"Não está na hora da Madonna se aposentar?", a pergunta foi feita em uma lista de discussão na internet em 2020. Madonna tinha 62 anos na época. "Sim, já passou da hora, ela precisa descansar", dizia um usuário. Os clamores para que a rainha do pop (desculpem, mas esse posto ainda é dela) se retirasse de cena aumentaram em junho deste ano, quando tabloides começaram a publicar rumores de que a cantora estaria doente.
De fato, Madonna esteve muito doente. Ela sofreu uma infecção bacteriana, que a deixou entre a vida e a morte na UTI, o que fez com que ela adiasse a estreia da sua turnê mundial, a "Celebration Tour", que comemora seus 40 anos de carreira. Antes prevista para julho, a turnê estreou em Londres neste sábado (14/10), como enorme sucesso de público e crítica.
Mas, enquanto a cantora estava doente, todos os tipos de boatos foram publicados por tabloides. Fofoqueiros espalharam, por exemplo, que ela estaria "se esforçando demais para competir com as divas pops mais jovens, e que isso seria a razão de sua doença". Já repararam que sempre falam que mulheres competem com outras e nunca falam o mesmo dos homens? Ou você já leu em algum lugar que o Mick Jagger estava preocupado com o sucesso do Coldplay? Disseram também que Madonna estaria se perdendo e ficando louca (outro clichê do sexismo).
Pois bem. Os detratores não só se mostraram etaristas e misóginos, mas também estavam muito errados. Madonna voltou. E, aos 65 anos, está melhor que nunca. Mais viva, brilhante, criativa e também… sexy! Sim, mulheres com mais de 60 podem ser sexies. Na verdade, elas podem ser o que elas bem quiserem.
Madonna é a prova disso. E fez, de novo, mais esse serviço para as mulheres.
Depois de lutar por liberdade sexual e de gênero a vida inteira, Madonna se tornou uma das vozes mais potentes contra o etarismo e sempre insistiu que iria continuar sendo ela mesma independente da idade que tivesse. É absurdo que mulheres ainda tenham que lutar por uma coisa tão óbvia, mas é a realidade.
Patrulha da idade
No sábado, Madonna provou que não só continua sendo ela mesma, mas que continua se divertindo. Não, não existe uma idade limite para que mulheres dancem e se divirtam, pelo amor. E também não somos obrigadas a nos esconder depois que completamos uma "certa idade". Os clamores para que Madonna se retirasse tinham essa mensagem: "chega, se esconda!" Pare de postar foto sexy no Instagram! Vista-se de maneira apropriada para a sua idade (seja lá o que isso for). Alguém fica por aí falando para o Mick Jagger parar de dançar sem camisa e se aposentar? Não! E ainda bem. Queremos mais é que esse gênio viva e produza muito.
Ainda bem que Madonna não "obedeceu" os caretas e preconceituosos e não se retirou. Continuando nos palcos, ela nos deu mais um presente.
Conforme os vídeos do show começaram a ser exibidos nas redes sociais, vi amigos de idades que variam entre os 30 e os 60 e poucos anos entrarem em estado de euforia. Madonna nos deu, em um momento tão triste do mundo, alguns momentos de felicidade (não é para isso que serve a arte?).
No show, ela apresentou seus maiores hits, algumas vezes cercada de alguns dos seus filhos, dançou, rebolou, sapateou e "voou" sobre a plateia. Madonna cantou e dançou "Vogue" de corpete mega sexy, relembrou seus amigos mortos pela aids enquanto "voava sobre a plateia" cantando "Live To Tell" (em um dos números mais emocionantes do show).
Em outro momento poderoso, só com violão na mão, ela cantou "I Will Survive", o hit de Gloria Gaynor, e lembrou sua experiência de quase morte. Madonna usava um short super curto, botas de cowboy e jaqueta de roqueira. Ao cantar a música, ela parou a letra no meio "acharam que eu deitaria e morreria? ". E perguntou para a plateia, desafiante, "vocês acharam???" E continuou: "não, eu vou sobreviver, eu tenho muito o que viver". Que bom. Ver uma mulher de 65 anos fazendo com alegria o que ela bem quer é, sem dúvida, muito inspirador. Obrigada por isso, Madonna.
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Nina Lemos é jornalista e escritora. Escreve sobre feminismo e comportamento desde os anos 2000, quando lançou com duas amigas o grupo "02 Neurônio". Já foi colunista da Folha de S.Paulo e do UOL. É uma das criadoras da revista TPM. Em 2015, mudou para Berlim, cidade pela qual é loucamente apaixonada. Desde então, vive entre as notícias do Brasil e as aulas de alemão.
O texto reflete a opinião da autora, não necessariamente a da DW.
Autor: Nina Lemos