O Senado dos Estados Unidos barrou nesta quarta-feira (07) a destinação de 64 bilhões de dólares (R$ 313,7 bilhões) a Ucrânia e Israel para gastos emergenciais na área de segurança, ameaçando as pretensões do governo de Joe Biden de destinar mais verbas ainda neste ano às duas nações em guerra.
Pelo projeto de lei rejeitado, que previa um total de 110,5 bilhões de dólares em gastos emergenciais do governo (R$ 541,6 bilhões), a Ucrânia receberia 50 bilhões de dólares (R$ 245,1 bilhões) adicionais para defesa e ajuda humanitária e econômica, enquanto Israel teria 14 bilhões de dólares extras (R$ 68,6 bilhões) para sua campanha contra o Hamas na Faixa de Gaza.
A rejeição foi apoiada pela bancada republicana, que pressiona Biden a adotar medidas mais duras de controle da imigração na fronteira com o México, por um placar de 51 a 49 – a medida precisava dos votos favoráveis de 60 dos 100 membros da Casa.
Os republicanos votaram em bloco contra, no que foram acompanhados por Bernie Sanders, ainda que por motivações distintas: enquanto Sanders, um independente que costuma acompanhar os democratas, alegou estar preocupado com a "estratégia militar desumana atual" de Israel na Faixa de Gaza, os republicanos dizem que a situação na fronteira é questão de segurança nacional e deve ter tratamento prioritário.
Ao argumentar pela aprovação dos gastos, o líder democrata Chuck Schumer advertiu os colegas sobre as "consequências duradouras para o século 21" de uma eventual derrota da Ucrânia, algo que poria em risco a própria democracia ocidental. Schumer sinalizou a intenção de reapresentar o projeto de lei no futuro.
Após a derrota no Senado, Biden reagiu afirmando que "a história vai julgar severamente aqueles que viraram as costas para a causa da liberdade".
Auxílio militar a aliados divide Congresso americano
Ainda que fosse aprovado no Senado, o envio de mais dinheiro a Ucrânia e Israel precisaria ser aprovado também pela Câmara, de maioria republicana – no passado, vários deputados do partido de oposição a Biden foram contrários ao envio de dinheiro a Kiev.
Nos últimos meses, o envio de verbas americanas a aliados da Casa Branca no exterior tem dividido congressistas. Duas medidas no governo não avançaram no Legislativo, e os ânimos vão se exaltando à medida em que o impasse periga se estender até 2024, quando haverá novas eleições presidenciais – com o repasse de verbas ao exterior sendo um tema impopular entre o eleitorado, mais voltado a questões internas.
Democratas argumentam que essas despesas são essenciais para apoiar a democracia em detrimento de ameaças autocráticas no exterior. Segundo esses congressistas, o bloqueio desses gastos sinaliza que o país não apoia, de fato, seus parceiros internacionais – uma mensagem que será captada também por adversários de Washington.
No início desta semana, a Casa Branca alertou em comunicado que o financiamento à Ucrânia está se exaurindo e que a falta de um acordo para o envio de nova ajuda põe em risco a segurança nacional dos EUA.
Apoio americano é decisivo, defende Casa Branca
Os Estados Unidos são os maiores financiadores dos esforços de guerra ucranianos. O país, alvo de investidas militares russas há quase uma década, sofreu uma invasão em larga escala em fevereiro de 2022 e tenta, desde então, expulsar as tropas do Kremlin de seu território. Ao longo desses quase dois anos de conflito, a Ucrânia teve aprovados 111 bilhões de dólares (R$ 542 bilhões) em apoio americano.
Na Europa, o temor é de que uma vitória russa leve a outros conflitos no continente e encoraje outras autocracias mundo afora, em um cenário geopolítico de mais instabilidade.
"Quem está preparado para desistir de responsabilizar [Vladimir] Putin pelo seu comportamento?", questionou Biden antes da votação no Senado.
Também antes da votação, falando a líderes do G7, o presidente ucraniano Volodimir Zelenski disse que o cálculo de Putin na guerra passa justamente pelo colapso do apoio do Ocidente à Ucrânia. "A Rússia acredita que os Estados Unidos e a Europa demonstrarão fraqueza e não manterão seu apoio à Ucrânia em um nível apropriado. Putin acredita que o mundo livre não irá reforçar totalmente suas próprias sanções. E a elite russa debocha das dúvidas do mundo sobre usar patrimônio russo para compensar os danos da agressão russa."
Quanto à guerra Israel-Hamas, democracias ocidentais também têm ressaltado a importância de sinalizar prontidão nas respostas ao terrorismo islamista como formar de desencorajar uma escalada de violência no Oriente Médio. Também Israel tem nos EUA seu maior aliado, e uma eventual demonstração de fraqueza militar por parte de Tel Aviv poderia ser lida por países vizinhos hostis como um convite à invasão.
O que querem os republicanos
O projeto de lei de gastos emergenciais rejeitado nesta quarta previa 20 bilhões de dólares (R$ 98 bilhões) para segurança na fronteira. Mas republicanos têm insistido na necessidade de ir além para restringir o direito ao asilo – algo a que muitos democratas se opõem categoricamente.
Entre as medidas encampadas pela oposição estão a detenção de famílias inteiras de imigrantes, mantendo-os no México até a análise de cada caso por uma corte migratória, e a concessão de mais autoridade ao presidente para a expulsão sumária de imigrantes antes mesmo que eles possam apresentar pedidos de asilo.
ra/bl (Reuters, ots)