Rogério de Andrade deixou o presídio de Bangu 8 na tarde desta quarta-feira (21) depois que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu o alvará de soltura do bicheiro. Ele estava preso desde agosto deste ano.
Andrade foi beneficiado por uma decisão monocrática do ministro Jorge Mussi, do Superior Tribunal de Justiça. O contraventor, acusado de comandar pontos do jogo do bicho no Rio e subornar policiais, além de ser suspeito de ser o mandante de vários assassinatos, não representaria um risco para ordem pública no entendimento do magistrado.
O bicheiro não ficará nem mesmo em prisão domiciliar, já que as únicas medidas cautelares previstas no Habeas Corpus são: uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento em casa durante a noite e a proibição de deixar a cidade do Rio e manter contato com outros réus.
RELEMBRE O CASO
Rogério foi preso em agosto com o filho Gustavo de Andrade (que continua na cadeia), na casa da família, em Petrópolis, na Região serrana do Rio. No imóvel, os policiais encontraram um bilhete indicando o pagamento de “merenda”, termo para propina.
Os delegados Marcos Cipriano e Adriana Belém já tinham sido presos, em maio, na primeira fase da operação Calígula. Os dois são suspeitos de receber propina para não reprimir as atividades do jogo do bicho. A investigação também apontou um vínculo entre Rogério de Andrade e Ronnie Lessa, sargento da PM apontado como assassino da vereadora Marielle Franco.
PLANO PARA SER ASSASSINADO
O ex-chefe da Polícia Civil do Rio Allan Turnowski é acusado de ser intermediário de um plano para matar o bicheiro Rogério de Andrade, de acordo com denúncia do Ministério Público. Foram interceptados áudios e conversas entre o delegado Maurício Demétrio, preso em 2021, e Allan, preso neste ano e depois liberado pela Justiça.
Em um desses áudios, Demétrio fala sobre o pagamento de R$ 3 milhões que seria dividido entre os envolvidos no plano pela execução de Rogério de Andrade. A conversa ocorreu em 2016.
“A gente deve acertar um valor aí. Três milhões? Um para cada um tá bom. Acerta logo tudo, cara. Acho que um milhão para cada um tá bom”, disse Mauríco em conversa com integrantes da organização criminosa.
De acordo com o delegado, o valor seria dividido entre ele, Allan e Marcelo José Araújo Oliveira, que é ligado a um bicheiro de uma facção rival de Rogério de Andrade.
Demétrio e Turnowski foram alvos de mandados de prisão da operação Águia na Cabeça. Ambos são acusados de envolvimento com o jogo do bicho, de receber propina dos contraventores e de passarem informações privilegiadas para grupos criminosos.
O Ministério Público conseguiu identificar três ocasiões em que Maurício tenta arquitetar o assassinato de Rogério de Andrade. A primeira ocorreu em agosto de 2017, durante uma viagem do mesmo para a Espanha.
“Fala aí Marcelo, beleza? Aquele nosso amigo vai cinco de agosto pra Ibiza. Vai passar o mês todo lá. Era interessante pensar em alguma coisa lá na Espanha, sabia? Pensa nisso, vou pensar também”.
Dias depois, Maurício tinha uma ideia de planejar um outro ataque, contra o mesmo bicheiro, dentro de um shopping.
“Aquela situação do shopping, ‘tu’ acha que é viável? O que ‘tu’ achou? Eu tava pensando, em dois ou três com farda de PM, é uma boa, né?”.
Porém, para levar o plano à frente, era preciso esperar Turnowski, vulgo ‘Israel’, voltar de uma viagem para El Salvador.
“Só semana que vem. O ‘Israel’ foi surfar em El Salvador. ‘Putz Grilla’ cara, o mundo desabando e o cara foi surfar em El Salvador.
O último plano identificado pelo MP foi em junho de 2018, quando Demétrio tentou armar um envenenamento contra o contraventor enquanto ele estava preso.
“Tudo que passa ali para alimentar o rapaz (Rogério) tá na mão do garoto, entendeu? Tem um garoto lá deles. Ele tá comendo tudo de fora e quem guarda é o cara deles, um cara nosso tá pra falar, temos que ter a resposta o mais rápido possível”.
Rogério assumiu o controle dos negócios da família, depois de travar uma guerra sangrenta pelo espólio do tio, o cappo (cabeça) da contravenção no Rio, Castor de Andrade. Uma disputa que terminou com a morte do genro de Castor, Fernando Ignácio, assassinado, há dois anos, no estacionamento de um heliporto.
Ele também estaria por trás da morte do filho de Castor, Paulinho de Andrade, ainda nos anos 90. Rogério chegou a ser condenado a 19 anos de prisão, mas o julgamento foi anulado também por ordem do Superior Tribunal de Justiça.
*Sob supervisão de Cristiano Pinho