As recentes enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul não apenas deixaram um rastro de destruição material, mas também impactaram profundamente a vida das crianças da região. 

Enquanto adultos lutam para lidar com a perda de casas, negócios e entes queridos, os pequenos enfrentam desafios ainda maiores ao tentar processar a tragédia.

Na nova realidade, brinquedos e roupas desapareceram e a água tomou conta da cidade.  O pequeno Murilo, de 3 anos, ficou confuso quando precisou deixar a casa, em Canoas. Além dos pertences, o garoto perdeu sua galinha de estimação, de quem não se desgrudava. Ela ficou na casa destruída pelas chuvas.  

"Eu não tive coragem ainda de dizer para ele:  'olha, filho a tua galinha morreu'. As pessoas dizem 'tu tem que falar', mas fala isso para uma criança que não tem mais nada", conta Daiana Klein, mãe de Murilo.

Atuando no apoio às famílias afetadas, a psicóloga Bianca Klein ressalta a importância de abordar a realidade sensível. O diálogo é fundamental, mesmo que doloroso. "As crianças percebem o mundo de uma maneira muito diferente dos adultos", explica  

Em outra família, Fernando Becker tem dois filhos, um de 2 e outro de 6 anos, e está prestes a ganhar outro. Ele foram visitar a antiga casa, que foi derrubada por um deslizamento de terra em Salvador do Sul, o que foi traumático para o menino mais novo

"A gente foi lá pra tentar tirar o que dava, minha mulher levou o menor. Não deu certo, ele chorava perguntando por que tem rachadura na terra, o que aconteceu...".

Diante desse cenário desolador, Bianca enfatiza a importância de olhar para o futuro com esperança, incentivando as crianças a sonharem e a encontrarem conforto no ato de brincar, que se torna um antídoto para o estresse e uma ferramenta para a construção da saúde mental.  

Números da tragédia

• O balanço divulgado pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul às 12h desta quarta-feira (15) não aponta alteração em relação ao número de mortos no estado em decorrência das chuvas, que segue em 149.
• Até o momento, 108 pessoas seguem desaparecidas.  
• O número de pessoas fora de suas casas passa de 610 mil
• Do total, 76.580 estão em abrigos e outros 538.245 estão desalojados.  
• Ao todo, 2,1 milhões de pessoas foram diretamente afetadas pelas enchentes em 449 de 497 municípios gaúchos.