‘Paz imposta não pode ser permitida’, diz chanceler alemão sobre Ucrânia

Governo alemão se opõe à proposta de Trump de envio de tropas à Ucrânia para missão de paz, e líderes europeus saem de cúpula em Paris sem consenso sobre negociações

Por Deutsche Welle

‘Paz imposta não pode ser permitida’, diz chanceler alemão sobre Ucrânia
Chanceler alemão Olaf Scholz ao lado do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky
REUTERS/Gleb Garanich

Durante uma cúpula especial em Paris nesta segunda-feira (17), vários chefes de governo europeus concordaram em ampliar gastos militares e ajuda à Ucrânia, em resposta à determinação de Donald Trump de tirar de cena o relevante apoio de Washington.

No entanto, não chegaram a um consenso sobre uma das condições colocadas pelo presidente americano em seu impulso de tentar negociações com a Rússia para encerrar a guerra, que se arrasta há quase três anos: o envio de tropas europeias para uma missão de manutenção da paz no país invadido. Alemanha e Polônia se opuseram à proposta.

A reunião foi organizada pelo presidente francês Emmanuel Macron e teve a presença dos líderes da França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Polônia, Espanha, Holanda e Dinamarca, além dos chefes do Conselho Europeu, da Comissão Europeia e da Otan.

O chanceler federal alemão Olaf Scholz disse, após o encontro, que rejeita uma "paz imposta" e o envio de forças de paz para a Ucrânia, o que classificou de "altamente inapropriado".

"Essas discussões me surpreendem, eu admito. Eles estão falando pelas costas dos ucranianos sobre os resultados de negociações que não ocorreram, com as quais a Ucrânia não concordou e não foi convidada a participar", disse Scholz à mídia alemã ao sair da reunião.

"É um debate inadequado no momento errado e sobre o assunto errado", acrescentou. O líder alemão afirmou que os contatos entre os Estados Unidos e a Rússia devem ocorrer, mas enfatizou que "uma paz imposta não pode ser permitida".

O chanceler disse esperar que Kiev continue seu caminho para a adesão à União Europeia e defender sua soberania e segurança, o que precisaria do apoio europeu e dos EUA.

Scholz também destacou que todos os líderes presentes concordaram com a meta de investir 2% do PIB em defesa, embora "alguns não tenham chegado lá, mas estão a caminho".

Macron, que concovou a reunião às pressas para tratar do tema, falou com Trump por telefone pouco antes da cúpula e já tinha manifestado sua abertura à ideia de enviar tropas, contanto que não fosse uma "capitulação" da Ucrânia.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, deixou claro que estava pronto para fazer o mesmo, desde que os Estados Unidos fornecessem apoio.

A chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que "a Ucrânia merece paz por meio da força" e que isso deve "respeitar sua independência, soberania e integridade territorial, com fortes garantias de segurança".

Temor pela soberania da Ucrânia

O plano de Trump para resolver a guerra alimentou o receio de que pudesse conduzir a concessões dolorosas para Kiev e deixar o continente vulnerável ao expansionismo do Kremlin.

Os países europeus agora avaliam medidas para se tornarem menos dependentes dos Estados Unidos nessa questão, o que envolve aumento dos gastos com defesa e o envio de tropas para a Ucrânia como forças de paz quando um cessar-fogo for acordado.

Após a simbólica ligação telefônica de Trump para Putin, em que trataram de um possível início de negociações para encerrar a guerra, o governo americano enviou aos aliados europeus um questionário em que pergunta, entre outras coisas, se estariam dispostos a enviar soldados de manutenção da paz para a Ucrânia.

Trump disse ter concordado com a avaliação feita pelo secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, de que é improvável que a Ucrânia retorne às suas fronteiras pré-2014, quando a Rússia anexou a Crimeia ao seu território, e tentou minimizar a questão ao dizer que "parte daquela terra voltaria" aos ucranianos.

O presidente dos EUA também disse que não seria "prático" para a Ucrânia se juntar à aliança militar Otan, um desejo do presidente ucraniano Volodimir Zelenski.

sf (AFP, DPA)

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