Sobreviventes do Holocausto pedem voto contra ultradireita

Pessoas que resistiram ao terror nazista alertam para semelhanças daquela época com os dias atuais, e exortam os jovens a rejeitarem o extremismo. "Não conseguimos detê-los, mas vocês podem fazê-lo nos dias de hoje."

Por Deutsche Welle

Um grupo de oito sobreviventes do Holocausto – o massacre de seis milhões de judeus e outras minorias promovido pelo regime nazista – lançou um apelo aos eleitores jovens para que rejeitem os partidos de extrema direita e protejam a democracia nas próximas eleições europeias.

"Para milhões de vocês, as eleições europeias são as primeiras de suas vidas. Para muitos de nós, poderá ser a última", afirma a carta aberta divulgada nesta terça-feira (04/06) em Berlim, direcionada "aos nossos netos, aos que votam pela primeira vez e a todos os democratas".

"Da última vez que a extrema direita chegou ao poder, ainda éramos jovens, alguns de nós, crianças. Eles prometeram tornar esse país grande novamente. Prometeram que a Alemanha estaria em primeiro lugar e encontraram alguém para pôr a culpa por tudo o que deu errado: os judeus, os [povos nômades] sinti e rom, homossexuais, pessoas com deficiência e democratas convictos. Passo a passo, milhões de pessoas foram desprovidas de seus direitos, até lhes tirarem o direito à vida."

"Nós não conseguimos detê-los naquela época, mas vocês podem fazê-lo nos dias de hoje", escreveram os sobreviventes dos horrores do nazismo na Segunda Guerra Mundial.

"A extrema direita não chegou ao poder através de um golpe de Estado, mas por meios democráticos. Muitos os subestimaram, não os levaram a sério. Poucos anos depois, a paz se transformou em guerra; nossa democracia se tornou uma ditadura."

A carta, publicada pela entidade de direitos humanos Avaaz, foi assinada por oito mulheres e homens com idades entre 81 e 102 anos.

"Muito em comum" com os nazistas

"Eu sei que naquela época havia uma situação similar à de hoje: um governo democrático vulnerável e um partido que reuniu as pessoas que estavam insatisfeitas", disse Walter Frankenstein, de 99 anos, em mensagem de vídeo.

"É por isso que os jovens de hoje não podem somente dizer 'eu não sei em quem votar, então prefiro nem ir votar'. Isso é a pior coisa que se pode fazer. Nossa democracia tem de ser defendida, vez após vez."

O partido ultradireitista alemão Alternativa para a Alemanha (AfD) está com 15% das intenções de voto, segundo pesquisas sobre as eleições europeias, marcadas para 9 de junho.

Ruth Winkelmann, que se escondeu dos nazistas com sua mãe e sua irmã em um galpão após seu pai ser deportado pelo regime para o campo de concentração de Auschwitz, disse que assinou a carta por entender que "a AfD está se tornando muito forte".

Para ela, "a extrema direita atual tem muito em comum" com os nazistas da década de 1930.

"Todos nós somos a democracia, jovens ou velhos. Avós e netos. Judeus, cristãos, muçulmanos, ateus. Cabe a nós todos fazermos deste país e da Europa o que sonhamos. Milhões já saíram às ruas este ano contra o extremismo de direita, o que nos dá esperança. Uma Europa unida e pacífica é um presente maravilhoso para todos nós. Nós todos conseguimos lembrar de um tempo em que isso era algo impensável", conclui a carta.

rc (dpa, AFP)

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