter problemas de câmbio. Faltando oito voltas para o fim, tinha apenas a sexta marcha funcionando, o que lhe obrigava a fazer um grande esforço para manter o carro na pista, enquanto Patrese se aproximava cada vez mais.
Com chuva na pista, Senna venceu para o delírio do público. Sua McLaren parou logo em seguida. Debilitado pelo esforço, precisou de ajuda para sair do carro. No pódio, teve dificuldade até para levantar o troféu, mas tudo só tornou a vitória ainda mais inesquecível. "Deus me deu essa corrida, e eu tô feliz demais, a emoção foi muito grande", disse Senna.
GP de Mônaco, 1992: o balé de Senna em Monte Carlo
As Williams "de outro planeta", como definiu Senna, dominavam a temporada 1992 com cinco vitórias de Mansell nas cinco corridas iniciais, quebrando recorde do próprio Senna.
Em Mônaco, Mansell rumava tranquilo para sua sexta vitória seguida, quando teve que parar nos boxes com problemas no pneu. A liderança caiu nas mãos de Senna, mas o Leão veio com tudo para retomar a liderança.
O que se viu nas três voltas finais foi uma pressão do inglês, curva a curva, em cima do brasileiro que, com os pneus desgastados, fechava a porta como numa dança entre os dois carros. A proximidade era tanta que Senna disse que via o carro de Mansell em seus dois retrovisores.
Senna cruzou em primeiro e conseguiu sua quinta vitória no Principado, igualando o recorde de Graham Hill. No ano seguinte, venceria pela última vez, estabelecendo uma marca que até hoje não foi batida.
GP do Brasil, 1993: na chuva e no talento
Uma das Williams de outro planeta estava agora na mão do rival Prost. Só uma coisa poderia equilibrar a corrida em Interlagos: a chuva, melhor amiga de Senna.
E quando ela caiu, Prost rodou e bateu no carro de Christian Fittipaldi, para delírio da torcida. Senna se manteve na pista e, quando a chuva passou, fez uma ultrapassagem sobre a Williams de Damon Hill, numa manobra que mais se pareceu com um drible de futebol.
Depois que Senna cruzou a linha de chegada, ele teve que parar o carro por causa da multidão que invadiu a pista para comemorar com ele, que foi para os braços do povo. Festa completa em Interlagos.
GP da Europa, 1993: a melhor primeira volta da história
Na corrida seguinte à do Brasil, novamente só a chuva poderia ajudar Senna contra as Williams. Ela estava lá, no autódromo de Donington Park, e Senna retribuiu com uma primeira volta que é conhecida como a melhor da história.
Largando em quarto, ele caiu para quinto, mas foi aí que começou seu show. Primeiro, ultrapassou Schumacher. Depois, numa linda manobra, passou Wendlinger por fora. Em seguida, Hill ficou para trás. Faltava o rival Prost, mas Senna já estava à sua frente antes do fim da primeira volta. "Isso é puro Senna", definiu James Hunt.
Senna venceu com mais de um minuto de vantagem sobre Hill e uma volta à frente de Prost. Foi uma das maiores exibições de um piloto em toda a história da F-1. Em homenagem ao brasileiro, há no circuito uma estátua sua e de seu ídolo Juan Manuel Fangio.
Autor: Lucas Fróes