O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse nesta sexta-feira (24) em reunião com os ministros de Finanças dos países membros do G20 em Bangalore, na Índia, que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai reconstruir a presença internacional do Brasil.
Durante o encontro, Haddad destacou a importância do Brasil retomar sua presença no cenário internacional e reforçou que o País considera o G20 fundamental para fortalecer o multilateralismo.
“Herdamos um cenário diplomático problemático. O Brasil estava isolado, ausente e em desacordo com seus valores e tradições”, disse.
Em seu discurso, o ministro concordou com as prioridades estabelecidas pela presidência indiana, que incluem debater a dívida dos países emergentes e a regulação das criptomoedas.
Além disso, Haddad defendeu a necessidade de promover reformas nos bancos multilaterais de desenvolvimento, “para apoiar os países em desenvolvimento com financiamento de longo prazo, [com] taxas de juros adequadas e estruturas inovadoras para reduzir riscos, estimular parcerias público-privadas e atrair investimentos privados”.
Por fim, o ministro cobrou que os países mais ricos cumpram seus compromissos selados no Acordo de Paris e nas COPs em Glasgow (2021) e no Egito (2022).
Haddad destacou o compromisso renovado do presidente Lula em acabar com o desmatamento até 2030 e ressaltou a importância de se aumentar recursos para mitigação e adaptação.
Fernando Haddad encontrará quatro ministros de Finanças: Sergio Massa, ministro da Economia da Argentina; Enoch Godongwana, ministro de Finanças da África do Sul; Paolo Gentiloni, comissário para a economia da União Europeia; e Nadia Calviño, vice-premiê e ministra da Economia e Transformação Digital da Espanha.
Haddad também deve abordar no evento a indicação da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), de 75 anos, para assumir o NBD (Novo Banco de Desenvolvimento), conhecido como Banco dos Brics. A intenção é de levar o tema para os encontros com os ministros da África do Sul e da Índia, nações que integram o grupo também composto por China e Rússia.
Além de Haddad, a cúpula também conta com a presença do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O evento reúne as 20 maiores economias do mundo.
Íntegra do discurso de Haddad na reunião do G20:
“Gostaria de saudar o governo indiano pelo magnífico trabalho na organização de sua Presidência [da cúpula do G20]. Saúdo também os Ministros das Finanças, os gestores dos Bancos Centrais e os representantes dos países e organismos internacionais. Esta é minha 1ª participação em uma reunião do G20 e estou ansioso para ter um contato mais próximo com vocês.
“Herdamos um cenário diplomático problemático. O Brasil estava isolado, ausente e em desacordo com seus valores e tradições. Agora, vamos reconstruir nossa presença internacional. Os assuntos econômicos e financeiros são uma parte crucial desse esforço. No caminho para a Presidência [do G20] em 2024, trabalharemos com este grupo para promover entendimentos baseados na inclusão e em um futuro sustentável para os povos e nações.
“O governo do presidente Lula considera o G20 central para fortalecer o multilateralismo. Em 2008, o grupo conseguiu se coordenar para enfrentar a crise financeira e traçar um caminho de recuperação.
“Hoje, enfrentamos vários desafios interligados, crises multidimensionais, consequências da pandemia, guerras, conflitos, aumento da pobreza, desigualdades e obstáculos ao abastecimento de alimentos e energia limpa a preços acessíveis. Nesse contexto, o aumento do diálogo entre as maiores economias é importante, mas não suficiente. Precisamos de ações com resultados concretos.
“Concordamos com as prioridades propostas pela presidência indiana. Mantendo o foco na prosperidade compartilhada e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), devemos aprofundar as discussões sobre reformas nos bancos multilaterais de desenvolvimento que reforcem seu papel de formar parcerias e canalizar recursos para lidar com o clima, alimentação e pobreza. Essas instituições devem ser bem capitalizadas e flexíveis para apoiar os países em desenvolvimento com financiamento de longo prazo, taxas de juros adequadas e estruturas inovadoras para reduzir riscos, estimular parcerias público-privadas e atrair investimentos privados. Também é importante que avancemos nas propostas de mobilização de recursos adicionais que estão sobre a mesa.
“Estamos preocupados com os níveis de endividamento, principalmente entre os países mais pobres. A elevação dos juros em meio à fragilidade da economia mundial agravam o cenário. Devemos continuar o trabalho que está sendo realizado no Marco Comum e outros esforços de coordenação coletiva. Ter mecanismos para uma reestruturação ordenada e oportuna é do interesse de credores e devedores.
“A Presidência indiana deve ser elogiada por suas prioridades em finanças sustentáveis e infraestrutura urbana. O Brasil defende que os debates considerem as especificidades, em particular as dos países em desenvolvimento e emergentes, que têm diferentes desafios e prioridades econômicas e sociais. O financiamento climático é mais caro e apresenta taxas de risco mais altas para esses países, o que dificulta o alcance das metas de redução de emissões de carbono.
“É fundamental que os países desenvolvidos cumpram os compromissos estabelecidos pelo Acordo de Paris e a ambição declarada em Glasgow e no Egito, incluindo o aumento de recursos para mitigação e adaptação. No caso brasileiro, gostaria de destacar o compromisso renovado do presidente Lula de acabar com o desmatamento até 2030.
“Na infraestrutura, os investimentos nas cidades são fundamentais para apoiar um desenvolvimento equilibrado e inclusivo, baseado em soluções sustentáveis de baixo carbono e que respeitam a natureza. Como ex-prefeito da maior cidade do Brasil, saúdo a Índia por buscar soluções centradas na cidade. Você pode contar com o nosso apoio.
“Passo a palavra ao Banco Central.”