As companhias aéreas Azul e Gol assinaram nesta quarta-feira (15) um memorando de entendimento para iniciar as negociações para uma fusão. Caso a união se concretize, a empresa concentrará 60% do mercado aéreo no país. O acordo é o primeiro passo de um processo de negociação entre a Abra, holding que controla a Gol, e a Azul para explorar a viabilidade de uma possível junção.
Em entrevista ao Jornal Gente, da Rádio Bandeirantes, neste sábado (18), o cofundador da Azul Linhas Aéreas, Gianfranco Beting, afirmou que não haverá fusão de marca e que, até a conclusão do acordo "existem obstáculos importantes a serem vencidos". Segundo ele, a junção das frotas trará mais eficiência para o espaço aéreo brasileiro.
"Conversando com os executivos ficou claro de que há interesse de que não haja uma fusão de marcars O governo também não quer essa fusão. Na prática, caso a associação se concretize, teremos duas empresas trabalhando em conjunto", disse Beting.
Operação independente e mais eficiência
Beting afirmou que as duas companhias, que seguirão operando de forma independente caso a fusão aconteça, possuem modelos de aeronaves muito distintos e que, portanto, uma junção de frotas traria mais eficiência e diversidade de modelos.
"A frota da Azul e a frota da Gol são muitos distintas. Gol trabalha basicamente com Boeing 737. Já a Azul possui ATR, aeronaves da Embraer e AirBus, então não existe um parafuso de comunhão nessas frotas, mas isso é positivo. Juntas, elas ultrapassam 300 aeronaves e podem realocar aviões e vai ganhando em eficiência", disse o cofundador da Azul.
A fusão depende do fim da recuperação judicial da Gol nos Estados Unidos, que está prevista para abril. A nova empresa terá três conselheiros da Abra, holding que controla a Gol e a Avianca, três da Azul e três independentes.
Segundo Beting, ainda é prematuro afirmar que o consumidor será beneficiado com passagens mais baratas caso a fusão anunciado seja oficializada. "É cedo para falar, mas em princípio concentração de oferta raramente leva a redução de custo. Já tivemos isso no Brasil quando tínhamos duas empresas dominantes, a Tam e a Gol juntas, em 2008, tinham 92% do mercado. Caso essa fusão se concretize voltaremos a esse cenário."
Avião brasileira vive em “ambiente tóxico”
Para o cofundador da Azul Linhas Aéreas, a avião brasileira opera em um "ambiente tóxico" com dólar nas alturas e 60% dos custos das companhias aéreas são em dólar, combustível mais caro do mundo e tributação injusta".
"Então as companhias aéreas não são vilãs, elas não cobram R$ 2 mil para que levar ao Rio porque elas querem. É muito caro fazer aviação no Brasil. As pessoas que tem capital e interesse em entrar no Brasil estudam o mercado e falam que não é rentável", disse.
Segundo Beting, o governo poderia adotar como medida a redução do preço do combustível para a aviação. O preço do combustível representa 40% dos custos das companhias. Se houvesse a redução do preço do combustível, "a primeira coisa que elas (as companhias) fariam seria abaixar o preço das passagens", diz ele.
"Não temos razão técnica nenhuma para termos o combustível mais caro do mundo. A primeira coisa seria a redução do preço (do combustível). A segunda, a revisão do sistema tributário, que onera demais as companhias. É um cenário extremamente desafiador", analisa o cofundador da Azul.