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Vontade de comer giz, papel, sabonete, tecido ou cabelo: entenda o picacismo

Síndrome é rara, costuma afetar mais as crianças e tem tratamento

Marília Montich, do Metro Jornal
Picacismo causa vontade comer vontade de comer giz, papel, sabonete, tecido ou cabelo
Picacismo causa vontade comer vontade de comer giz, papel, sabonete, tecido ou cabelo
Reprodução/Unsplash

Gosto não se discute, mas há casos em que algumas predileções alimentares passam a ser um grande problema. O nome da condição pode causar tanta estranheza quanto os próprios sintomas: síndrome de pica. Também conhecido como picacismo ou alotriofagia, o transtorno se caracteriza pela vontade de comer substâncias que normalmente não são alimentos.

Giz, papel, sabonete, tecido, cabelo, terra, gelo e carvão são as “iguarias” comumente associadas ao quadro, que é raro. Estima-se que menos de 0,5% da população sofra do mal. Há que se considerar, entretanto, a possibilidade de subnotificação, já que muitos podem ter vergonha de buscar ajuda.

Segundo o psiquiatra Eduardo Aratangy, do Programa de Transtornos Alimentares do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), o picacismo tem duas causas - orgânica ou psicológica.

“O fator orgânico é observado inclusive em animais. Alguns cachorros, por exemplo, comem terra. No caso dos humanos, algumas gestantes podem apresentar vontade de ingerir coisas não comestíveis. Além disso, verminoses e deficiências vitamínicas podem desencadear a síndrome”, explica. “Já a causa psicológica pode ser observada em pessoas autistas, com esquizofrenia e retardo mental. A ciência não compreendeu a razão que leva à avidez por consumir substâncias não alimentares nesses casos”, completa.

Ainda em se tratando de quadros psicológicos, há situações especiais nas quais o picacismo pode aparecer, como associado a traumas. “Houve um paciente cujo filho foi assassinado e este pai começou a comer as próprias fezes. A explicação para isso era de que o homem, mergulhado em um grande sofrimento, sentia que estava se perdendo e queria se reencontrar”, cita.

Crianças, normalmente, são a faixa etária mais acometida - levando em conta, inclusive, a relação com o autismo. Existe, porém, um quadro transitório comum. Por isso o diagnóstico só pode ser fechado após os dois anos de idade.

Em adultos, a síndrome é constatada quando o comportamento se arrasta por pelo menos um mês e quando não está associado a fatores culturais.

Tratamento

O tratamento eficaz para o picacismo consiste no tripé nutricional, psiquiátrico e psicológico. “É preciso, primeiro, analisar se existe alguma relação nutricional, como desvitaminoses, ou outros fatores clínicos, como anemia e verminoses. Isso excluído, o alvo será a mudança do comportamento. Importante lembrar que o paciente com frequência apresenta quadros de transtornos alimentares, depressão e ansiedade”, diz Aratangy.

Cuidar do problema é fundamental, uma vez que ele pode trazer consequências sérias ao organismo. “O cabelo, por exemplo, não é digerido. Tecidos, por sua vez, podem obstruir o intestino. Esses corpos estranhos podem levar a uma cirurgia de emergência”, explica o médico.

Há complicações menos graves, porém incômodas: intoxicações, quebra de dentes, entre outras.

No caso de pacientes que contam com o picacismo associado a quadros mentais mais graves, a mudança de comportamento é difícil. Quando relacionado, porém, a causas nutricionais ou psicológicas mais leves, há 80% de chance de cura.

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