Velório de Rita Lee será 'última dança' da Rainha do Rock com o público; entenda

Haverá uma projeção do céu do dia em que a cantora nasceu durante a cerimônia de despedida

Emanuele Braga

O corpo de Rita Lee será velado no Planetário do Parque Ibirapuera nesta quarta-feira (10). O público poderá acessar a despedida a partir das 10h. Mas por que no Planetário?  

Em resposta à Band, a Urbia, concessionária que administra o Planetário, afirmou que, durante o velório, haverá uma projeção do céu do dia em que a cantora nasceu, 31 de dezembro de 1947. Além disso, a justificativa para que o local fosse escolhido como “a última dança” de Rita Lee com o público é que a cantora afirmou à sua empresária que gostaria de voltar ao local, além de tê-lo citado em seu livro “Rita Lee: Uma autobiografia”, como “Floresta Encantada”, em que afirma que o planetário era um “must semanal”.

“O Planetário do Ibirapuera era o must semanal, e depois da sessão, uma banana-split na lanchonete ao lado”, escreveu Rita.

As declarações de Rita Lee sobre extraterrestes e sua maneira ‘esotérica’ de viver permitem que se faça uma relação entre ela e o seu eu lírico em relação ao universo.  Seu filho, Antonio Lee, publicou uma homenagem à mãe nas redes sociais dizendo que a espera para continuar as “longas conversas sobre o universo”. 

Também conhecida pelos sucessos da década de 70 e 80, como “Disco Voador”, “Alô, alô marciano”, “Dois mil e Um” e “Desculpe o Auê”, onde fala sobre vida em outros planetas e assuntos relacionados, Rita sempre deixou explícita sua crença em vida nos outros planetas. Em 2016, por exemplo, a cantora assumiu o papel de atriz e interpretou um extraterrestre na série “Manual para se Defender de Aliens”, Ninjas e Zumbis, da Warner Channel.

Biografia 

A cantora Rita Lee morreu aos 75 anos. A artista enfrentou um câncer de pulmão desde 2021. Em nota nas redes sociais, a família da 'Rainha do Rock' informou que Rita Lee morreu na noite de segunda-feira (8), em São Paulo, ao redor do “amor de toda a família, como sempre desejou”. 

Rita Lee já havia comentado sobre a morte, em tom bem-humorado. “Quando morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá. Fãs, esses sinceros, empunharão meus discos e entoarão ‘Ovelha Negra’, as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória. Nas redes virtuais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido”, escreveu, na autobiografia da cantora. 

Rita Lee é a Rainha do Rock

Rita Lee nasceu e cresceu em São Paulo. Na adolescência, a artista começou a se interessar por música e em 1963 começou a carreira no Teenage Singers, com pequenos shows em festas colegiais. Três anos depois, ela entrou na banda Os Mutantes, cantando ao lado de Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. 

A banda fez grande sucesso em festivais de música popular brasileira e, acompanhada dos componentes, Rita Lee fez álbuns solo. Em 1972, Rita saiu do grupo e se consagrou nacionalmente com a banda Tutti Frutti e em carreira solo, ao lado do marido e companheiro até o fim, Roberto de Carvalho. 

Dona de um estilo próprio e por vezes irônico, deixou a sua marca em grandes hits como “Ovelha Negra”, “Lança Perfume”, “Era Venenosa”, “Mania de Você” e tantos outros. 

Um dos momentos mais importantes do início da carreira foi durante a passagem pela banda Mutantes, em meados dos anos 60 e início da década seguinte, que fez história no cenário musical brasileiro ao mesclar rock progressivo com o tropicalismo. A saída da cantora da banda foi turbulenta, uma vez que ela foi expulsa do grupo após divergências artísticas e com Arnaldo Baptista – um dos integrantes e com quem ela era casada. 

Após a saída dos Mutantes, Rita formou uma dupla feminina com  Lúcia Turnbull – As Cilibrinas do Éden. Na sequência, entrou para o grupo Tutti Frutti nos anos 1970. Foi nessa época que ela conheceu o seu grande amor, o compositor e multi-instrumentista Roberto de Carvalho, com quem esteve casada por mais de 40 anos e pai de seus três filhos.

Rita e Roberto também formaram uma importante parceria musical, o que deu origem a clássicos como “Lança Perfume”, “Nem Luxo, Nem Lixo” e “Banho de Espuma” e outros hits que os levaram ao sucesso até mesmo internacional.

Ao longo da carreira, a cantora, vista como transgressora, revolucionou o gênero ao tratar de temas tratados como tabus, como menstruação, sexo, drogas. Uma das maiores artistas do Brasil, Rita Lee teve uma importância para além da música, trazendo um discurso de empoderamento feminino seja nas composições ou mesmo em entrevistas. 

Crítica e direta ao ponto, a cantora falou em sua autobiografia sobre feminismo e o que pensava dos rumos do movimento. “O que mais se vê é um feminismo chauvinista do vamobotáozmachoprafudê, desviando a artilharia do que é mais importante: salários iguais e o direito sobre o próprio corpo”, declarou.

Além do cabelo ruivo

Nos últimos anos, Rita Lee se cansou de manter os cabelos ruivos e aderiu ao grisalho. É claro que, tratando-se da cantora, a coloração dos fios refletia o comportamento autêntico da artista. O ruivo nasceu após a polêmica saída dos Mutantes.

“Na fase Mutantes, minha borboleta era loira. Depois que fui expulsa da banda, para ensolarar mais a cabeça, fui bundar em Londres e lá mergulhei as madeixas na henna marroquina e ruivei. Quando os cabelos começaram a embranquecer, a henna não pegava mais... E como sempre fui eu mesma quem pintava, parti para várias tintas vagabundas”, afirmou ela em entrevista à Revista Quem, em 2015.

Rita só se aposentou em 2012 e seguiu em outros projetos. A cantora descobriu um câncer de pulmão em 2021 e entrou em remissão em abril de 2022. Em fevereiro deste ano, Rita foi internada com quadro delicado e fez exames e avaliações. 

Repercussão

Amigos e personalidades lamentaram a morte de Rita Lee. João Lee, o filho do meio de 44 anos, publicou um vídeo acompanhado de uma longa descrição. Na postagem, ele destacou a vida fascinante que Rita teve não só como artista, mas como mãe.

O mundo perdeu uma das pessoas mais únicas e incríveis que já existiu. Eu perdi a minha mãe. Mas você é eterna. Seu legado, sua história e sua arte viverão para sempre. Essa é a minha missão para a vida toda. Enquanto eu estiver vivo e cheio de graça você vai continuar fazendo um monte de gente feliz

Em outro post, o filho Beto Lee expressou o amor que sente pela mãe ao escrever “I love you forever”. A publicação está acompanhada de uma foto em preto e branco da Rita mais nova.

Já Roberto de Carvalho, marido da Rita, publicou a nota que comunica o falecimento, a mesma divulgada nas redes da artista. Numa publicação de quatro dias atrás, o musicista postou uma foto de ambos abraçados e felizes.

Ex-marido e ex-parceiro de Rita Lee na época da banda Os Mutantes, o músico Arnaldo Baptista lamentou a morte da amiga ocorrida na noite desta segunda-feira (7). Arnaldo postou uma foto de Rita Lee jovem segurando uma filhote de jaguatirica que foi batizada com o nome de Ziggy Stardtust, codinome do cantor britânico David Bowie.

A atriz Mel Lisboa, que interpretou Rita Lee no teatro, declarou: "Rita, a maior de todas. A estrela mais brilhante deste nosso céu. Minha inspiração. Nossa rainha. Hoje dói muito, mas me sinto privilegiada por ter existido na mesma época que vc. Por ter tido a ousadia de subir no palco fingindo ser vc. Por ter tido a honra de ter estado ao seu lado nesses últimos 10 anos. Obrigada por tudo que vc fez por todos nós.
Vc fez e sempre fará um monte de gente feliz. Descanse em paz, Rainha".

A cantora Maria Rita Mariano, filha de Elis Regina, que ajudou a tirar Rita Lee da cadeia, também homenageou a "rainha do rock".  “Rta… Rita… Maria Rita tão amiga-comadre de Maria Elis. Ou seria Elis Maria? Não lembro, to muito atordoada. Me perdoa. Eu te amo. Que sua passagem seja em paz. Fique com a certeza de sua missão cumprida e ficaremos nós aqui na missão de fortalecer sua luz para todo o sempre.”

“Rita Lee trouxe para os Mutantes um lado circense, que envolveu humor, roupas e instrumentos que ela tocava, como o Theremin. Além de nossas parcerias, como na ‘Balada do Louco’, entre tantas outras. Descanse em Paz”, escreveu Arnaldo Baptista, que foi casado com Rita Lee no início dos anos 1970.

Em nota no Twitter, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou a morte e relembrou a força de Rita na cultura brasileira. “Rita Lee Jones é um dos maiores e mais geniais nomes da música brasileira. Cantora, compositora, atriz e multiinstrumentista. Uma artista a frente do seu tempo. Julgava inapropriado o título de rainha do rock, mas o apelido faz jus a sua trajetória”, afirmou. 

“Rita ajudou a transformar a música brasileira com sua criatividade e ousadia. Não poupava nada nem ninguém com o seu humor e eloquência. Enfrentou o machismo na vida e na música e inspirou gerações de mulheres no rock e na arte”, continuou. 

“Jamais será esquecida e deixa na música e em livros seu legado para milhões de fãs no mundo inteiro. Meu abraço fraterno aos filhos Beto, João e Antônio, familiares e amigos. Rita, agora falta você”, completou Lula. 

Clubes do futebol brasileiro prestaram homenagens à cantora. O Corinthians lamentou a perda da artista, que era fanática pelo time do Parque São Jorge.

“Aos 75 anos, a Rainha do Rock Brasileiro se despediu de nós. Rita Lee, uma das maiores cantoras e compositoras da música nacional faleceu na última segunda (8), após um câncer no pulmão. Torcedora apaixonada, participou ativamente da Democracia Corinthiana. Nossa solidariedade à família, aos amigos e aos fãs. Eternamente em nossos corações”, escreveu o Timão nas redes sociais.

Outro clube que também homenageou Rita Lee foi o Internacional. A Rainha do Rock foi a primeira mulher nomeada consulesa cultural do Colorado.

“Hoje, o Brasil se despede da sua rainha do rock, Rita Lee, uma das figuras mais revolucionárias, questionadoras e importantes da cultura nacional. O Clube do Povo perde também a primeira artista mulher nomeada consulesa cultural do Inter. Vai em paz, Rainha. Você estará para sempre em nossos corações”, publicou o Inter.

Santos, Flamengo e Internacional também lembraram a importância de Rita Lee para a cultura brasileira.

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