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'Temos de ser mais firmes': líderes falam dos desafios de ser mulher no trabalho

Solidão, machismo e pouca valorização inspiram presidentes e diretoras a criarem rede de apoio para futuras gestoras crescerem na carreira

Por Luiza Lemos

'Temos de ser mais firmes': líderes falam dos desafios de ser mulher no trabalho
Andressa Guaraná, Luana Genót e Izabel Assis falam dos desafios para mulheres líderes
Reprodução/Instagram/Divulgação

No dicionário, a palavra liderança é um substantivo feminino. No ambiente corporativo, a liderança é dominada pelo masculino. Segundo a última pesquisa ‘Women in The Workplace’ (Mulheres no Ambiente de Trabalho), da McKinsey & Company, apenas 21% das mulheres brancas estão em cargos de liderança e apenas 5% são mulheres negras, ante a 74% da presença masculina nos mesmos setores. 

Enfrentando a solidão, falta de reconhecimento e machismo, as poucas mulheres que chegam aos cargos de liderança nos mais diversos setores da economia desenvolvem redes de apoio para que as futuras líderes sejam mulheres e tenham menos dificuldades em desenvolver a carreira. 

Veja as entrevistas completas no canal do Band Jornalismo no YouTube

A reportagem da Band conversou com três lideranças femininas em seus setores sobre os desafios e os caminhos a serem abertos para novas líderes no mercado de trabalho: Andressa Guaraná, diretora de jornalismo do Grupo Bandeirantes de Comunicação; Luana Génot, diretora executiva do Instituto Identidades Brasil; Izabel Assis, vice-presidente do negócio de Plásticos e Embalagens da Dow.

Luana Génot pontua que muitos talentos femininos e negros são desperdiçados no ambiente corporativo, sem poder desenvolver o potencial. “Eu detesto desperdício de talentos, me via assim, porque falavam que eu não tinha o perfil para liderar. Criei o Instituto após a campanha do Barack Obama e pensava: ‘Se ele pode ser um líder, por que não eu? Por que não nós?’ Temos de ser representadas do topo até a base”, avalia. 

Para Andressa Guaraná, que também é embaixadora do projeto ‘Mulheres Fazendo Negócios’, a mulher está ganhando o espaço que merece, mas está longe do ideal. A diretora avalia que teve sorte na carreira, mas que teve de se impor mais, justamente por ser mulher. 

“Felizmente tenho a sorte de estar em uma empresa que dá valor a isso, temos outras que estão em setores de liderança, mas em outras não é mesmo. Essa falta de apoio é justamente o que causa a solidão na empresa. Eu participo de reuniões e sou a única mulher, então vejo que temos de ser mais firmes para se impor, por ser a única voz feminina”, analisa. 

Izabel Assis afirma que um dos desafios é balancear a carreira em conjunto com a vida pessoal, já que muitas fazem dupla jornada cuidando dos filhos e de casa. “Trabalho no setor comercial, então são muitas viagens, eventos, reuniões então é preciso ter o suporte familiar para ajustar essas agendas. Eu tive o apoio do meu marido e dos meus filhos, mas é lógico que todas as mulheres precisam desse suporte familiar e também dos líderes”, pontua. 

Dupla jornada

Andressa também cita a questão da dupla jornada. Para ela, os homens entenderam que é preciso dividir para ambas as carreiras crescerem. “Não tenho filhos e acaba sendo mais fácil para mim, mas para outras, acaba que a mulher tem um segundo emprego em casa e outras demandas. Mas com a mudança geracional, sinto que as mulheres vão cobrar mais os homens para se dedicarem às carreiras e se sentirem bem-sucedidas em todos os ambientes”, comenta. 

‘A mulher ainda engatinha para conseguir o espaço que o homem tem’

Com a falta de apoio no ambiente corporativo é o que inspirou a criação dos grupos ‘Mulheres Fazendo Negócios’, o ‘Instituto Identidades Brasil’ e projetos de equidade em empresas, como na Dow. “Como a mulher ainda engatinha para conseguir o espaço que homens têm, a troca de informação, contato, experiências ajuda demais a dar coragem para enfrentar esses desafios que muitas vezes é maior do que os impostos aos homens”, cita Andressa. 

“Vejo as redações repletas de mulheres, mas na liderança não. Isso acontece também em outras áreas, como no mercado financeiro, publicitário. Há muita mulher nos cargos menores, mas na liderança não. Então a gente planta para a geração futura colher esses frutos”, avalia a diretora. 

Poder da caneta

Luana Genot destaca que o desafio é maior ainda para as mulheres negras. Ela acredita que o instituto que dirige inspira empresas a contratar mais negros em cargos de liderança. 

“A gente quer ter o poder da caneta na nossa região, no mundo. É um problema histórico para as mulheres negras. Há a estimativa de que pode demorar 150 anos para termos as mesmas oportunidades que brancos, mas queremos acelerar esse tempo. Espero poder ver isso em menos de 50 anos”, pontua Luana. 

“E é obrigação também dos governos de prover mais oportunidades, porque crescendo, o PIB aumenta, tudo flui melhor. Por isso é necessário ter mais verba na promoção da igualdade racial e de gênero”, explica Luana. 

Izabel Assis, que trabalha também com projetos internos da Dow, analisa que é uma pauta urgente ter mais mulheres em setores de liderança. 

“É preciso trazer representatividade para área, diminuir a lacuna que ainda existe nas corporações”, diz Izabel, que informa que a Dow pretende atingir a paridade de gênero em posições de liderança na América Latina até 2025. Segundo a empresa, atualmente há 40% de mulheres na região e 35,5% na liderança globalmente. 

‘Mulheres escutam mais e melhor’

Para Izabel, o principal motivador para aumentar o número de mulheres em setores de liderança é a qualidade de trabalho feminino. “Geralmente elas escutam mais, líderes que escutam melhor e podem promover a inovação. Para mim esse é o diferencial maior, o diálogo com os times traz a organização no mercado de trabalho perfeita”, avalia. 

O apoio feminino é tão importante, que Andressa avalia que poderia ter ‘pulado algum degrau’ e até ter se sentido mais confiante e preparada para crescer na carreira. “Sem dúvida teria me ajudado se eu visse outras mulheres que passaram por isso, mostraria que era realmente possível", afirma. Ela completa dizendo que lida com o machismo trabalhando: 

“Sempre mostrei minha vontade, minha dedicação e foi assim que cresci, ocupei espaços. Talvez tive que provar muito mais que homens, mas é com trabalho que a gente responde”.

E com o trabalho é que se mostra o talento que estaria sendo desperdiçado. “Por isso precisamos potencializar os talentos, para acelerar as mudanças que tanto precisamos. Não é sobre descer do palco, é chegar para o lado e dar mais oportunidades. Todo mundo ganha com isso”, diz Luana. 

Legado para as futuras líderes

As três, em suas respectivas áreas, querem deixar um mesmo legado para futuras líderes: que elas acreditem que é possível e que haverá uma rede de apoio à espera delas e mudar o perfil de quem está no topo das empresas. “Quero que elas acreditem nos próprios objetivos, de seguir em frente. Sonhem e sejam claras ao comunicar o que se quer para o futuro. Eu falo sempre: ‘Não desista. Às vezes o apoio está ali'”, afirma Izabel. 

“Estamos plantando para as gerações colherem os frutos. Precisamos incentivar e ampliar a participação da mulher. Não só dela m forma geral, mas a diversidade para todos se sentirem representados, em todos os níveis hierárquicos. Isso é importante e a Band procura fazer isso, incentivar o topo a pensar com a gente”, avalia Andressa Guaraná. 

“Espero que eu esteja viva, velinha e poder olhar, transitar pelos espaços vendo mais negras, indígenas e LGBTQIA+ com o poder da caneta no Brasil e no mundo. Queremos mudar o perfil e investir na diversidade racial dos cargos de poder no Brasil e no mundo", cita Luana Genót. 

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