Anualmente, em 1° de dezembro, o mundo lembra o Dia de Luta contra a Aids. A data é usada para conscientizar a população sobre a importância de se proteger contra a infecção por HIV e quebrar estigmas associados ao vírus e à doença.
Dados do Ministério da Saúde revelam que, no Brasil, 1 milhão de pessoas viviam com HIV em 2022. Desse total, 90% (900 mil) foram diagnosticadas e, entre eles, 81% (731 mil) estão em tratamento antirretroviral.
Apesar dos avanços nas pesquisas, muita desinformação sobre o assunto ainda circula. A DW separou três mitos.
Alegação: Muita gente acredita que, só de olhar, é possível perceber que uma pessoa está infectada pelo HIV. Isso está ligado, por exemplo, à crença de que uma pessoa infectada emagrece muito. Nas redes sociais, pessoas muito magras compartilham a experiência de serem questionadas sobre se são soropositivas por causa de seu físico. E pessoas soropositivas relatam que sempre escutam que não parecem ter HIV por causa de sua aparência saudável.
Checagem da DW: Falso
"Não é possível ver o HIV", explica Holger Wicht, porta-voz da Deutsche Aidshilfe, uma organização que reúne instituições que apoiam pessoas com HIV/aids. "Quando você é infectado pelo HIV, pode acontecer muita coisa em seu corpo que não será perceptível para o mundo exterior", explica. Somente nas primeiras semanas após a infecção podem - mas não necessariamente - ocorrer sintomas semelhantes aos de uma gripe, que depois desaparecem.
Ele conta que antigamente a medicação contra o vírus HIV mudava o físico do paciente, fazendo, por exemplo, com que o tecido adiposo das bochechas afundasse.
O porta-voz da Deutsche Aidshilfe enfatiza que as imagens de pessoas com aids não devem ser comparadas com as de pessoas infectadas pelo HIV.
"A aids é uma doença grave que ocorre quando o HIV não é tratado. São duas coisas completamente diferentes. A aids é o estágio final, o HIV é a infecção - e você não pode ver uma infecção", destaca.
O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS), alerta: "uma pessoa infectada pelo HIV pode parecer e se sentir bem, mas ainda assim transmitir o vírus". Somente um teste pode garantir se a pessoa não está infectada.
Alegação: "A maioria das pessoas ainda acredita que o HIV é sempre transmissível, que se uma pessoa tem o vírus, vai sempre passar adiante", diz Holger Wicht, da Deutsche Aidshilfe.
Checagem da DW: Falso.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) esclarece: "pessoas com HIV que estão em terapia antirretroviral e cuja carga viral é indetectável não transmitem o HIV aos parceiros sexuais".
O medicamento impede que o vírus se multiplique no corpo. Isso pode reduzir a carga viral a tal ponto, que ela não pode mais ser detectada por meio de testes convencionais. Assim, com tão pouco vírus no corpo, parceiros não são infectados durante a relação sexual. Porém, a OMS ressalta: "esse estado de supressão viral pode ser revertido se a pessoa parar de tomar ou tomar errado o medicamento".
De acordo com o UNAIDS, cerca de 39 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com HIV em 2022 - e 71% delas chegaram a uma carga viral indetectável com a terapia antirretroviral (TARV). Ou a carga viral havia sido reduzida a tal ponto que o HIV ainda era detectável, mas em um nível tão baixo que a OMS presume que o risco de transmissão durante o sexo desprotegido é "quase zero ou insignificante".
Alegação: Ainda é muito comum a crença de que é fácil ser infectado no dia a dia, como com um abraço. Em uma pesquisa em vários países, participantes foram perguntados: "você compraria legumes frescos de um comerciante se soubesse que essa pessoa tem HIV?". Na Indonésia, por exemplo, 62,6% das pessoas de 15 a 49 anos questionadas em 2017 (últimos dados disponíveis) responderam que não.
Checagem da DW: Falso.
A forma como o HIV se espalha já foi muito bem pesquisada. Contatos entre pessoas na vida cotidiana, como aperto de mão ou beijo, não passam o vírus. "A principal maneira de se infectar é pela transmissão sexual, ou seja, contato sexual próximo", diz Adrian Puren, diretor do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD) da África do Sul. O país é um dos mais atingidos pelo HIV. De acordo com o UNAIDS, a cada cinco ou seis jovens de 15 a 49 anos no país, um é soropositivo.
Outra possibilidade é as infecções ocorrerem em situações em que as pessoas são expostas a contatos sanguíneos. Por exemplo, por meio de agulhas usadas e contaminadas em situação médica ou durante o uso de drogas. Teoricamente, isso também seria possível por meio de transfusões de sangue, mas, na prática, as doações de sangue estão cada vez mais seguras, pois são analisadas minuciosamente antes de serem usadas. De acordo com a OMS, 99,8% das doações são testadas em países de alta renda e 76% em países de baixa renda.
Segundo Puren, a transmissão vertical (da mãe para o filho) ainda é um grande problema. Se a mulher estiver infectada, pode transmitir o vírus durante a gravidez, o parto ou durante a amamentação. A principal forma de infecção por HIV da população infantil pode ser drasticamente reduzida pela medicação tomada pela gestante e, se for necessário, pelo recém-nascido. De acordo com a autoridade de saúde dos EUA, o CDC, o risco de transmissão pode cair para menos de 1%.
Também segundo a autoridade de saúde dos EUA, o HIV só pode ser transmitido por meio de determinados fluidos corporais: sangue, fluido seminal, fluidos da vagina ou do reto e leite materno. "O HIV não sobrevive por muito tempo fora do corpo humano (por exemplo, em superfícies) e não pode se replicar fora do hospedeiro humano", escreve o CDC.
A OMS reafirma que não é possível ser infectado por meio de contatos cotidianos, como apertos de mão, abraços, beijos ou compartilhamento de objetos, alimentos ou água. O CDC também informa que não há risco de infecção se você comer algo que tenha sido processado por uma pessoa soropositiva. "Os únicos casos conhecidos são em bebês. A contaminação ocorre quando o cuidador mastiga o alimento, o sangue da boca se mistura com a comida e o bebê o ingere".
Não há risco de infecção por saliva, lágrimas ou suor. O HIV também não é transmitido pelo ar ou através de assentos sanitários.
Autor: Uta Steinwehr