Apesar das críticas de Lula, o Banco Central tem uma atuação técnica e acerta ao manter a Selic em 13,75% ao ano para segurar a inflação. A avaliação é do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, entrevistado na Rádio Bandeirantes, no Jornal Gente.
Meirelles presidiu o BC por oito anos, durante os governos Lula 1 e 2. Segundo ele, é um equívoco discutir a taxa de juros, que é a ferramenta para combater o verdadeiro problema, a alta de preços. "Não existe um conflito, o Banco Central está fazendo o trabalho dele, técnico, cumprindo para atingir as metas de inflação. Os técnicos com experiência vão aperfeiçoando o modelo, colocando os fatores da economia, fiscais, inflação, e fazem projeções para as taxas de juros", disse o ex-ministros.
A relação entre Meirelles e o presidente Lula sempre foi de muita proximidade. O ex-ministro entende que as críticas do petista são normais, e que podem até ter efeito político positivo, ao vincular o Banco Central às dificuldades para a retomada do crescimento.
"No momento em que o presidente da República [Lula] critica a autonomia do Banco Central e cria esse tipo de controversa, do ponto de vista político, pode ser bom, mas do ponto de vista econômico, é pior. Todo mundo se preocupa, e aumenta a expectativa de inflação", disse Meirelles.
No entanto, qualquer redução forçada na taxa de juros acabaria jogando contra o próprio governo, alerta o ex-ministro, porque a inflação subiria. O economista ainda explicou que a queda na taxa de juros desejada por Lula não é suficiente para melhorar a situação econômica do País, e que o governo deve focar nas reformas.
"A inflação no Brasil é sim por demanda, evidente que não existe a demanda que o presidente sonha, onde as condições de vida fossem diferentes, que a população tivesse um melhor padrão de vida. A maneira de seguir isso não é só baixar a taxa de juros, nós precisamos aumentar produtividade da economia fazendo as reformas fundamentais, treinamento dos trabalhadores e criar mais emprego. Isso vai alcançar aí o que ele [Lula] sonha", concluiu.