Velhas receitas de Lula não funcionam contra crise climática

Crise climática exige nova política ambiental do governo brasileiro, que demora para agir e ainda precisa enfrentar o legado de impunidade para crimes ambientais deixado por Bolsonaro.

Por Deutsche Welle

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O fogo arde por todos os lados no Brasil: na Amazônia, no Pantanal, em São Paulo. São nuvens gigantescas de fumaça cobrindo o céu em Brasília, em São Paulo e no interior do país.

A crise climática assola com força o país, com secas que vão superar as de 2023. E com incêndios que quebram recordes: 107 mil focos foram registrados de janeiro até 25 de agosto – um aumento de 75% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Há relatos de incêndios criminosos promovidos por fazendeiros e também pelo crime organizado. No interior de São Paulo parece ter havido até mesmo um "dia do fogo", semelhante ao que ocorreu em agosto de 2019 no Pará.

E isso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o cargo, em janeiro de 2023, com a promessa de reverter a pouca importância dada pelo seu antecessor, Jair Bolsonaro, à proteção climática.

Porém, embora a crise climática, com as secas recordes, já estivesse anunciada desde 2023, o governo reagiu tarde demais em 2024. As pouquíssimas chuvas, especialmente na Amazônia em abril e maio deste ano, deveriam ter disparado o alarme. Mas isso não aconteceu.

O governo – melhor dito: a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva e o presidente Lula – culpam agora criminosos incendiários pelo fogo. Segundo a ministra, não pode ser coincidência que uma onda de incêndios tenha sido registrada em vários locais no intervalo de poucos dias: um novo "dia do fogo", como em 2019, quando proprietários de terras conspiraram para enviar um sinal político por meio de incêndios coordenados.

Lula, que sempre responsabilizou pessoalmente Bolsonaro pela destruição ambiental causada por desmatamentos e incêndios, culpa agora também a mudança climática e diz que ela é uma das causas dos incêndios. Ele tem razão, é claro. Lula pede que a mudança climática seja combatida com "inteligência" e "investimento", ou seja, que o rico Norte Global financie a proteção florestal no pobre Sul Global. Porém, os sinais de que isso não está acontecendo são claros.

Aposta em combustíveis fósseis

E Lula, apesar de sua retórica ambiental, continua apostando nos combustíveis fósseis. Ele quer aumentar a produção de petróleo, inclusive no estuário amazônico. Tendo prometido proteger a Amazônia e seus moradores, especialmente os povos indígenas, Lula está agora acumulando recorde após recorde de incêndios.

É verdade que, entre 2005 e 2012, e com a grande ajuda de Marina Silva, ele havia conseguido reduzir significativamente o desmatamento na Amazônia. Só que as velhas receitas de então não funcionam mais. Em primeiro lugar, porque as autoridades ambientais, sobretudo o Ibama, carecem de pessoal. Lula ainda não conseguiu reverter o desmonte que Bolsonaro impôs à autoridade ambiental brasileira.

Além disso, as multas ambientais não têm mais grandes efeitos. Os quatro anos de governo Bolsonaro deixaram como legado um clima de desrespeito às autoridades. Os proprietários de terras, os garimpeiros ilegais e os comerciantes de madeira sentem-se livres para violar a lei. Eles sabem que a impunidade é certa.

No interior de São Paulo, muitos incêndios podem mesmo ter sido iniciados pelo crime organizado, ou mais precisamente pela "máfia dos combustíveis". O Brasil está passando por uma mexicanização da vida cotidiana, uma perda de autoridade pelo Estado, pela qual Bolsonaro, com sua retórica contra as instituições, também é culpado.

A isso soma-se o rápido agravamento da crise climática mundial, que às vezes se mostra em enchentes gigantescas, como no sul do Brasil este ano, em outras num clima extremamente quente, como neste inverno, ou nos ventos fortes como os que estão agora alimentando os incêndios. No primeiro mandato de Lula, quando ele realizou aquela surpreendente reviravolta na política ambiental, não havia nada parecido com isso.

Especialistas acreditam que o caminho do Brasil passa pela compensação de CO2, ou seja, pelos créditos de carbono. Isso poderia arrecadar até R$ 26 bilhões, que poderiam ser canalizados para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. O Ministério do Meio Ambiente em Brasília já está trabalhando num projeto de lei. Uma coisa é certa: com mais de 25 milhões de pessoas vivendo na Região Amazônica e querendo progredir economicamente, algo precisa ser feito, e com urgência.

O governador do Amazonas, Wilson Lima, pediu ao governo Lula que não aposte numa mentalidade de punição: essa não é a maneira de combater as queimadas e o desmatamento. A região precisa de um modelo econômico que inclua a regularização fundiária e o financiamento para o pequeno agricultor. "Somos totalmente contra as ações ilegais, mas é preciso apresentar alternativas de sobrevivência para os povos da Amazônia", disse o governador. "Senão todos os anos estaremos, literalmente, só apagando fogo."

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Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente da DW.

Autor: Thomas Milz

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