Tratores "invadem" Berlim em protesto de agricultores

Fazendeiros conduzindo mais de 1.500 tratores protestaram na capital alemã para pressionar governo a desistir de projeto que põe fim a subsídios do setor agrícola.

Por Deutsche Welle

DW Produtores rurais fazem protesto em Berlim por benefícios fiscais
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Produtores rurais fazem protesto em Berlim por benefícios fiscais

Agricultores conduzindo mais de 1.500 tratores protestaram nesta segunda-feira (18) em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim, contra um projeto do governo que elimina benefícios fiscais do setor agrícola.

A manifestação foi convocada pela Associação Alemã de Agricultores. Segundo o presidente da entidade, Joachim Rukwied, os planos do governo são "uma declaração de guerra" e não serão aceitos pela categoria. Rukwied também salientou que, caso a coalizão governamental – formada por social-democratas, verdes e liberais – não retire as propostas, novos protestos serão convocados. "A partir de 8 de janeiro estaremos presentes em todos os lugares de uma forma que o país nunca viu antes", afirmou Rukwied.

O protesto foi organizado em poucos dias e reuniu agricultores de diversas regiões do país – muitos deles se dirigiram a Berlim com seus tratores. Segundo a associação, entre 8 mil e 10 mil participantes compareceram ao protesto com mais de 3 mil tratores. A polícia, por outro lado, estimou cerca de 6,6 mil participantes e 1,7 mil tratores.

O agricultor Jörg Schäfer, de Osthessen, foi um deles. Ele disse que se o plano for levado a cabo, seu negócio de 130 vacas e 200 hectares de terra arável terá que cobrir custos mensais adicionais de 1.100 a 1.300 euros. "Isso é tão inaceitável", declarou.

Qual o motivo dos cortes

A Associação de Agricultores convocou o protesto depois de a coalizão que governa a Alemanha ter acordado, na semana passada, em eliminar o subsídio ao diesel agrícola e declarar o fim da isenção de impostos a veículos agrícolas e florestais.

As medidas fazem parte de uma negociação do Orçamento de 2024. Uma decisão do Tribunal Constitucional da Alemanha em novembro obrigou o governo a reformular o Orçamento do ano que vem e cortar 17 bilhões de euros para evitar incorrer em mais dívidas.

Após um acordo entre o chanceler federal, Olaf Scholz (SPD), o vice-chanceler Robert Habeck (Verdes) e o ministro das Finanças, Christian Lindner (FDP), os três partidos da coalizão anunciaram um corte de 12 bilhões de euros no fundo climático, com consequência para diversos setores – mas impactando mais fortemente a agricultura.

Sobrecarga de 1 bilhão de euros

Rukwied disse que, com a abolição dos incentivos, o setor seria sobrecarregado em mais de 1 bilhão de euros por ano.

Ele apelou ao ministro da Agricultura, Cem Özdemir, do partido Verde, que pressione o governo em prol dos agricultores e das zonas rurais.

Özdemir esteve presente no protesto e discursou aos manifestantes. Ele prometeu que lutaria para que os cortes nos incentivos agrícolas não fossem tão extremos.

"Não concordo com cortes desta magnitude e não concordei antes. Alertei o governo contra a eliminação das regras fiscais para o diesel agrícola e os veículos", afirmou, entre vaias e assobios dos manifestantes.

Um porta-voz do governo, Steffen Hebestreit, expressou compreensão quanto aos motivos dos agricultores, mas observou que os cortes orçamentais sempre afetam algum setor.

"Se tivermos de poupar grandes somas [de dinheiro], não é possível fazer isso sem que seja doloroso em algum momento", disse em uma coletiva de imprensa em Berlim.

Produtos menos competitivos

Os agricultores justificam que custos de produção mais elevados levariam à importação de mais alimentos de países que não têm padrões ambientais tão altos quanto a Alemanha.

Embora algumas organizações ambientais sejam favoráveis aos cortes, outras dizem que, em vez de tirar os subsídios e benefícios, o governo deveria pensar em formas de incentivar o uso de energias renováveis na agricultura.

A União Democrata Cristã (CDU), partido da ex-chanceler federal Angela Merkel e hoje a principal força da oposição, é contra os cortes na agricultura e vem pressionando para que o governo desista da medida.

le (DPA, EFE, ots)

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