Trump volta a ter miragem de um oásis em Gaza

Entenda as discussões sobre o plano do presidente Donald Trump para transformar Gaza numa “Riviera do Oriente Médio”

Por Moises Rabinovici

Trump volta a ter miragem de um oásis em Gaza
Trump quer tomar posse da Faixa de Gaza após guerra com Israel
REUTERS/Leah Millis

O presidente Trump voltou a ver a miragem de uma Riviera do Oriente Médio no Deserto do Sinai, rejeitada por unanimidade global. Hoje, ele informou que Israel vai entregar Gaza para os EUA “na conclusão dos combates, com os palestinos já reassentados em comunidades muito mais seguras e bonitas, em casas novas e modernas, na região”. 

O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, reforçou a visão de um futuro oásis de Trump, hoje, ao ordenar ao exército que elabore planos para os palestinos que quiserem sair de Gaza, voluntariamente, por terra, ar e mar. Ele exortou a Espanha, Irlanda e a Noruega, que se opuseram à guerra de 16 meses contra o Hamas, mais que outros países, a acolherem agora os refugiados.

A plataforma Axios, de Washington, publicou, hoje, “um furo”, reconstituindo como Trump teve a miragem de uma Riviera em Gaza. Começou quando ele comentou, enquanto se sentava com o primeiro-ministro Netanyahu no Salão Oval da Casa Branca: “Isso não pode continuar assim...” E continuou: “Aqui está o que quero fazer: os Estados Unidos assumirão a Faixa de Gaza... nós a desenvolveremos”. 

A “posse” de Gaza não estava nos planos da assessoria de Trump. A estratégia para a coletiva de imprensa continha, principalmente, a “pressão máxima” contra o Irã nuclear. Se fosse abordar a transferência de palestinos para a vizinhança árabe, como já vinha dizendo à imprensa, ele deveria se ater à palavra “temporária”. Mas não: ele pronunciou “permanente”. E por quê? Trump queria algo maior, mais ousado e mais surpreendente. Deu no que deu. No dia seguinte, a Casa Branca recuou para transferência temporária e assegurou que não haveria envolvimento de tropas americanas.

Nem o primeiro-ministro Netanyahu sabia da “posse” de Gaza. E ficou quieto, sorridente, porque viu sua salvação no dilema que enfrenta: se se retirar de Gaza, como prevê a segunda fase do plano de cessar-fogo, a extrema-direita o abandonará, e ele ficará balançando no Parlamento, pronto para cair no voto de uma primeira moção de desconfiança. Mas se entregar Gaza aos EUA, manterá sua coligação, com alguns dos religiosos mais fervorosos aclamando Trump como “o Messias esperado”.

Acompanhavam Trump o vice-presidente Vance, o conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz, o secretário da Defesa Pete Hegseth e o secretário de Comércio Howard Lutnick. O secretário de Estado Marco Rubio seguia a reunião da Guatemala, por telefone. Ao lado de Netanyahu, estavam seu “confidente” Ron Dermer, o conselheiro de Segurança Nacional Tzachi Hanegbi, o embaixador Yechiel Leiter e o conselheiro militar Roman Gofman.

Durante a reunião, Trump fez anotações. Uma fonte da Casa Branca comentou para a Axios: “Qualquer um que pense que podemos continuar fazendo o que temos feito no Oriente Médio e obtermos um resultado diferente está fumando um cachimbo de crack”. Na semana que vem, o visitante de Trump será o rei Abdullah, da Cisjordânia. E depois, o presidente do Egito. Ambos os países já rejeitaram o plano de Trump, como também a Arábia Saudita, o Hamas, a Autoridade Palestina, a OLP, a Europa e a maioria da América Latina. O secretário de Estado Marco Rubio reduziu a miragem à realidade: “Trump é um construtor. Ele sabe como reconstruir. É um líder, o melhor negociador. O que ele quer é uma negociação pela paz. Então, tudo está na mesa”.

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